UFSC abre campus sem estrutura em Blumenau

Estudantes enfrentam problemas com transporte e falta de cortinas, livros, faxina, laboratórios e restaurante

Zero
Maio de 2014: Maconha na boca do povo

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Reportagem: Luan Martendal

Sem Restaurante Universitário, alunos encomendam marmitas e almoçam em sala improvisada.

Era 1º de abril quando os estudantes de engenharia de materiais publicaram uma carta no Facebook com uma lista de nove problemas encontrados no campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Blumenau. Inexistência de faxineiros, a distância entre a universidade e restaurantes, mudança no horário das aulas e a ausência de alguns professores devido à greve foram apontados. De acordo com o grupo de alunos, quem não estava disposto a andar 1 km e pagar cerca de R$ 14 pela refeição, encomendava marmitas no valor de R$ 9, mas não tinha local próprio para comer.

FOTO 1: Laboratório de informática não possui rede de internet. FOTO 2: Sem cortinas nas janelas, estudantes têm dificuldade para acompanhar aulas expositivas. Um único projetor é compartilhado entre os professores.

Ao longo de dois meses, o campus de Blumenau apresentou vários problemas e alguns ainda estão sem solução: falta de cortina nas janelas, banheiros em situação precária e o preço pago pela alimentação são alguns dos obstáculos enfrentados pela comunidade acadêmica. João Rafael Balkoski, estudante de engenharia têxtil, diz que “a biblioteca contém apenas duas prateleiras de livros, não há Restaurante Universitário e cada aluno desembolsa cerca de R$ 13,50 para almoçar”. Josiane Schneider endossa as palavras do colega. “Para falar a verdade, só temos as salas de aula. Falta biblioteca, laboratórios de informática e não há convênio para almoço”. A falta de bancos para sentar também gera desconforto. “O tempo ocioso entre o fim da aula da manhã e o início do curso a tarde é grande (2h30min) e não existem muitos locais onde se possa sentar ou descansar. Não exigimos algo sofisticado, mas um pouco melhor”, comenta Victor Missfeld. Após a divulgação da carta, a UFSC improvisou uma sala com mesas e cadeiras para atender aos estudantes na hora do almoço, enquanto a licitação para terceirizar a refeição não é concluída.

Segundo alunos, a pouca estrutura da unidade é herança do Instituto Federal Catarinense (IFC). Sem sede própria, a UFSC optou por abrir o campus ainda em 2014 e firmou um termo de cooperação com o IFC e o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), de Gaspar. Procurada pela reportagem do Zero, a assessoria do IFC disse que emprestou salas à UFSC, mas não iria falar sobre a estrutura.

O IFSC vai disponibilizar uma sala com capacidade para 50 alunos e um laboratório de química para atender à UFSC, mas segundo a chefe do Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão Ana Paula Kuczmynda, a universidade ainda não ministra aulas no local. O acordo de cooperação passa a valer no segundo semestre de 2014 e tem duração de três anos, podendo ser renovado. Além do espaço cedido pelos centros de ensino, um prédio no bairro Salto do Norte foi alugado para abrigar a sede administrativa.

Ubirajara Franco Moreno, diretor da UFSC em Blumenau, admite os problemas e diz que as falhas são comuns na implantação de novos campi e que nos próximos quatro anos o campus vai receber um investimento de cerca de R$ 50 milhões do Governo Federal para manutenção e R$ 8 milhões para assistência estudantil. Esse valor não será aplicado nas instituições parceiras. Para o Pró-Reitor Adjunto de Graduação, Rogério Luiz de Souza, “o estudo para aquisição da sede própria da UFSC será finalizado em breve e a partir daí, serão elaborados projetos de construção dos prédios no segundo semestre de 2014.”

Estudantes atravessam rodovia sem sinalização para chegar ao campus.

Outro tópico nas reivindicações é a melhoria dos ônibus que passam próximo à universidade. Até o começo de abril uma única linha trafegava pelo local em três horários. Os estudantes disseram que a condução parava na BR-470 e era preciso atravessar a rodovia sem sinais de trânsito e faixa de pedestres para chegar ao campus. Desde então, a UFSC promove reuniões com o Departamento de Transportes de Blumenau (Seterb) para solucionar o problema.

Sérgio Voltolini, Gerente Operacional do Seterb, informou que no dia 13 de março o órgão enviou um documento ao Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) solicitando reforço na sinalização da BR-470 em frente ao campus. A resposta à solicitação foi encaminhada pelo DNIT no dia 7 de abril confirmando a realização de ações de sinalização através do programa ‘BR Legal’. A Seterb também afirmou que novos horários de ônibus foram disponibilizados em duas linhas urbanas e um abrigo triplo foi instalado em frente ao IFC, local onde o ônibus passou a parar desde o dia 7 de março.

As medidas, segundo Voltolini, atendem apenas as linhas comandadas pelo Consórcio SIGA, responsável pelo transporte coletivo de Blumenau. Os ônibus que fazem o transporte de estudantes das cidades vizinhas têm autonomia para decidir se aderem ou não às mudanças, fazendo com que uma parcela dos estudantes ainda precise atravessar a rodovia.

FURB mais distante de federalizar

Possível anexação entre a UFSC e a FURB foi descartada. Universidade Regional mantém esperanças de federalizar.

Ao mesmo tempo em que sanou a falta de ensino público e gratuito no Vale do Itajaí, a instalação do novo campus da UFSC em Blumenau esfriou os planos de federalização da Universidade Regional de Blumenau (FURB). A decisão para que a universidade liderasse a instalação de um polo na região partiu do Governo Federal em julho de 2011 e foi concretizada no início deste ano. A unidade começou a operar no dia 17 de março com 500 alunos matriculados nos cursos de Engenharia de Controle e Automação, Têxtil e Materiais, além das licenciaturas em Química e Matemática.

Desde sua criação em 1964, a instituição municipal tenta se tornar uma universidade gratuita. O Movimento Pró-Federalização da FURB ganhou corpo nos últimos 12 anos com projetos que já passaram pelo Ministério da Educação (MEC), Câmara dos Deputados e pelo Senado. O último revés ocorreu em 2013 após uma série de reuniões envolvendo a UFSC e o Governo Federal, em que uma possível anexação entre as instituições foi descartada.

As reuniões da FURB com a UFSC iniciaram em 2011 quando Álvaro Prata ainda era reitor da universidade. Para o professor Clóvis Reis, líder do movimento pró-federalização, as negociações estagnaram quando a gestão de Roselane Neckel assumiu a administração da UFSC. “Essa gestão não criou condições políticas para que fosse possível avançar no processo de federalização, as barreiras foram criadas em Brasília e a UFSC não ajudou a derrubá-las.”

De acordo com o Pró-Reitor Adjunto de Graduação da UFSC, Rogério Luiz de Souza, a nova gestão continuou os trabalhos iniciados por Prata e contabiliza mais de dez reuniões com membros da FURB entre maio de 2012 e meados de 2013 discutindo uma possível parceria e a possibilidade de federalização da instituição. “O tema esgotou após o esclarecimento do governo sobre impedimentos jurídicos referentes à FURB”, declarou.

O principal motivo para o impedimento ocorre devido a cobrança de mensalidade. Clóvis Reis é contra a decisão por entender que “a FURB é tão pública quanto à UFSC de fonte legal, a diferença é que alguns serviços públicos são cobrados. A Celesc e a Casan, por exemplo, são instituições públicas, mas nem por isso a luz e a água são distribuídas de graça.” De acordo com ele, a UFSC rompeu o diálogo com o movimento em pleno processo de negociação. Em contrapartida, a Administração Central da UFSC publicou um ofício em abril de 2013 se isentando das decisões e afirmou que atendeu ao que foi determinado pelo governo. “Lamentamos a decisão no sentido de que poderia ter avançado mais, uma estrutura de cinco campi estaria à disposição deles. A vinda da UFSC mostra que sensibilizamos o governo para a importância de uma instituição pública e gratuita na região”, concluiu.

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