A vida continua…

Um balanço sobre a Copa do Mundo no Brasil e a Pátria dos Sem-Chuteira.

Ed Marinho
Made in Brasil

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Surpresas.

Essa foi definitivamente a Copa das surpresas, seja com a eliminação da campeã anterior Espanha, ainda nos confrontos entre grupos, ou a humilhante derrota da seleção canarinho por 7 a 1 contra a Alemanha, atual Campeã Mundial.

Como pode?

Pergunta sem resposta. Sobre o jogo do Brasil, não necessariamente o fato de o vencedor ter sido a forte Alemanha nos causa surpresa. Mas o resultado, sem dúvida alguma era incapaz de ser previsto pelo mais otimista Alemão e o mais pessimista brasileiro.

EXTRA/GLOBO

Repetindo o erro.

Apesar da surra, o Brasil já sofreu mais gols em uma partida. Aconteceu em 1934, quando perdeu um amistoso para a Iugoslávia, por 8 a 4.

Rendição.

Nunca na história das Copas uma seleção havia sofrido cinco gols nos primeiros 29 minutos de jogo. O recorde anterior pertencia ao Zaire, que levou cinco em 30 minutos da Iugoslávia em 1974. Os europeus venceram por 9 a 0.

Ainda mais surpresas.

Não bastasse a derrota arrebatadora contra a Alemanha, a nossa seleção ainda deu um show neste sábado (12), salvo as vaias para Felipão no telão, Brasília estava disposta a receber a Seleção com carinho para a disputa de terceiro lugar contra a Holanda, no Mané Garrincha. Hino à capela, salva de palmas a Neymar, grito de pentacampeão e tudo mais. Tudo foi por água a baixo em dois minutos quando a Holanda marcou o primeiro dos 3 a 0 que a fez levar o terceiro lugar dessa Copa.

FABRICE COFFRINI/AFP

Pane dos 6 minutos?

Acho que não. A seleção desmascarou por conta própria a tese da comissão técnica de que o que ocorrera contra a Alemanha no jogo anterior fora uma pane de seis minutos. Em Brasília, ela se estendeu por todo o primeiro tempo, tanto técnica quanto psicologicamente. Foi uma vergonha. A Holanda mereceu o terceiro lugar.

É tetra.

Depois de 24 anos, a Alemanha conquista novamente o título de melhor do mundo. Um sonho que começou a ser construído e idealizado há 10 anos. Todo o trabalho, esforço e dedicação da Federação Alemã de Futebol para que os germânicos voltassem a ser uma potência do futebol foram mostrados durante os jogos da Copa do Mundo no Brasil e na final disputada neste domingo, contra a Argentina, no Maracanã. O sonho de ter a quarta estrela do lado esquerdo da camisa da seleção e que foi conquistado após o jovem Götze, de 22 anos e um dos integrantes do projeto alemão de renovação do futebol, balançar as redes no segundo tempo da prorrogação.

EFE

Um exemplo.

Como não lembrar do lindo exemplo da seleção Japonesa? Em sua partida na Arena Pernambuco, contra a Costa do Marfim, os asiáticos abriram o placar com um gol do atacante Honda. Entretanto, o time adversário conseguiu virar o jogo e vencer a partida por 2 a 1. Mas, nas arquibancadas, os japoneses saíram vitoriosos, pelo menos no quesito civilidade e cidadania, dando um exemplo para o mundo.

Apesar da derrota, a torcida nipônica conseguiu se destacar pela educação. Após o apito final, os torcedores presentes ajudaram a recolher em sacos plásticos o lixo produzido na ala deles nas arquibancadas, deixando o ambiente limpo e organizado. Definitivamente, um exemplo que deveria ser seguido por torcedores de todos os países.

Fandesne

Avanços.

Após muito suspense, um paraplégico deu um chute simbólico em uma bola de futebol na abertura da Copa utilizando o exoesqueleto, equipamento desenvolvido pela equipe do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. Vale ressaltar que a cena foi muito rápida, passou quase que despercebida por todos que estavam em casa ou na Arena do Corinthians. Mesmo que simbólico esses 16 míseros segundos que o Juliano Pinto levou para chutar a bola servem para mostrar ao mundo que com o devido incentivo e apoio, a ciência pode mudar a vida desses 20 milhões de paralisados mundo a fora.

Reginaldo Castro/Estadão Conteúdo

A vitória da competência sobre a malandragem.

A derrota tão chocante de nossa seleção para nós brasileiros representa mais que um simples jogo. Representa a vitória da competência sobre a malandragem! Serve de exemplo para gerações de crianças que saberão que pra vencer na vida tem-se que ralar, treinar e estudar. A gente tem que acabar com essa história de jeitinho malandro do brasileiro, que ganha jogo com seu gingado, ganha dinheiro sem ser suado, vira presidente sem ter estudado.

O legado.

O grande legado desta copa é o exemplo para gerações do futuro. Que um país é feito por uma população honesta, trabalhadora, e não por uma população transformada em parasita por um governo que nos ensina a receber o alimento na boca e não a lutar para obtê-lo.

Que nos sirva de lição.

A Alemanha ganha com maestria e merecimento. Que nos sirva de lição. Pátria amada Brasil tem que ser amada todos os dias, no nosso trabalho, no nosso estudo, na nossa honestidade. Amar a pátria em um jogo de futebol e no outro dia roubar o país num ato de corrupção, seja ele qual for, furando uma fila, sonegando impostos, matando, roubando.

Que amor à pátria é este?

Já chega. O Brasil cansou de ser traído por seu próprio povo. Que sirva de lição para que nos agigantemos para construirmos um país melhor. Educar nossos filhos pra uma geração de vergonha. Uma verdadeira nação que se orgulha de seu povo, e não só de seu futebol.

Meritocracia, isso sim.

Por incrível que possa parecer, Joseph Blatter, o poderoso chefão da Fifa, tinha razão: a sedução do futebol falou mais alto, ainda mais porque, paradoxalmente, se a Copa não apresentou nenhuma seleção inesquecível, mostrou jogos formidáveis, como uma homenagem ao país que já foi o do jogo bonito.

Como o Juca Kfouri falou, a gente tem é que ser mais realista e reconhecer os feitos dessa Copa, deixar de só julgar. É inegável que bilhões foram gastos, mas bilhões entraram de volta. É claro que a organização dessa Copa pecou e muito, comparada com a de 2006, a nossa organização baseada no famoso jeitinho brasileiro é uma vergonha.

A Alemanha em 2006 deu um show de Copa, claro, da Alemanha se espera perfeição e a Alemanha esteve bem perto disso. Do Brasil esperava-se uma catástrofe e o Brasil ficou longe disso. Porque houve a festa que se imaginava que haveria nos estádios e não houve a tensão prevista fora dele.

Contudo, na Alemanha não foram construídos elefantes brancos como os de Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília, cujas contas jamais serão pagas a não ser que ocorra mais um milagre brasileiro.

Lá não morreram tantos trabalhadores, nem caiu viaduto com duas mortes, nem se desalojou tantas famílias, nem nada custou tanto a ponto de a nossa Copa ter superado o custo dos três últimos torneios, e nenhum estádio foi invadido por torcedores, como o Maracanã pelos chilenos. Tampouco faltou luz no jogo de abertura.

Ocorre que há quem queira fazer apenas elogios e outros que só desejam criticar, todos movidos ou por cegueira partidária ou por outros interesses. Não se trata de negar o sucesso da Copa, mas de dizer que poderia ser melhor. Tudo, aliás, sempre pode ser melhor, por melhor que tenha sido.

Trata-se de não esquecer o quanto custou em vidas e dinheiro, em desalojamentos e atrasos, em remendos de última hora, uma porção de coisas para as quais os estrangeiros não estão nem aí, mas que devem preocupar os que estão aqui e que, enfim, pagarão a conta.

Por fim, a vida continua…

O Brasil ganhando ou perdendo não deixaria o ônibus menos lotado. A vitória da Alemanha não aumenta o seu salário. Que muito do que foi feito ainda vai servir, é inegável. Mas muita coisa ainda precisa ser feita, muita maracutaia ainda deve ser apurada, muita poeira que embaixo do tapete se encontra deve ser tirada. O Brasil ainda tem muito que trabalhar pra ser um campeão não só nos campos.

O dia da grande faxina está chegando, 5 de outubro. A gente tem que mostrar a nossa força e o nosso amor por esse país neste dia. Se não cuidarmos do Brasil, logo ele entrará em convulsão. Precisamos de um líder, que derrote o sistema, que derrote o fracasso atual e nos devolva a esperança e a fé, que resgate o orgulho nacional, que levante os brasileiros e ponha de pé a mãe gentil, Pátria Amada — Brasil.

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Ed Marinho
Made in Brasil

Mercadólogo, Designer, Chato e Bicha. Escrevo umas bobagens de vez em quando e posto nesse site.