CRÍTICA | Freddy vs Jason: Incompreendido ou datado? — Mais Horror

Hoje é dia de analisar essa belezinha e tirar a dúvida: É realmente ruim?

Fernando Menegatti
Mais Horror
7 min readJul 9, 2020

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O ano é 2003, eu tinha 2 anos e ainda não esperava passar tanta raiva assistindo o remake de Halloween… mas mais importante: foi o ano de lançamento dessa peça sofrida que é Freddy Vs Jason. Esperado desde uma certa luva com lâminas fez cameo em Jason Vai Para o Inferno o embate dessa dupla passou por muito buraco antes de tomar forma. Roteiros e roteiros descartados (incluindo uma ideia bem escrachada de uma competição de quem mata mais para agradar satanás) e muitos (MUITOS) anos para ser realizado. Dado esse contexto você, meu querido desencarnado, pergunta “Deve ter sido um estouro quando finalmente saiu, não é mesmo?” E eu te responderia sim… Se fossemos levar em conta apenas a bilheteria bem rechonchuda que contabilizou ao fim. A crítica não olhou com os melhores olhos do mundo para o filme, com uma média bem morna de 41% no Rotten Tomatoes, o filme até hoje divide opiniões.

Mas vamos aos fatos e parar de lero lero, afinal estamos todos aqui pra isso…17 anos depois do lançamento eu estou aqui para te dizer: Veja esse filme outra vez IMEDIATAMENTE. Vamos por partes, obviamente, vou apresentar os pontos pelos quais não devemos fazer um julgamento tão duro com esse duelo de titãs.

A premissa exala o ridículo

O mais importante para categorizarmos Freddy Vs Jason é admitirmos uma coisa: F vs J é um filme deliciosamente ridículo. Quem espera ver um Poderoso Chefão de um filme que junta duas personalidades que já foram do inferno ao espaço (literalmente) já começou trocando os pés pelas mãos. Todo mundo que pega um filme desse pra ver só quer duas coisas: ser entretido por uma hora e meia e ver muita gente morrendo de formas absurdas e, meu desencarnadinho, vamos ser francos… o filme entrega isso de forma maravilhosa. Tem Jason flamejante, Freddy se transformando numa versão creepy (essa parte realmente me deixa tenso) da lagarta de Alice no País das Maravilhas, tem pesadelos sangrentos e machetes partindo cabeças… só por esse ponto eu já poderia encerrar a matéria, na minha opinião o filme completou seu objetivo aí, mas vamos adentrar um pouco mais no cerne dessa jóiazinha maltratada.

Os visuais dos personagens título são os melhores que as franquias já tiveram

É isso mesmo que você leu: Os melhores visuais. Uma das coisas que mais me encanta nos slashers (principalmente no Jason) é como os designs evoluem com o passar do tempo, não é absurdo dizer que todo mundo tem a sua maquiagem favorita do Freddy, ou sua máscara favorita do Jason. Dito isso, observe o que quero dizer aqui: o carinho que o design de produção teve nesse filme é primoroso… unindo as melhores partes de cada personagem para construir maquiagens e figurinos modernos, palpáveis e EXTREMAMENTE bem feitos.

No Freddy você observa uma união da simplicidade que ele tinha em Hora do Pesadelo com um aspecto repulsivo que foi construído em Hora do Pesadelo 2. Eu costumo elencar o Freddy Krueger de F vs J como o visual definitivo do personagem, ele é simplesmente a essência construída em anos materializada fisicamente.

No Jason a história é levemente diferente, mas mesmo assim não deixa de ser ótima. Houve aqui uma modernização (e de certa forma uma reconstrução) do traje do personagem. Não há a marca de machadada no canto superior da máscara, não há a parte parcialmente exposta de seu rosto cadavérico e não há nenhuma daquela bagunça visual de Jason Vai Para o Inferno, no lugar disso há um Jason que se mostra uma lenda viva. Vestindo uma espécie de jaqueta e uma máscara de hóquei surrada, o design grita para você “Esse cara passou por muita matança não vista nas telas” , o olho parcialmente fechado é um toque de leve para lembrar a face deformada por trás da máscara… e o mais importante disso tudo: Funcionou maravilhosamente. Em 80% das matérias sobre o Jason por aí as imagens que usam vem do visual de Freddy Vs Jason, justamente por se conectar de modo mais interessante ao mundo moderno.

Criatividade e liberdade em primeiro lugar

Antes de começar a falar sobre isso em específico eu quero trazer algumas cenas para ilustrar o meu ponto aqui:

Poucos espaços dentro do cinema podem exercer tanta liberdade criativa quanto no terror… em Freddy Vs Jason isso fica muito claro. A melhor coisa aqui na minha opinião é: os idealizadores conseguiram traçar uma linha muito bem feita entre o humor sombrio e o horror visual. Freddy Krueger se destaca com alguns dos melhores pesadelos desde a parte 3 da saga.

A competência é presente de forma clara quando temos a cena em que é mostrado o interior da mente de Jason. É ali que nos deparamos com algo muito insano e bem pensado: o cenário construído é a caracterização mor do que é o personagem. Temos ali um mundo de trevas, uma versão do Camp Crystal Lake completamente distorcida, dentro da cabana de Jason temos um armário onde ele lança corpos numa espécie de dimensão aquática. Essa cena diz muito sem precisar de diálogos expositivos: temos uma máquina de matar aqui, ela faz sua vingança como rotina e vê o mundo como seu playground sádico.

Mas de longe a melhor coisa em F vs J é como eles conseguem construir uma nostalgia misturada com uma sensação de um universo compartilhado e que passa pela opressão de Jason e Freddy por anos. É como se houvesse muito mais ali do que os filmes solo dos assassinos mostraram (sem falar nos enquadramentos, paletas de cores e fotografia que são maravilhosos se comparados à outros slashers).

Respeita a essência dos personagens

Um problema com remakes no geral é a questão de cuspir na essência dos personagens. Veja bem, não há nada de mal em fazer algo completamente diferente da obra original e trazer novos ares (na verdade isso é ÓTIMO), mas que seja respeitando as origens. Freddy vs Jason como sequência direta dos acontecimentos dos filmes faz isso de forma perfeita, mesmo não tendo Wes Craven e nem Sean S. Cunningham ligados diretamente ao filme. Não tentam forçar aqui um Jason que desde a infância foi um psicopata que matava animais (aprenda Sr. Zombie), muito menos um Freddy Krueger que era um dos monitores que deixou o Jason se afogar (como era uma das ideias originais para o filme), preferiram fazer de um jeito que honrasse quem os personagens eram… preferiram optar pelo simples, mas mesmo assim mirabolante. Freddy é um assassino que em primeiro lugar é inteligente, usar Jason como seu lacaio (Se passando pela única figura que ele respeita: a mãe do brucutu) sabendo que ele vai matar, ao mesmo tempo que usa pesadelos pra disseminar a ideia de que ele é o responsável por aquilo… é algo que só o Krueger faria rsrsrs, e isso é perfeito. Por fim o melhor motivo para o duelo de titãs TEM que ser um: MORTES (e esse é o próximo e último ítem)

Gore pra quem te quero

Qual a parte mais importante num filme de dois assassinos em série? Protagonistas profundos? Uma trama complexa? Não, não e não. O mais importante num crossover slasher é a VIOLÊNCIA… E eu vou dizer: quem como eu tem um carinho especial por esse filme, tem um prato cheio de vísceras. É difícil enumerar a quantidade de cenas memoráveis relacionadas a mortes que temos nesse filme. Desde dobrar uma pessoa como uma folha de papel até perfurar um morto vivo com vigas de aço… Brutal. O caminho até o clímax sádico é salpicado de sangue para no fim despejar tudo na sua cabeça. Sinceramente chega a dar dó do Jason, o cara é picotado… mas quando revida é de perder a cabeça (quem viu o filme vai entender rsrs) enfim… ele entrega tudo que promete nesse quesito.

Com todos esses pontos eu concluo que na minha visão Freddy Vs Jason chegou numa época que não o tratou como merecia. Uma carta de amor aos fãs, o filme envelheceu muito bem apesar das coisas bregas de 2003 que marcam presença. Com toda a certeza o meu maior sonho como fã é ver uma continuação desse que foi o meu primeiro contato com o terror.

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Fernando Menegatti
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