Conexão com a fé

Giselle Cahú
MakingContent
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5 min readMay 30, 2020

Lá se vão três meses de distanciamento e isolamento social. Muitas coisas mudaram em nossa rotina nesses últimos meses. Algumas delas foram abolidas, outras ressignificadas e adiadas, e tantas outras foram digitalizadas.

Não há uma grande novidade, afinal muitas instituições já tinham suas páginas no facebook e realizavam algumas transmissões online. Mas o fato é que a presença digital das mais diversas instituições religiosas (independente do segmento) foi imensamente ampliada por causa das regras de isolamento e distanciamento social, que impedem os fiéis de irem aos seus templos por questão de saúde pública.

Créditos: Pixabay

Aumento de fiéis e seguidores

As mídias digitais se tornaram aliadas das instituições religiosas, independente do segmento. Paróquias, igrejas, centros espíritas e templos budistas: todos estão presentes digitalmente.

Para a surpresa dos monges do templo budista Ryushoji, em Mogi das Cruzes (SP), com a digitalização novas pessoas passaram a conhecer e acompanhar os cultos diariamente. Em entrevista ao G1, o monge Gyoukan Piza relata que os próprios monges criaram QR Codes e links e ensinaram como os fiéis fazem para acessar aos cultos. A medida foi aprovada por todos, incluindo os idosos.

O aumento do número de fiéis é notado em diversas instituições religiosas. O publicitário Bruno Bastos faz parte de uma igreja que já era presente digitalmente, mas reforçou suas mídias ingressando em mais plataformas, como o YouTube. Na visão de Bruno, adotar novas plataformas digitais levou a palavra de Deus de uma forma rápida e cômoda para as pessoas, que naturalmente estão conectadas aos seus smartphones a maior parte do tempo.

Bruno afirma que mesmo já sendo presente no mundo digital, sua igreja não tinha tanto alcance como hoje. Porque será que só agora ocorre um aumento notório de seguidores e fiéis? Bruno explica: “Como os cultos eram presenciais, os membros da igreja estavam no templo e, além de não terem motivos para acompanhar online, pelo respeito ao ambiente eles não utilizavam seus celulares. Com a pandemia, os membros assistem pelas redes sociais e ao mesmo tempo compartilham os links com os amigos, foi isso que gerou mais fluxo.”

Fortalecimento para enfrentar a pandemia

Fazer parte de um grupo religioso tem se mostrado uma grande arma no enfrentamento da pandemia. É comum que em momentos completamente inesperados e extremamente difíceis as pessoas busquem alguma instituição procurando respostas e consolo. Na pandemia não há como ser diferente, muitos estão buscando um fortalecimento psicológico e emocional na religião.

É na fé que Bruno Bastos encontra esperança de dias melhores: “Compartilhar experiências nesse momento tão difícil com pessoas da mesma fé que a minha é algo que tem me fortalecido”, comenta Bruno que não sente tanta diferença entre participar de forma presencial ou digital. Para ele, estar presente na igreja é mais relacionado com o grupo do que com a fé: “Isso mostra que nossas casas também são locais de adoração e celebração ao Senhor e que a fé independe de onde estamos. Estar em casa com a minha família fortaleceu a minha fé. Mesmo não estando em um templo lotado é possível se entregar a Deus da mesma forma”, relata o publicitário.

Por outro lado…

A jornalista Roseane Gomes, integrante da Pastoral da Comunicação da paróquia que participa, engrossa a corda dos que encontram na fé força para superar as adversidades geradas pela pandemia: “Eu tenho a minha igreja como uma rede de apoio e acolhimento. Ela me fortalece e me faz acreditar que tudo isso tem um propósito, que vai passar e que eu preciso acreditar e ser solidária. Isso me ajuda a enfrentar esse momento”, afirma Roseane.

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No entanto, apesar da jornalista trabalhar na área de comunicação da paróquia e auxiliar na transmissão das missas antes mesmo da pandemia, ela sente uma mudança grande entre o presencial e o online: “Foi muito difícil entender que eu estava participando de uma missa online, que eu não podia sair para pegar alguma coisa, que eu tinha que me concentrar ali. Venho melhorando minha dispersão, mas não estou 100% adaptada”, explica a Jornalista. E completa: “Sinto falta do presencial, de encontrar as pessoas. É uma realidade que a gente precisa de adaptar, mas confesso que não é nada fácil para mim.”

Curiosos e a facilidade do digital

Se olharmos por outro ângulo midiático, percebemos que a televisão é uma mídia massiva que sempre exibiu missas. Assim como o cinema, que promoveu praticamente um marco na história do espiritismo no Brasil.

Foi na exibição de filmes como Nosso Lar e Kardec que muitos curiosos tiveram acesso a conteúdos espíritas e passaram a frequentar as instituições. Fazendo uma comparação grosseira, é o que está acontecendo através do recurso das lives.

Diversos palestrantes, casas espíritas e grupos de estudos passaram a realizar palestras, estudos e debates no YouTube. Seus conteúdos baseiam-se nos ensinamentos morais, e não, fenômenos físicos, como muitos têm curiosidade de ver.

A psicóloga Liliane Mendes, participante de uma casa espírita, notou o aumento de curiosos após a exibição de filmes espíritas no cinema e nota a mesma situação agora na pandemia: “Os filmes despertam a curiosidade das pessoas que não vivenciam a temática, as lives também trazem a tona esse conteúdo, mas com um poder de abordagem mais simples, com linguagem acessível e bem explicada sobre diversos assuntos”, analisa a psicóloga.

Para Liliane, a presença física e a digital se diferenciam principalmente pela interação com o conteúdo: “O virtual facilita para as pessoas perguntarem e tirarem suas dúvidas, coisa que muitas vezes não ocorre por vergonha, principalmente da parte dos que estão indo pela primeira vez à palestra ou estudo”, comenta.

Independente da religião e da instituição a qual se pertence, uma coisa há em comum: a importância da fé. “É uma maneira de abastecimento religioso dentro do conceito de fé de cada um”, afirma a psicóloga que acredita que nesse momento de crise estamos precisando viajar para dentro de nós mesmos e avaliarmos nossas atitudes seguindo os nossos princípios.

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Giselle Cahú
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Jornalista, especializada em Comunicação Empresarial e Mídias Digitais, fotógrafa, interessada em muitas coisas. → Também no instagram makingcontent.blog