Disfunção pública

Porque o tamanho importa

Marco Alves
Made In Portugal
2 min readMay 3, 2014

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Lembram-se de José Sócrates? Sim, esse que aumentou os funcionários públicos em 2009 antes das eleições para o seu segundo mandato como primeiro-ministro. E Passos Coelho? Sim, esse que está a promoter devolver os cortes que fez aos trabalhadores da função pública a um ano e meio das próximas eleições (para o seu segundo mandato).

Dentro do panorama de aperto, os funcionários públicos são dos que menos se podem queixar. É a complacência que se gera quando dificilmente se é despedido ou se vê o salário reduzido quando o desempenho é nulo. Enfim, o sistema de incentivos criados na função pública acaba por atrair e reter tendencialmente pessoas que procuram segurança. A seguir aos poderes político e judicial, a função pública é a classe mais protegida de Portugal.

Os funcionários públicos representam ~25% do eleitorado português, quando se fazem as contas aos eleitores praticantes (aqueles que de facto votam nas eleições). Com 700 mil funcionários públicos, cerca de 6 milhões de votantes e uma taxa de abstenção em torno dos 50% , temos um peso de 23% nos eleitores votantes.

Podem dizer “Esse argumento só verdade se os funcionários públicos votarem todos” e estão totalmente correctos. Lembremo-nos que os funcionários públicos são os únicos que, quando vão votar, estão a escolher o patrão e o tipo de aumento que vão ter. Nenhum de nós, trabalhadores do privado, temos esse privilégio — “eles” são de facto uns privilegiados. Os funcionários públicos têm todo o incentivo, um incentivo muito directo, de expressar o seu voto. E daí serem tratados de forma muito especial pelos políticos. Aliás, os políticos, mafiosos como são, nunca tratariam tão bem um grupo sem não tivessem fortes razões para tal.

O problema não está nos funcionários públicos, cada pessoa e profissional por si só. O problema está no conjunto. Se o número total de funcionários públicos fosse inferior a metade do que é hoje, talvez fosse suficiente para não decidir eleições e, nessa medida, não criar um enviesamento ao funcionamento da democracia e não beneficiar de um tratamento tão preferencial por parte dos políticos. Aqui, como noutros temas, o tamanho de facto importa.

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