ENTREVISTA | Cesar Bravo, o autor de VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue — Mais Horror

Jason Wolf
Mais Horror
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9 min readMay 31, 2020

Cesar conversou com a gente sobre seu inicio, inspirações e projetos futuros.

Cesar Bravo paulista de Monte Alto inciou sua carreira profissional em 2011 escrevendo em um grupo de escritos no Facebook chamado CLAE. Esse grupo também editoriava a revista As Flores do Mal, onde o autor publicou vários trabalhos que acabaram lhe dando visibilidade. Sua primeira publicação foi 2012 pela editora Multifoco, onde participou da coletânea The king. Em 2013, lança Calafrios da Noite e Caverna de Ossos. No mesmo ano, o autor ganha o Prêmio FNAC Novos Talentos da Literatura. Em 2014 publica Navio Negreiro e Além da Carne — Contos Insanos (percursos de Ultra Carmem) e Ouça o que eu Digo em 2015.

DARKSIDE BOOKS

Em 2016, Cesar foi apresentado como parte do time de escritores nacionais que fariam parte do time DarkSide. Dessa parceria, 3 títulos foram publicados. Ultra Carmem em 2016, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue em 2019. Ele também fez a primeira tradução para o português de “The Dark Man: O homem que habita a escuridão”, poema ilustrado de Stephen King que deu origem ao seu mais icônico vilão, Randall Flagg. Recentemente, Cesar organizou a Antologia Dark, obra que homenageia o universo de Stephen King e conta com as principais mentes por trás do gênero no Brasil. Este livro está com lançamento previsto para 20 de junho de 2020.

Cesar é uma pessoa muito carismática e acessível, e nos deu a honra dessa entrevista.

Primeiramente, muito obrigado por ceder seu tempo para a nossa entrevista para o Mais Horror!

C.B. — Dividir algum tempo com um trabalho de qualidade como o do Mais Horror é um investimento, eu que agradeço pela oportunidade de aparecer por aqui.

Somos cobrados desde cedo a sermos profissionais bem-sucedidos na área que escolhemos. Você se formou em farmácia uma, profissão que tem “tudo a ver” com a literatura. Quando se ama algo, você não vira, você se transforma. Como foi essa transformação de seguir para a literatura?

C.B. — Acho que ainda está sendo, rs. Para ser bem sincero, acredito que a arte passou um longo período de dormência em mim. Quando criança, sempre fui extremamente criativo e imaginativo, essa sempre foi minha essência. Na adolescência, minha vida tomou rumos estranhos, e no início da vida adulta me vi desempenhando funções onde nunca fui tão bem-sucedido quanto na literatura. A principal transformação que sinto hoje em dia é poder olhar para o dia anterior e pensar: ‘Taí, valeu muito a pena estar vivo’.

Como se iniciou a sua paixão pelo terror e quais são as suas inspirações na escrita?

C.B. — Minhas primeiras memórias de infância já traziam essa vontade de consumir horror. Me lembro claramente de algumas novelas com lobisomens, naves espaciais e conversas com espíritos. Depois, me lembro de alguns filmes que eu não podia assistir em minha casa, porque ainda era muito jovem. Como nunca fui bom em obedecer a regras, eu saía às escondidas e assistia filmes de horror na casa de amigos. Claro que as noites eram difíceis, ainda mais com minha imaginação fértil. Apesar das imagens horríveis que minha mente projetava no quarto, a insônia assustada só servia para me impulsionar ainda mais, eu queria saber o que existia ali, o que era capaz de embutir tanto medo. A literatura veio mais tarde, e chegou a mim com a mesma potência. Atraído pelo que via nos filmes, eu queria ir mais fundo. Quando conheci Stephen King, minha bússola mudou irreversivelmente, e passei a devorar tudo o que era estranho ou assustador, de Clive Barker a discos do Black Sabbath, de livros de magia cigana a H. P. Lovecraft. Tenho meu quarteto fantástico na escrita com Edgar Alan Poe e os já citados Stephen King, Clive Barker e H.P. Lovecraft. Para mim, boa parte do que me atrai na escrita se deriva desses quatro autores.

Cite seus 3 livros e filmes de terror favoritos

C.B. — Essa resposta nunca é mesma, porque mudo de preferência com alguma frequência. Aí vai a lista de hoje!

Livros: Coleção Livros de Sangue (Clive Barker), Sombras da Noite (Stephen King) e H.P Lovecraft (Contos Reunidos do Autor).

Filmes: Cemitério Maldito (Pet Sematary — Mary Lambert, 1989), A Volta dos Mortos Vivos (The Return Of The Living Dead — Dan O’ Bannon, 1986) e Eles Vivem (They Live — John Carpenter, 1988).

Espera que alguma de suas histórias vire filme?

C.B. Gostaria muito, e inclusive tenho dedicado boa parte do meu tempo para que isso aconteça o quanto antes. Recebi propostas de adaptação para meus dois trabalhos publicados na DarkSide (Ultra Carnem e VHS), mas ainda não chegamos a uma conclusão sobre a melhor maneira de fazer isso. Um filme, sobretudo de horror, requer um conhecimento técnico avançado, ou então estamos fadados a repetir filmes que jamais alcançaram o potencial que mereciam. Também trabalho em coautoria com outros criadores de conteúdo, então, o futuro promete bastante.

Você começou a escrever no grupo de escritores, posteriormente partindo para a revista As Flores do Mal e depois para as editoras. Seu processo de escrita mudou conforme você evoluiu e foi adquirindo experiência profissional, ou ele permanece o mesmo e são as ideias que se expandem?

C.B. — Acredito que todo escritor iniciante precisa encontrar sua própria voz. No passado, nos meus primeiros textos pra lá de amadores, eu consigo identificar um estilo próximo aos autores que eu lia. Com o tempo isso mudou, e depois de descobrir minha verdadeira linguagem, meu quintal, meus trabalhos se tornaram mais maduros e interessantes aos olhos dos leitores. Flores do Mal e os meus amigos do C.L.A.E. foram importantíssimos em minha carreira, são pessoas que me ajudaram nos primeiros passos e sempre que posso os mantenho por perto. Já as ideias se expandiram absurdamente, e muito dessa mágica eu devo a DarkSide books e aos novos parceiros que a editora me trouxe. Com uma edição mais fina, também aprendi a acessar melhor minhas gavetas, a pegar esse ou aquele sentimento sem a necessidade de vivenciá-lo fora das sessões de escrita.

Você é de Monte Alto, interior de SP onde há várias lendas e causos que enriquecem a literatura nacional. Se você fosse de uma Megalópole como a capital, isso influenciaria em sua escrita? Você prefere escrever sobre lugares mais tranquilos ou sobre o que acontece no meio da “muvuca”? Já mesclou alguma lenda de sua cidade em suas histórias?

C.B. Nasci em Monte Alto, mas atualmente vivo em Taubaté-SP (também no interior). Até os 25 anos, minha vida foi dividida em pequenos blocos, onde a cada três anos morávamos em uma cidade diferente. Passei muitos anos no Noroeste Paulista, que é onde boa parte das minhas histórias se passa. As influências são extremas, em meus textos estou sempre acessando e subvertendo a realidade. Já escrevi histórias que se passam em cidadezinhas, em capitais, em cemitérios, presídios; até no Inferno (um dos meus lugares preferidos, rs). Em meu livro VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue, existem algumas histórias que se basearam em fragmentos da vida real. O cara que decide amputar a perna na linha do trem, por exemplo: aquilo realmente aconteceu. Gosto muito de locar meus textos em cidades menores, o ambiente do interior ainda me soa mais rico quando o foco da história é um horror mais voltado para o sobrenatural.

Vivemos numa realidade onde 30% da população nunca comprou um livro e os 70% restante leem em média 2,43 livros por ano. Como é escrever em numa cena como essa?

C.B. — A única forma de encarar esse drama é lutar diariamente, sem descanso, para mudar esse cenário. A ampliação, e em alguns pontos a construção de um mercado pode ser complicada (principalmente de horror), mas muitos autores já enfrentaram essa pedreira e tiveram êxito, em outros países. Uma coisa que sempre pontuo nessa pergunta é: o que é bom, vende; um bom produto sempre encontra um caminho (se não aqui no Brasil, encontra lá fora, onde os mercados estão ávidos por histórias originais). Além disso, se eu não acreditar (mesmo com esse governo nojento) que as pessoas possam evoluir educacionalmente, socialmente e culturalmente, não vejo motivos para continuar respirando.

Vemos constantemente o cinema de terror nacional sofrendo com preconceito dos espectadores. Isso também acontece na literatura de terror?

C.B. — Acontecia bem mais no passado. Nos últimos anos, os leitores estão se interessando pelas obras nacionais que caminham em pé de igualdade com o que vem lá de fora. Se você oferecer uma boa história, um bom projeto gráfico e uma edição primorosa, os leitores vão se interessar da mesma forma, e são eles que levarão o livro mais longe, dividindo suas impressões, o que sentiram durante a leitura. O que me parece errado é culpar os leitores por não se interessarem por uma história frágil, nada original, que ainda vem embalada em uma edição sem graça. Nesse caso a culpa é dividida entre autores e editoras.

Se você pudesse voltar no tempo e deixar uma mensagem no para o seu eu de quando estava indeciso por qual caminho tomar. O que você diria?

C.B. — Acho que eu não atrapalharia, rs. Acredito piamente que cada pedaço do passado é fundamental na construção do presente. Isso inclui minhas ansiedades, dilemas, sofrimentos e perdas. Eu talvez deixasse um bilhete anônimo com palavras doces como “Fique firme, desgraçado! Vai valer a pena!”, só pra me divertir comigo mesmo. Para alguém que escreve sobre o que conhece, eu precisei, inclusive, queimar os pés no Inferno para falar sobre ele. Conheci misérias e passei noites em claro, e sem elas, preciso admitir que eu não seria quem sou hoje.

E para finalizar, dê uma dica para quem está começando agora a escrever e não sabe que caminho tomar.

C.B. — Escreva. Escreva muito. Escreva o tanto que for possível e tente escrever mais no dia seguinte. Quando reler e pensar “Ok, isso aqui tá foda!”, é hora de mostrar a alguém. E escolha alguém que não tenha motivos pra te agradar. Depois, se ainda estiver confiante, coloque seu livro à venda por seus próprios meios (e-book, se você for um autor iniciante duro como eu era) ou em uma plataforma como o Wattpad. Ofereça seus livros (de graça!) a quem pode ajudar, e aqui incluo as centenas de blogs e vlogs que prestam um trabalho enorme à literatura. Com o tempo, um novo escritor terá uma base razoável de leitores. É nesse ponto que o seu telefone toca. Você tem autoconfiança, fez a lição de casa e tem um público que defenderá seus livros com unhas e dentes. Foi o que funcionou para mim, exatamente nessa ordem.

Meus amigos, adorei bater esse papo com vocês. Deixo meu abraço a todos e meu agradecimento especial ao Jason Wolf, que vem fazendo um trabalho excepcional para o gênero.

A Mais Horror deseja todo sucesso ao Cesar e a seus futuros projetos, pois estaremos aqui para compartilha-los. Você pode seguir o Cesar no Instagram e se você quiser adquirir algum dos seus livros, é só entrar na Amazon br!

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Jason Wolf
Mais Horror

Viciado em horror desde os meus tenros 6 aninhos, colecionador desde os 12. Sou da época q a gente pagava multa na locadora por devolver a fita sem rebobinar.