[In Portuguese] Cartas de Toronto: O Carnaval na Neve
Não, não encontrei por aqui uma festa brazuca para espantar o frio. Muito pelo contrário. Na sexta, o casamento de duas frentes, a Alberta clipper e a Texas-low, resultou em mais de 25 centímetros de neve pelas ruas de Toronto. Como não é qualquer nevasca que espanta a gente no norte gelado, o dia de trabalho seguiu com poucas ressalvas.
Eu sou a primeira a admitir que canadense joga conversa fora falando do tempo, da previsão do tempo, do sol ou chuva que faz lá fora. Mas, ironicamente, durante as minhas idas e vindas no metrô de Toronto, percebi que são os estudantes brasileiros em programas de intercâmbio que falam pelos cotovelos das quatro estações no Canadá.
Na sexta mesmo, me peguei escutando a conversa de um grupo de brazucas indo do centro da cidade à estação Eglinton. Hora do rush e os seis adolescentes tão que tão falando da vida para quem tem ouvidos para ouvir. Juro que não estava fazendo esforço pra escutar, até porque não precisei, a empolgação era maior do que eu podia imaginar. O assunto principal da conversa? O tempo.
Da reclamação do frio (já vi dias piores) ao preço das parkas (o casaco de inverno quente que usamos por aqui), os seis conversavam sobre como o tempo no Canadá é diferente.
“Eu já vi neve, já deu,” disse uma das meninas. “Mas você não viu a primavera,” respondeu um dos garotos. Outra seguiu falando que o outono era uma das melhores épocas do ano por aqui. A unanimidade era o frio, a estação mais odiada pelo grupo.
Sigo no caminho de casa. No elevador do prédio me deparo com um casal carregando esquis para a pista de track and field da escola do quarteirão.
“É a noite perfeita para correr, não acha?,” perguntou-me a minha vizinha ao sair do elevador.
A porta fecha, olho pro maridão e digo que precisamos comprar esquis de cross-country. Ele ri e pergunta se eu não quero ir para o parque com a Ipanema fazer bonecos e bolas de neve. Ele já sabe que a resposta é positiva.
Não sei se é a minha brasilidade desaparecendo ou se aos poucos aceito que inverno é inverno por aqui. Outro dia mesmo eu era mais uma estudante brasileira fazendo intercâmbio aqui, reclamando do frio, da neve e seus incontáveis nomes sem tradução em português.
É, a gente se acostuma a tudo nesta vida, não é mesmo?
Artigo originalmente publicado em 10 de fevereiro no Blog do Noblat.