DOC | Você conhece os Video Nasties? Fique por dentro dessa polêmica e veja a lista completa das produções banidas — Mais Horror

Jason Wolf
Mais Horror
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7 min readMay 22, 2020

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Hoje em nossa série documental, você conhecerá um dos capítulos mais famosos da censura mundial aos filmes de terror.

“PROÍBAM AGORA OS VÍDEOS SÁDICOS”

Nosso gênero sempre esteve a mercê da censura. Nos EUA, a MPAA (Motion Picture Association of America) dificultava as classificações etárias caso as cenas de nudez e violência não fossem retiradas ou amenizadas. Se um filme por exemplo, recebesse uma classificação X, não perderia ser vinculado na mídia, não poderia exibir trailers na TV, ou anunciar em revistas, tendo assim uma bilheteria fraca com a falta de divulgação.

Casos como O Massacre da Serra Elétrica, Sexta-Feira 13: Parte 2, Dia dos Namorados Macabro, Natal Sangrento, principalmente o Leatherface — O Massacre da Serra Elétrica 3 que obteve tantos cortes que acabou perdendo sentido, ficaram famosos com a quantidade de cenas que tiveram de ser alteradas ou cortadas de vez dos filmes.

Aqui, a ditadura (1964 a 1985) ordenava o que deveria ser bom para ser exibidos nos cinemas e lares brasileiros. Vários filmes foram proibidos, dentre eles, Ritual de Sádicos (1969) do nosso querido José Mojica Marins que saiu direto da edição para a censura e por lá ficou, e até hoje é inédito nos cinemas do Brasil.

Um dos capítulos mais famosos dessa censura mundial aos filmes de terror é o chamado Video Nasties, termo associado ao pânico da censura no Reino Unido durante a popularização do vídeo cassete no fim da década de 1970 e no começo da década de 1980.

Quando o vídeo cassete surgiu no Reino Unido, começou a febre pelas fitas VHS, pois só existiam 3 canais de televisão na época e essa novidade significava a falta de regulamentação da censura.

“Isso faz lembrar um pouco a falta de representação das videolocadoras no Brasil no inicio do vídeo cassete aqui. Como não havia produção nacional, os donos das primeiras locadoras compravam os filmes de fora, legendavam (as vezes nem isso), copiavam e alugavam as fitas piratas. Isso até a criação da UBV — União Brasileira de Video em 1983. Hoje: UBV&G — União Brasileira de Vídeo e Games.

As distribuidoras aproveitando a oportunidade, fizeram anúncios publicitários de vários filmes como: O Assassino da Furadeira (The Driller Killer, 1979) provocando a imprensa moralista.

Propaganda de O Assassino da Furadeira (The Driller Killer) que deu inicio a perseguição.

Então adivinhem no que deu?

“PESADELO” — “O Assassino da Furadeira e Devorado Vivo. Dois dos Nasties assistidos por nossas crianças. “ — “A baixo, há uma tabela do top 10 dos Nasties assistidos por porcentagem de telespectadores crianças.”

Os jornais começaram a espalhar a ideia de que os filmes de terror acabariam com a moralidade da população, o que acabou fazendo com que as autoridades intervissem e procurassem filmes que violassem o Obscene publications Act, Lei de Publicações Obscenas de 1959.

“ESTE VENENO ESTÁ SENDO COMERCIALIZADO COMO ENTRETENIMENTO DOMÉSTICO” — “Este não é outro exemplo do que os liberais chamam de “histeria da imprensa”. Uma recente pesquisa realizada por duas revistas especializadas mostrou que 60% dos apaixonados por vídeo preferem ver filmes de terror e ficção cientifica.”
“VIDEOS SÁDICOS CONTINUAM A SER VENDIDOS LIVREMENTE” — “Fitas SÁDICAS de terror classificadas como obscenas continuam a ser vendidas livremente por comerciantes prontos a desafiar a lei.”

Com a polícia divergindo entre o que seria ou não classificado como obsceno, o Ministério Público elabora uma lista de 72 títulos que poderiam ser processados. Dos 72 filmes, 33 foram liberados por não terem acusações suficientes para serem levados aos tribunais.

“OS VÍDEOS NASTIES SERÃO DESTRUÍDOS” — “Ontem, duas fitas que contêm cenas de tortura e mutilação (O Assassino da Furadeira e Devorado Vivo) receberam ordem para serem destruídas.”

Chega então em 1984, a lei Video Recordings Act (VRA) que seria de responsabilidade da British Board of Film Classification (BBFC),o que a tornava responsável pela classificação de todos filmes lançados em VHS. Os filmes lançados antes da VRA foram reenviados para nova classificação, e a implementação dessa lei impôs um código de censura mais rigoroso do que o necessário. A BBFC impôs proibições e cortes adicionais a filmes como O Massacre da Serra Elétrica, por exemplo. Com ela, os filme da lista dos Video Nasties poderiam ser processador por conter obscenidade ou por obterem classificação X. Assim, várias produções de estúdios importantes como Laranja Mecânica e Apocalipse Now (pensaram que seria outro nome dado ao filme Cannibal Apocalypse) foram proibidas de serem lançadas em vídeo, pois se enquadravam no escopo da lei projetada para controlar 100% da distribuição dos Videos Nasties. Esse Ato acabou também condenando os distribuidores independentes, pois aumentava e muito os custos dos lançamentos dos filmes em VHS.

Video Nasties x Imprensa x crimes

Obviamente que a imprensa se aproveitou de crimes de grande repercussão da época, e assim, começaram as reivindicações especulativas sobre a proibição dos filmes. Alguns exemplos foram o Hungerford Massacre onde em 1987, Michael Robert Ryan aleatoriamente, assassinou a tiros 14 pessoas (uma delas a própria mãe) e tirou a própria vida em seguida. A imprensa afirmava categoricamente que o massacre havia sido causado pela violência contida nos filmes.

“O DIA DO MANÍACO”
“MASSACRE — RAMBO SE SUICIDA”
“ELE ERA O FILHINHO DA MAMÃE… ESTAVA MAIS PARA BAMBI DO QUE PARA RAMBO”

O Monkseaton shootings onde em 30 de abril de 1989, Robert Sartin assassinou 1 homem e deixou 14 feridos durante um tiroteio de 20 minutos.

“EU OUVI A VOZ DO MICHAEL NA FITA” — “Foi informado ontem perante ao júri, que o atirador Robert Sartin foi ordenado a atirar por uma voz vinda de um Video Nasty.
FITAS ARREPIANTES REVELAM LOUCOS ASSASSINOS — “Robert Sartin informou ao tribunal que era obcecado por Michael Myers, o vilão da franquia de filmes Halloween.”

E o caso de Jamec Bulger de 2 anos de idade que foi assassinado por Robert Thompson e Jon Venables. Ambos com 10 anos de idade na época, 1993.

“COMO VOCÊS SE SENTEM AGORA, SEUS CANALINHAS”

A imprensa também afirmava que o assassinato de James Bulger teria sido influenciado pelo filme Brinquedo Assassino 3 (1991), que segundo investigações, teria sido alugado alguns meses antes do crime pelo pai de Jon Venables, um dos assassinos. O que acabou levando a proibição do filme Mickey (1992) no Reino Unido.

“REPRISE ARREPIANTE DA FITA DE TERROR DO PAI” — “Há similaridades entre as cenas de horror do filme Brinquedo Assassino 3 e o assassinato do pequeno James.”
“TERIA ESSA FITA GROTESCA INSPIRADO UM GAROTO A MATAR?” “Um filme de terror alugado pelo pai de um dos assassinos pode ser a chave do assassinato brutal de James.”
“QUEIMEM ESSA FITA MALDITA”
“BANIDO” — “GRAÇAS AO SEU DAILY MIRROR” — Reportagem sensacionalista, pois o filme não foi banido no Reino Unido.

Em dezembro de 1997, a BBFC afirmou a público que “Nunca relaxou as diretrizes sobre a violência nos filmes, e que suas leis continuavam sendo as mais rigorosas no mundo.” Mas no entanto, o conselho acabou afrouxando um pouco a lei em resposta à consulta pública no ano de 2000. A saída de James Ferman, secretário do conselho da BBFC também acabou permitindo a reavaliação de filmes que estavam proibidos desde o inicio da lei.

Assim, em 25 de fevereiro de 1999, O Exorcista (1973) recebe pela primeira vez, classificação para maiores de 18 anos e é lançado sem cortes. Em agosto do mesmo ano, O Massacre da Serra Elétrica (1974) também recebe a mesma classificação.

Notícia da BBC News sobre a estreia de O Exorcista na televisão dia 17 de março de 2001.

No inicio dos anos 2000 vários Video Nasties acabaram sendo exibidos em suas versões sem cortes, ou com cortes restritos à violência sexual ou aos maus-tratos de animais. Filmes violentos mais recentes como O Albergue e Jogos Mortais acabaram sendo liberados para sem cortes.

Em 2008, houve mais um frenesi da imprensa em relação aos filmes que foram liberados pela BBFC no inicio dos anos 2000. especificamente o Nazi exploitation — SS Experiment Love Camp de 1976. Que acabou coincidindo com a tentativa dos parlamentares Julian Brazier e Keith Vaz de aprovar uma lei que permitiria a eles, maiores poderes para restringir novamente as diretrizes da BBFC ou a possibilidade de criar recursos contra a liberação dos filmes. A lei não acabou sendo aprovada.

No entanto, o governo do Reino Unido aprovou uma lei que criminaliza a posse de “pornografia extrema”, e embora os filmes classificados pela BBFC estivessem isentos dessa legislação, as fotografias desses filmes não estão. Quem fosse pego com fotografias dos filmes poderia ir para a prisão. O Albergue 2 (2007) se encaixa nessa lei, pois foi lançado sem classificação.

Existem vários livros e documentários que abordam os Video Nasties. Nós separamos alguns desses docs. para apresentar a vocês. Alguns dá pra baixar na net.

Ban the Sadist Videos Vol. 1–2005
Ban the Sadist Videos Vol. 2–2006

Video Nasties: Moral Panic, Censorship & Videotape — 2010
Video Nasties The Definitive Guide Part 2 — 2010

Video Nasties (Forbidden Horrors & Dirty Synth Scores) — 2018

VHS NASTY — 2019

Nas próximas postagens, a Mais Horror mostrará um por um dos 72 filmes da lista de Video Nasties em ordem alfabética com títulos originais e em português (dos que foram lançados aqui), o formato de mídia que saíram, sinopses e trailers pra vocês saírem a caça e assistir a todos. Fiquem Ligados!!!

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Texto e pesquisa da série Video Nasties são de minha autoria. Qualquer reprodução do texto integral ou parcial sem autorização do responsável é expressamente proibida.

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Jason Wolf
Mais Horror

Viciado em horror desde os meus tenros 6 aninhos, colecionador desde os 12. Sou da época q a gente pagava multa na locadora por devolver a fita sem rebobinar.