Ligeiramente grávida

Sobre os prazeres e delícias de ser a anfitriã de uma nova vida

Veronica Heringer
MadameHeringer
2 min readApr 9, 2017

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São seis da matina e meu vizinho lá debaixo não me deixa dormir. Já se passaram 32 semanas desde a ocupação do imóvel (ou seria móvel?) e eu ainda me surpreendo com a minha própria disposição em ler um livro, escrever ou fazer uma boquinha para passar o tempo. A solução é sempre a conformidade, já que as festas começam às quatro e continuam até o meio-dia. O sujeito ainda não percebeu que raving é um estilo de vida ultrapassado e um pouco auto-destrutivo.

Na verdade, esse sujeitinho está tentando explicar que eu é quem sou ultrapassada, velha. Sua atitude indica que está na hora de me substituir por um modelo novo.

Outro dia mesmo eu virava noite escrevendo teses, cheia de energia pra ir beber no bar com os amigos no dia seguinte. Dançar até cair? Uma realidade em 2001. Hoje em dia sobrevivo graças ao meu romance secreto com um body pillow que habita a minha cama. Conto os minutos para as nossas horas de prazer!

Mas como eu ia dizendo, o vizinho lá de baixo está se apropriando do meu espaço, me acorda cedo, me engorda. O puxadinho dele adentra a minha casa sem cerimônia. O grande problema é que o cara é tão gente boa que eu mesma me coloquei nesse contrato perpétuo, sem cláusulas específicas definindo o nosso relacionamento.

Nos preparamos para uma vida de encontros e desencontros, acertos e desacertos.

Nossas visitas são periódicas da maneira a vida permite. Nem sempre nos vemos, mas a presença dele é constante, parte do meu dia-a-dia. Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. Pra mim, a vida é só diferente durante esse pré-jogo… uma incógnita entre o início, a espera e a chegada.

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Veronica Heringer
MadameHeringer

1/2 Brazilian, 1/2 Canadian, Digital Strategist, proud Gen Y-er. Opinions are my own! writes @madameheringer & @halfhalf2016