Dice Forge + dominando a sorte
Nada mais emblemático que o dado quando falamos de sorte em jogos de tabuleiro. Em jogos modernos é comum um mecanismo de mitigação para não ser tão dependente dela.
Então por que não montar seu próprio dado e brincar com a sorte? Ou, nesse caso, afastá-la cada vez mais da brincadeira… Dice Forge (Galápagos Jogos) é um “deck building” sem cartas para isso.
Guerreiros a postos para batalhas épicas! Nesse mundo não basta realizar somente atos heroicos. É preciso as melhores ferramentas para conquistar a vitória. Nada muito lógico quando temos dados.
Através de bênçãos divinas, a cada turno — meu e dos meus amigos — eu rolava dados para ganhar ouro, fragmentos solares, fragmentos lunares e, claro, pontos de glória. Mas meus meios eram limitados.
Com dados simples, ganhava muito pouco de tudo, ou quase tudo. Isso me instigava a gastar todo o ouro acumulado para melhorar as faces dos meus dados no meu turno.
No santuário (que estava mais para um mercado) eu oferecia meu ouro aos deuses para adquirir novas faces e aperfeiçoar meus dados. E não bastava comprá-las. Era preciso que a bênção divina rolasse essas novas faces para ganhar seu resultado.
E assim acumulava fragmentos de sol e lua para realizar meus atos heroicos: adquirir cartas com poderes especiais, recompensas e mais pontos de glória.
Com o Baú do Ferreiro, aumentei minha capacidade de armazenamento, acumulei recursos e realizei atos heroicos mais custosos e valiosos. Só que a vida de guerreiro não era fácil.
O acaso ainda brincava com meu desenvolvimento e meus resultados não eram sempre satisfatórios. E para completar um oponente lutava contra o Minotauro e fazia a gente rolar nossos próprios dados para perder recursos.
Lutei bravamente contra Câncer — ganhando bênçãos divinas extras — e Górgona — garantindo muitos pontos de glória. Minhas armas? Como sempre só precisei de fragmentos de sol e lua para derrotá-los.
Ao fim da jornada (9 rodadas em 4 jogadores) somamos os pontos finais. Vitória do guerreiro que vos escreve!
Forjar dados é divertido tanto quanto rolá-los — mesmo que por muitas vezes o resultado nem sempre agrade. Quando a face comprada desde o início do jogo nunca sai… aí rola até tristeza.
Afinal, qual é o limite para que a sorte não seja um problema nos jogos de tabuleiro?
A sorte faz parte dos Jogos de Tabuleiro até nos mais estratégicos. Ela pode estar nas peças reveladas na preparação, na influência dos jogadores na partida ou nas cartas sacadas de um baralho durante o jogo, por exemplo. Pode ter um efeito individual ou para todo o grupo. Mas o resultado disso não necessariamente será imprevisível.
Muito comum em jogos festivos (party games), a mecânica de forçar a sorte pode ser bem aplicada em partidas rápidas e descompromissadas. No Thanks (PaperGames) e Quartz (Grok Games) que os diga. Em jogos mais simples e descompromissados, entender que esse fator está presente e faz parte do seu mecanismo eleva a experiência num nível aceitável e divertido.
O problema está quando se deseja controle dessa força em jogos mais longos e estratégicos. Lorenzo il Magnifico (Meeple BR Jogos) e Ganges (Devir Brasil) são dois que utilizam rolagem de dado e seu uso de modo totalmente distinto, embora ambos tragam ferramentas para mitigar os resultados em seu benefício, de modo geral alterando o valor do dado — gastando serviçal e carma, respectivamente.
Dice Forge flutua entre esses dois lados. Um jogo que faz da montagem de dados o principal mecanismo de manipulação dos resultados com o investimento em melhores faces e que ainda requer sorte para que essas alterações compensem com o melhor resultado esperado.
Continua sendo um jogo relativamente rápido, dinâmico e que permite rejogabilidade com outras combinações de cartas e faces entregando diversão à mesa e tensão na contagem final dos pontos.
O tema não se vê muito além da arte, todavia Dice Forge possui uma produção impecável e uma ideia explorada de modo único: montar seus próprios dados e fazer sua própria sorte!
Para conhecer mais
Mais do assunto
Dicas para ler, ver e ouvir:
Em texto: Tábula Quadrada
Em áudio: Gambiarra Board Games
Em vídeo: Qual é o Jogo?