Eu conheci Malala

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5 min readSep 18, 2017
Luiza met Malala and other girls from Mexico and Colombia in Mexico City. (Credit: Alicia Vera)

Por Luiza Moura

“Mandei!”. Foi assim que começou uma das jornadas mais loucas e incríveis da minha vida. Sempre fui uma admiradora da Malala, a menina que lutou pelo diretos das mulheres irem à escola no Paquistão e por isso quase foi morta pelo grupo extremista Talibã.

Conheci sua história quando tinha por volta de dez ou onze anos. Meus pais me contaram sobre o tiro que ela havia tomado no ônibus escolar, voltando da escola. Fiquei doida, fui atrás de tudo que eu podia para entender melhor a história da paquistanesa.

Depois disso comecei a seguir a Malala Fund em todas as redes sociais possíveis, torcendo baixinho por um “Malala is going to Brasil!”. Esse anúncio não veio, mas o que chegou foi melhor.

No início desse ano a Malala anunciou o que ela chamou de Girl Power Trip. Ela queria conhecer o máximo de países possíveis para compreender um pouco mais sobre as barreiras para a educação feminina em cada país. Mas ela não podia conhecer o mundo inteiro e por isso estava pedindo cartões postais para meninas afim de conhecer pelo menos um pouco de cada país.

Foi então que eu resolvi mandar um postal. Completamente sem pretensão, apenas por admirá-la e por achar que ela poderia ajudar o Brasil a resolver alguns dos seus muitos problemas de educação.

Mandei esse cartão em abril. Nele contei sobre a baixa qualidade da educação pública no Brasil e a superlotação das escolas governamentais.

No dia 11 de agosto, recebi um email da Tess Thomas, que trabalha na Malala Fund (ínclusive registro aqui o meu muito obrigada a todas as pessoas da Malala Fund mas especialmente obrigada Victoria, Tess e Mckinley, que tornaram esse sonho tão possível). O email dizia que ela queria fazer uma entrevista comigo para o blog da Malala Fund porque tinha lido o meu postal e gostado muito. Entrei em choque. Mostrei para os meus pais. “É sério? É de verdade? Está acontecendo mesmo?”

Era mesmo verdade. A entrevista foi na segunda-feira 13 de agosto. Coisas gerais. “O que gosta de fazer?” “O que gosta de estudar?”. Tess também me perguntou como eram as escolas públicas no Brasil e sobre o meu filme favorito.

E foi aí que no dia 14 o convite chegou. “Luiza, você está sendo convidada para encontrar a Malala no México no dia 31 de agosto!”. Se o choque da entrevista foi grande o do convite foi maior ainda. Eu não conseguia parar de chorar.

Uma das grandes loucuras antes da viagem em si foi a saga do passaporte. Eu não tinha tal documento e para consegui-lo foi uma doideira. Corre na Polícia Federal, tira foto, liga pra saber onde está. Até o telefone da Casa da Moeda do Rio de Janeiro nós conseguimos. Mas na sexta feira dia antes da viagem eu estava com ele em mãos.

E então com tudo certo e passagem em mãos eu e minha avó embarcamos para a Cidade do México. O encontro com a Malala era dia 1º de setembro.

No jantar do dia 31 pude conhecer a Maria da Colômbia que também estava ali para o encontro e havia sido obrigada a se mudar por conta da guerrilha em seu país.

Foi quando o dia 1º chegou. Eu, Maria e Mariana, do México estávamos na recepção do hotel quando ela apareceu. Roupa azul esverdeado e lenço rosa. “Hello, how are you? I’m Malala”. Eu tremia tanto que na hora de tirar a foto eu não conseguia sorrir.

Foi nosso primeiro contato com ela.

Mas o verdadeiro encontro ocorreu durante a hora do almoço, quando nos reunimos para almoçar e ter uma aula de culinária.

Na hora de comer, me sentei na frente dela. Contei sobre a superlotação das escolas públicas, do governador de São Paulo que em 2015 queria fechar mais de 94 escolas. Contei também sobre os vários de casos de jovens que engravidam e largam a escola por não terem mais condições de estudar.

Mas também ouvi muito nesse dia. Da Maria ouvi relatos sobre a guerrilha na Colômbia e sobre como é ser ameaçada e ter que deixar sua casa com tudo para trás e se adaptar a um novo lugar. Mesmo assim ela continuou firme. Terminou o que chamamos aqui de Ensino Médio e agora é professora de dança mas sonha um dia em fazer faculdade de Comunicações Sociais.

Da Alma e da Sydney de, Oaxaca, que é uma das regiões mais pobres do México, ouvi como é morar em um povoado com traços marcantes de seu passado indígena. Descobri como é morar em um lugar onde os casamentos ainda são arranjados e onde as meninas largam a escola para cuidar de seus filhos. As vi cozinhar sopes, uma comida típica mexicana de uma maneira brilhante já que cozinham com suas mães todos os dias. Há um ditado em Oaxaca que diz que para uma menina ser uma boa cozinheira ela não deve sentir dor nas pontas dos dedos enquanto vira os sopes na assadeira quente. As duas conseguiram.

Da Malala ouvi que seu sabor de sorvete favorito é baunilha. Ouvi que ela gosta da Inglaterra. Ganhei um livro autografado. E ouvi um “muito obrigada” que me fez ganhar meu dia.

No final ainda consegui entregar para ela um livro do Paulo Freire para mostrar e representar um pouco da educação brasileira. Ela agradeceu e disse que adorou.

Consegui também ouvir de seu pai, Ziauddin, que o que eu estava fazendo era muito bom (lutar pela educação feminina, participar do grêmio da escola e me engajar tão cedo na luta pela educação).

Consegui tirar uma foto ao lado dela e ver que ela é uma pessoa real como todos nós mas que ganhou o Prêmio Nobel da Paz mas que ela luta e continuará lutando por aquilo que ela acredita.

Eu consegui fazer novas amigas com histórias incríveis. Vou guardar com muita alegria todos os momentos que passamos juntas.

Eu consegui conhecer Malala.

Read what Luiza wrote in English

Malala set out on her #GirlPowerTrip to meet girls like Luiza and listen to their stories. While she can’t meet with every girl, she can hear from them.

Send a postcard to Malala with your message about girls’ education. Yours could be the next postcard she responds to!

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Led by Malala Yousafzai, Malala Fund champions every girl's right to 12 years of free, safe, quality education. Learn more at malala.org.