Eu sou um gênio, sqn

Cristina Mestres
Magalu
Published in
4 min readSep 4, 2020

Para decidir se quer seguir, saiba o que encontrá nesse artigo:

- que é o efeito Dunning Kruger

- porque podemos errar feio quando avaliamos a nossas próprias habilidades

- porque às vezes podemos nos sentir tão incompetentes e incapazes

- como evitar cair da armadilha de ignorar a própria ignorância

Em 1999, dois psicólogos sociais, Justin Kruger e David Dunning, descreveram um fenômeno conhecido posteriormente como efeito Dunning-Kruger.

O efeito DK diz respeito ao quanto somos imprecisos em avaliar a extensão dos nossos conhecimentos e habilidades e frequentemente superestimamos o quanto sabemos. As pesquisas por eles realizadas, mostraram que, paradoxalmente, pessoas com menor níveis de habilidades e conhecimento num determinado assunto têm os maiores níveis de confiança em sua autoavaliação, muitas vezes mais altas do que experts no assunto.

Em outras palavras, parafraseando David Dunning se você é incompetente você não consegue saber que é incompetente. O nível baixíssimo de conhecimento e habilidades em pessoas incompetentes é exatamente o que as impedem de perceber o quão pouco sabem. Por saberem pouco sobre um assunto não fazem ideia de quais requisitos levam alguém a ser bom naquele campo de atuação. Essas pessoas sofrem de uma superioridade ilusória.

Já as pessoas com um conhecimento moderado têm menor confiança em suas habilidades porque elas sabem o suficiente para reconhecer o qual pouco sabem.

Nesse mesmo sentido, a pesquisa também indicou que os indivíduos que possuem real competência técnica têm uma autoconfiança intelectual fragilizada e subestimam seus conhecimentos.

Ficou confuso? Vamos desenhar…

O gráfico abaixo mostra a trajetória do efeito DK

O eixo y representa o nível de confiança que uma pessoa tem acerca de uma habilidade ou assunto. Já o eixo x representa o real nível de conhecimento e experiência naquele assunto ou habilidade.

Quando não sabemos absolutamente nada sobre um assunto, naturalmente temos um nível de confiança baixíssimo. Ao começarmos a aprender rapidamente temos a tendência natural de achar que já sabemos muito, elevando a nossa confiança e fazendo que a gente atinja um estado de espírito que pode ser chamado de “Pico de ilusão”. É a fase “Eu sou um gênio”. Temos alta confiança de que já sabemos tudo ou muito sobre aquele assunto e falhamos em reconhecer o quão pouco sabemos.

A grande armadilha para o desenvolvimento profissional é se dar por satisfeito e estacionar nessa fase, que apesar de ilusória (ou até mesmo por ser ilusória) traz uma sensação de conforto imediata, mas a médio prazo não se sustenta.

Contudo ao continuar estudando, começamos a perceber que na verdade não sabemos tanto assim e que ainda existe muito a ser estudado, fazendo com que o nível de confiança baixe significativamente. É a fase do “vale da desilusão” que pode vir acompanhada de uma sensação de desespero e de que jamais conseguiremos aprender ou dominar aquele assunto ou habilidade. A parte boa é que se persistirmos e continuamos estudando, o nível de conhecimento continua aumentando e consequentemente o nível de confiança volta a aumentar gradativamente

É interessante notar, porém, que as pessoas que passam por esse vale da desilusão, isso é, que sabem e percebem que não sabiam tanto quanto imaginavam jamais voltam ao pico de confiança original ilusório. Sabem mais sobre o assunto mas também sabem mais sobre as próprias lacunas e sobre a própria ignorância por isso tendem a subvalorizar as suas habilidades.

Em suma, no geral todos nós somos cegos numa certa medida das nossas reais capacidades. Isso se repete em todo lugar e ninguém está salvo.

Essa falta de consciência da nossa ignorância não acontece apenas por falta de interesse ou por não sermos bons em aceitar críticas. O efeito DK não tem haver com arrogância, vaidade ou falta de humildade.

A boa notícia é que existem algumas atitudes que podem nos ajudar a não ficar perdido no “Vale da desilusão”.

Seguem algumas recomendações:

  • Aceite feedbacks mesmo que dolorosos. Pergunte por feedback de várias pessoas sobre as suas habilidades. Se houver um padrão de resposta consistente considere seriamente o que você ouviu.
  • Coloca-se a prova. Seja corajoso para aceitar desafios que irão indicar o quanto você realmente sabe e está preparado.
  • Mantenha-se aprendendo Quanto mais você aprender mais consciência terá do que ainda não sabe.
  • Seja humilde e aceite sempre a possibilidade de estar errado. O mundo é complexo e vasto demais para sermos arrogantes. A humildade de verdade traz abertura para sempre continuar aprendendo

O conhecimento continua sendo a principal ferramenta para combater a ignorância em relação à própria ignorância.

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