Killer 7

José Mahon
Mahon Games
Published in
4 min readFeb 3, 2017

Estranho. Esta é a primeira palavra que vem à mente ao iniciar Killer 7. É o típico jogo experimental de uma época na qual publicar este tipo de produto era um risco que empresas como Capcom tomavam com a intenção de emplacar uma nova franquia de sucesso. O sucesso não veio para este aqui, mas isso não tira seu brilho.

Lançado em 2005 para Playstation 2 e Gamecube, esta criação de Suda 51 é famosa pela sua excentricidade.

A começar pela jogabilidade que restringe o jogador a caminhos pré definidos ao explorar os níveis abertos do jogo. Esta postura cria um certo desconforto no jogador, que só aumenta ao descobrir que não é possível atirar e andar ao mesmo tempo. Sempre que a arma é sacada, o jogo entra na visão em primeira pessoa e prende o personagem na posição que está. O desconforto é proposital, já que a ação se torna uma espécie de galeria de tiro, onde a tensão aumenta à medida que os adversários se aproximam. Como estes são invisíveis, sempre há um certo medo por não saber onde estão, até pressionar o comando que os revela. É uma faca de dois gumes muito gratificante.

Entre os tiroteios há diversos quebra cabeças. Alguns são simples, mas outros são bem cabulosos. É muito comum precisar rodar o mapa inteiro só para usar algum novo item, ou usufruir de alguma porta aberta. Vejo muitos jogadores torcendo o nariz para isso, mas a verdade é que não me incomodou muito. A travessia do ponto A ao ponto B é um caminho bem divertido.

O nome do jogo vem do personagem principal que possui múltiplas personalidades. Sete para ser exato. Cada uma possui qualidades diferentes e o jogo te permite trocá-los sempre que possível. A princípio pensei em focar em apenas um deles e terminar a aventura, mas à medida que jogava me vi precisando tentar outras estratégias. É muito bom que tenhamos esse nível de variedade.

A estória é bem sem noção. Existem alguns pontos altos, mas de forma geral é difícil de acompanhar de uma forma que faça sentido. Vindo da mente de Suda 51, eu não esperava menos. Não há muito desenvolvimento de personagem, o que é um ponto um tanto negativo, mas ao menos a narrativa ajuda a motivar o jogador. Não que eu me importe quando a jogabilidade é tão bacana.

No entanto, o ponto alto de Killer 7 é seu estilo. O design dos personagens é incrível. Dificilmente garotas japonesas mesclam tão bem com luchadores mexicanos, mas aqui é bem natural. O elenco de é bastante variado e, no maior estilo Suda 51, são totalmente desconectados de um sentido global. Sem sentido parece ser a regra para tudo aqui, e funciona muito bem. Salvar o jogo mudando os canais de uma TV não parece muito normal, mas quem liga? Até mesmo os menus são tratados com um cuidado fora do comum, mesclando perfeitamente os efeitos sonoros macabros com a loucura geral.

Porém, Killer 7 é mais conhecido pelo seu estilo visual. Um tipo de Cel Shading bastante incomum, as sombras geometrizadas, cenários clean com paletas de cores minimalistas e total falta de texturização dão um perfil totalmente único a tudo que vemos. Killer 7 é, sem dúvidas, um dos jogos com visuais mais bem compostos que eu já vi em toda a vida, logo ao lado de Wind Waker, Okami e Resident Evil Remake. Cada cena do jogo é composta com um esmero dificilmente visto, onde tudo se encaixa perfeitamente.

Tenho a versão de Gamecube, mas terminei o jogo tanto nele quanto no PS2. As edições são bem similares, mas encontrei algumas partes com certa lentidão no console da Sony, que também exibiu carregamento mais lento. Fora isso, é o mesmo jogo e você deveria jogar a versão que der na telha.

No mais, Killer 7 é o típico jogo que você ama ou odeia, mas a única forma de saber é testanto. Caso ame, chore um pouco pois provavelmente nunca veremos uma sequência, mas eu costumo dizer que alguns títulos não precisam. Este é um deles.

Esta semana estou fazendo uma série de resenha de meus jogos preferidos que utilizam visuais em Cel Shading, uma técnica que faz uso de um sistema de iluminação especial e texturas chapadas para dar um aspecto de desenho bidimensional a jogos 3D.

Uso deliberado de paleta de cores monocromáticas faz dos cenários de Killer 7 diferentes de tudo que já vimos.

Imagem de capa e rodapé por José Mahon, acervo pessoal.

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