RESENHA | A punição e a culpa religiosa em Saint Maud — Mais Horror

Bruna Galvanese
Mais Horror
Published in
4 min readMay 14, 2021

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Do céu ao inferno!

É meus horríveis, a A24 tá com tudo e mais um pouco! Cada vez mais a gente fica impressionado com a quantidade de coisas boas que eles conseguem produzir, e Saint Maud é mais uma dessas ótimas e reflexivas obras.

Eu assisti essa coisa maravilhosa tem umas duas semanas e eu deveria ter tirado uma selfie no fim da bagaça, de tão impressionada que fiquei.

Essa produção estava sendo mega aguardada por nós, amantes do terror, e na minha opinião ela conseguiu superar todas as expectativas que tínhamos (falo por mim mesmo, que nos últimos anos só fiquei dessa forma após assistir Hereditário).

Agora contando um pouco da história pra vocês, o longa é a estreia da diretora Rose Glass (antes só havia feito curtas). E olha, se a pessoa conseguiu estrear dessa forma, meus amigos, podemos esperar um futuro promissor dessa jovem cineasta (e como tem diretora boa de filme terror surgindo, gente?! A BruBru aqui fica só felicidade s2).

Rose consegue trazer pra gente uma narrativa feminina bem pesada e densa, com críticas duras ao fanatismo religioso e tudo o que leva a esse extremo.

Maud é uma mulher solitária. A impressão que me passa é que ela se sente vigiada e perseguida o tempo todo, por algo divino ou talvez pela sua própria e perturbada cabeça. A personagem, que é vivida pela incrível Morfydd Clark, é uma enfermeira que começa a trabalhar na casa de uma ex-bailarina profissional chamada Amanda (Jennifer Ehle) que infelizmente está com câncer terminal.

Para nós é mais um trabalho comum na vida de Maud, mas pra ela era o começo de sei lá, talvez um chamado de Deus…

ATENÇÃO! A partir de agora soltarei alguns spoilers, e como sempre sou fofa, aviso antes que vocês queiram me matar!

Os dias com a Amanda despertaram algo insano na cabeça já dodóizinha de Maud. Sabe aquela coisa de que um psicopata precisa apenas de um gatilho pra agir? Pois bem, acredito que esse seja o grande motivo e conclusão da história.

Os dias vão passando e Maud passa a sentir atração ou sei lá o que por Amanda. E uma cena, durante sua estadia na casa da ex-bailarina me chamou muito a atenção. Maud costuma dizer que Deus a “toca” de vez em quando e ela consegue senti-lo. A cena desse suposto “toque” de Deus beira a um orgasmo sombrio, como se ela realmente sentisse prazer ao receber essa divindade.

Eu adoro qualquer terror psicológico que coloque em cheque a religião e o quão destrutivo isso pode ser nas nossas vidas. A solidão de Maud e o seu suposto relacionamento com o divino faz a gente perceber que, infelizmente, o extremismo mata, destrói e transforma nossas vidas diariamente.

Maud carrega uma culpa, algo que talvez nem ela saiba direito o que é (pelas cenas, percebemos que algo aconteceu em um hospital que a mesma trabalhava, e aquilo foi início do fim de sua vida). Me lembrou demais aquelas chamadas de algumas igrejas, sabe?! “Eu era um viciado, alcoólatra, e hoje faço parte da…”. (Pra bom entendedor, rs).

Infelizmente, pra mim, que não acredito em Deus ou não confio nas religiões criadas pelos homens (majoritariamente as religiões são misóginas, e fazem de nós, mulheres, submissas do homem e do “lar”), Saint Maud exemplifica tudo que sempre acreditei: a punição divina, o nosso suposto conflito entre o bem e o mal e quão bizarro isso invade a vida de uma pessoa que já se encontra fragilizada, o caso da nossa triste protagonista.

Ah, algo que gosto DEMAIS nesse filme é a construção da história através da narrativa do personagem. Você VIVE o Mundo de Maud, você SENTE as dores de Maud, você acaba se tornando Maud (especialmente se for mulher, acredito que nossas inseguranças e fragilidades nos levem a essa identificação)!

Saint Maud é um dos melhores filmes que assisti nos últimos anos. Ele é de um bom gosto absurdo, tanto da parte da história (roteiro) quanto a estética (edição, direção de arte, fotografia, trilha sonora).

É uma rica e perfeita obra audiovisual, que através de uma bela fotografia, expõe a autodestruição e a insanidade do ser humano

E aí? Você já assistiu Saint Maud? Gostou da resenha? Compartilhe com a gente :)

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Bruna Galvanese
Mais Horror

Sleep all day, party all night. Never grow old, never die! Its fun to be a vampire 🦇