Manifesto contra a arte da superficialidade

Veronica Heringer
MadameHeringer
Published in
3 min readJun 30, 2016

Tudo começou com uma renovada na fachada do blog. Um stylesheet novo aqui, uma plataforma nova ali e a persistente crise existencial de conteúdo.

Sobre o que escrever? Escrever, por quê?

Sou daquelas que não lembra de uma vida sem um alter-ego digital. Sou também parte de uma geração conhecida como digital migrants, vivo às margens da definição mas ainda lembro de uma vida sem computador, simples e desconectada. Lembro da vida com papel, caneta, lápis Faber-Castel e o caderno de perguntas. Uma competição tola analógica do inicio dos anos 90 onde meninas mediam a sua popularidade através de questionários circulados durante a aula.

Eu tive vários cadernos de perguntas. Se não me falha a memória, a média era de cinco, às vezes seis amigas respondentes. Confesso que em raras edições do tal caderno eu convencia a turma inteira a responder o tal questionário, incluindo meninos. Aposto que se eu tivesse guardado os cadernos veria que a produtividade inesperada sempre coincidia com o censo. A veia planner mostrando a cara bem cedo…

Mas o que eu gostava mesmo era de analisar as perguntas, passar horas no telefone com as cinco ou seis respondentes discutindo projeções de um futuro que nunca chegava, preferências que nos faziam únicas e especiais. O grupo pesquisado era a minha conexão com formas e experiências de vida diferentes da minha, as respostas nos cadernos eram uma forma absurda de viver várias vidas de uma só vez.

Foi por isso que comecei a blogar em 2006!

E com o blog fui influencer e celebridade local nessa vida. Dei palestra sobre criar uma comunidade online para marcas e causas. Fui capa de revista. E arrotei caviar depois de comer sardinha e dever mais do que devia no cartão de crédito.

Mas nos últimos anos, as mesmas perguntas persistem:

Sobre o que escrever? Escrever, por quê?

A espera por uma resposta foi longa mas necessária. E chegou certeira e de forma acachapante nos últimos meses:

Meus rascunhos são crônicas, escrevo para manter alguma sanidade mental. Escrevo para entender o outro, para continuar a viver várias vidas em uma só! Escrevo para lembrar-me de quem sou, para ser desafiada por quem me lê. Escrevo para enfrentar medos, para colocar o dedo na ferida, para promover cura. Escrevo pela tolerância e pelo direito de sem quem sou, na multiplicidade da minha visão liberal. Escrevo porque não posso me dar ao luxo de não escrever!

E neste novo capítulo volto ao início. Como nos velhos tempos de ICQ, espero ser descoberta, espero conhecer gente nova, espero ser questionada e desafiada por novos conceitos e idéias. Troco a fama pela liberdade de ser violentamente honesta para quem ainda tem tempo de me ler…

Photos publicadas periodicamente no Instagram.

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Veronica Heringer
MadameHeringer

1/2 Brazilian, 1/2 Canadian, Digital Strategist, proud Gen Y-er. Opinions are my own! writes @madameheringer & @halfhalf2016