Luiz Felipe Massad
Magalu
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3 min readAug 7, 2020

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O Líder do Novo Normal

Nos últimos meses, a pergunta que está tomando conta das discussões organizacionais é “o que será o novo normal?”. Tem mais chance de acerto quem se afasta de cravar um futuro claro e bem desenhado. A certeza é que as mudanças serão ainda mais contínuas e que o chamado “novo normal” está longe de ser um quadro que já podemos definir cores e formas. Há quem insista em querer ver uma “volta ao que era”, mas não há dúvida de que nada será como antes. O novo ainda se apresenta enigmático, destacando o papel dos líderes.

Sabemos que a importância das lideranças são ainda mais explícitas em tempos de incertezas. É habitual se espelhar nas figuras de maior conhecimento nesse momento, em busca de respostas e direcionamento. Seria o gestor aquela figura ilustrada em filmes hollywoodianos, que não se abalam frente às adversidades e que, no último segundo, tiram uma solução fundamental da sua própria caixola? A resposta, invariavelmente, é: não.

O momento exige um modelo completamente diferente de liderança. Para começar, precisamos descontinuar o mito de que o líder sabe tudo, as ações mais efetivas em momentos desafiadores são as colaborativas. O papel do gestor é estimular a equipe, para que todos possam trazer soluções para problemas que ainda nem sabemos que teremos, independente de hierarquia ou mesmo da função. A melhor maneira de fazer isso é se apresentar como alguém que não tem todas as respostas (aliás, ninguém tem!) e fazer perguntas, genuinamente, estimulando todos a colaborar e dando espaço para que a inovação floresça em todas as interações.

Além da postura aberta, é preciso criar um ambiente seguro, em que ninguém tenha medo de errar ou mesmo de sugerir ideias absurdas, pois elas poderão tornar-se a solução que tanto buscamos. Grupos multifuncionais são caminhos interessantes para diversificar pontos de vista e oxigenar ambientes, trazendo vivências de diferentes áreas. Para isso, é preciso definir claramente que o grupo tem o mesmo objetivo e que o exercício está longe de ser uma competição, assim é possível evitar conflitos entre os participantes.

Com isso, a qualidade dos times está intrinsecamente relacionada com a força dos vínculos criados entre líder e liderado. Essas relações tornam-se um diferencial estratégico quando são genuínas e não apenas transacionais. O colaborador estará mais aberto a contribuir e receber feedbacks quando sabe que a relação não é apenas profissional, que existe uma preocupação honesta com seu desenvolvimento e com seu momento pessoal. Esse acolhimento é importante para que os gestores entendam o momento de cada pessoa e de sua equipe e possam apoiá-los da melhor maneira possível. Outro benefício das relações mais profundas é que o gestor receberá também feedbacks mais constantes sobre como melhorar sua liderança. Quando encarado como algo construtivo, torna-se um diferencial fundamental.

Sendo assim, esta prática poderá auxiliar o líder no seu exercício de autoconhecimento. Afinal, antes de liderar é preciso se conhecer. Nada como um bom olhar para dentro com objetivo de entender emoções que estamos sentindo no momento, e quais ferramentas internas já possuímos ou precisamos desenvolver para passar por esse período. Esse movimento traz conhecimentos importantes para que o gestor consiga identificar situações que os deixam frustrados, motivados, ansiosos e todos os outros sentimentos desafiadores do ponto de vista emocional. Dessa maneira, será possível reconhecer essas emoções e criar estratégias em busca de mais equilíbrio.

Por último, mas não menos importante, o gestor precisa se mostrar vulnerável. Juntando todos os temas que abordamos aqui, a figura do líder precisa estar aberta a se posicionar como alguém que tem seus receios, que passa por momentos difíceis e que, invariavelmente, irá errar. O compromisso de dar nosso melhor é importante quando vêm desconectado da imagem do super-herói. Essa ultrapassada crença cria uma espécie de carga para o gestor e dificulta o estabelecimento de vínculos sinceros com sua equipe. O líder está na arena com todos, buscando as respostas diariamente, passando por seus ciclos de emoções, acertando e errando. O pedestal já não é mais útil.

Seja qual for o “novo normal”, precisaremos de novas maneiras de liderar. Afastado do comando/controle e do micro gerenciamento. A autonomia com responsabilidade será a base para as equipes de sucesso. É hora da gestão humanizada, da empatia e da colaboração. Vamos juntos?

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