Queendomino + jogando certo
Criadores de Jogos de Tabuleiro têm a missão de fazer regras que permitam aos jogadores domínio suficiente para uma partida fluir conforme planejado.
Se as informações não são claras, seja por um manual mal elaborado ou por ensinarem errado, a experiência pode se tornar frustrante. Felizmente pude reparar esse erro em Queendomino (Paper Games)!
Aqui o reino mais próspero é aquele com maiores terrenos e valiosas coroas. Para ampliar meus limites, comecei requisitando moinhos de trigo e explorando minas nas montanhas.
Também precisava manter o prestígio do meu reinado com a construção de estabelecimentos. Meu solitário castelo foi tomando companhia de forjas e torres de vigia ao passar do tempo.
Erguer torres tornava minhas terras mais seguras aos olhos da rainha! Ou talvez ela só gostasse de admirar as vilas do alto…
Novos estabelecimentos também atraíam novos cavaleiros, que às minhas ordens coletavam impostos — para o bem do meu povo, claro! Como fazê-lo prosperar sem riqueza?
Outros nobres também disputavam pedaços de terra e a atenção da rainha. Cada torre que surgia em territórios rivais me afastava de sua mão, mas não desisti em trazê-la de volta.
Minha sorte foi que o dragão escondido estava mais para preguiçoso. Quase ninguém o subornou para sair da caverna e destruir futuros estabelecimentos. Os que davam torres estavam sempre disponíveis na minha vez.
Completados os quatro reinos desse mundinho, a rainha já passeava pelos meus campos e me bonificava com a coroa extra. Florestas e lagos completavam essas terras que por tão pouco não me conferiram a vitória.
Seguindo a fórmula básica de Kingdomino (Paper Games), Queendomino se revela mais interessante e desafiador sem adicionar muito peso à jogabilidade.
Agora com um novo tipo de terreno e os estabelecimentos, as decisões vão além da colocação do dominó e se estendem para um leve gerenciamento do mercado.
Só que na primeira vez que joguei Queendomino detestei o jogo. Isso mesmo! E é muito raro isso acontecer. Então o que poderia ter levado a essa condição?
O dragão seria o vilão: o amigo explicou que um jogador que não tivesse a ilustre presença da rainha em seu reino poderia pagar uma moeda para que o dragão queimasse um estabelecimento construído num terreno de vila do adversário!
Junte isso com uma leve perseguição, com jogadores utilizando os serviços do dragão contra um único oponente. Não era para dar certo, era?
Muitos jogos utilizam da mecânica “take that” (“toma essa” em tradução livre) que consiste em atrapalhar diretamente o amiguinho. Confesso que é uma das mecânicas que menos curto em jogos de tabuleiro — talvez empatado com a de blefe.
Quando isso se revela demasiado, a diversão se esvai. Sofro com The Manhattan Project (Pensamento Coletivo) e Merchants & Marauders (Conclave Editora) por terem essas características — muito dependente do grupo com quem se joga… Confesso.
Desde que terminei aquela partida, logo após a raiva passar, fiquei matutando sobre aquele dragão. Com tantas pessoas falando bem de Queendomino e ler que Kingdomino: Age of Giants (ainda não lançado no Brasil) trouxera o “take that” à franquia, o que poderia ter acontecido de errado?
Após umas partidas de Kingdomino pelo Board Game Arena, descobrir que ele estava esgotado e que o Quendomino estaria em promoção, veio a vontade de ler o manual do irmão mais novo… e lá estava a resposta! O dragão queimava um estabelecimento no tabuleiro do mercado — e não do jogador. Um detalhe aparentemente pequeno mas com enorme peso.
Uma nova chance foi dada à majestade. E naturalmente veio a compensação por tentar novamente — agora com regras certas — uma partida de Queendomino, que depois viraram 3, 4, 5… num jogo relativamente rápido, bonito, envolvente e disputado até o fim.
Embora não nessas proporções, já coletei cacau em Teotihuacan (Bucaneiros Jogos) e contei o número de povoados em Clãs da Caledônia (Meeple BR Jogos) erroneamente. Quem nunca jogou algum título com regras erradas?
Infelizmente erros podem custar uma excelente experiência. Dê atenção na leitura dos manuais e não hesite em consultá-los sempre que dúvidas surgirem. Por aqui, esse dragão já não arruinará mais meu reino!
Mais do assunto
Dicas para ler, ver e ouvir:
Em texto: É a minha vez?
Em áudio: Tabulices
Em vídeo: Jogatina BG
