A arte de sair do controle

Bruna Elisa Mayer
Manifesto 55
Published in
3 min readDec 15, 2017

Como organizar um evento de sucesso sem ter o controle sobre ele? Sim, pergunta difícil. Admito, a resposta vale ouro e é mais óbvia do que você imagina. Mas não vou entregá-la assim tão cedo.

Escolhemos o local, a comida, a bebida, os brindes, o propósito. Organizamos um espaço de interação, criamos um ambiente em que cada ponto foi estrategicamente pensado e cada pufe milimetricamente posicionado. Mas e se alguém quiser sentar naquele canto? Será que o quadro branco não atrapalha aqui? E a comida, em qual mesa fica? Vamos tirar a mesa de ping pong? Nesse ritmo de perguntas, mudamos o design da sala pelo menos cinco vezes. E assim como o processo de organização do espaço, assim também é o evento: colaborativo. Porque é feito por pessoas, e acontece através das conexões entre elas e o espaço. Esse é o segredo.

(Não consegui manter o mistério por muito tempo, porque a alma de jornalista transborda quando vou falar sobre pessoas)

Assim somos, seres não necessariamente controladores, mas que tem o desejo de ter tudo sob nosso comando. Queremos controlar até o tempo que a comida fica pronta no microondas. Não conseguimos esperar que o timer chegue ao zero, paramos a contagem antes disso. E o pior é que se a comida está fria, nos queixamos. E assim queremos assumir controle em cada detalhe de nossa vida — e também da vida dos outros. E novamente, se perdemos as rédeas, nos queixamos. Nos lamentamos.

“Let things be, let people be. Stop controlling things around you. Everything has a natural order, let it evolve on its own”

Você não pode controlar o que as pessoas pensam ou falam, mas pode criar um ambiente para que alinhem e compartilhem suas perspectivas. Que se conectem. E quando o foco se volta para as pessoas, tudo fica diferente. Você se surpreende, e descobre que se quer tomar o controle de interações entre pessoas, com anseio de limitar formas de criar conexões, você está sujeito a cometer grandes erros (acrescento aqui que quando descobriram que havia uma mesa de ping pong no depósito, ela foi montada novamente).

Assim foi cocriar o mini guia com “15 dicas para se manifestar em 2018”. Foi resultado de conexões e aprendizados, compartilhados e compilados em poucas páginas de um arquivo. Diversos pontos de vista, ideias divergentes que em algum ponto convergem. E o foco foi deixar uma pergunta aberta, para que cada um escolhesse seu foco. Foi sair do controle.

Se fizesse sozinha, poderia ficar mais bonito, esteticamente falando. Poderia ficar mais organizado. Eu estaria no comando. Porém foquei nas páginas em branco que poderiam ser preenchidas pelas mais diversas cores, que poderiam ter marcas de canetas e lápis de cor, com as caligrafias mais diversas, sejam decifráveis ou não, e com alguns borrões e marcas de rabisco. Como falei, poderia ter feito sozinha. Mas perdi o controle, e encontrei ali uma oportunidade. Pois se tivesse controle, não seria um conteúdo tão rico.

A vida não é um tabuleiro de xadrez, onde você tem controle sobre todas as peças. Nem uma carruagem que você tem as rédeas. É mais próxima de um cavalo desorientado, que tenta seguir seu instinto sobre qual caminho e com qual velocidade deve seguir. Perca o controle do cavalo. Você vai se perder, vai cair, vai correr rápido demais ou andar muito devagar. Mas também vai aprender, se levantar, aprender seu ritmo e se encontrar. Mas lembre que o destino, esse é um sujeito indomável. E as pessoas, elas são a resposta.

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Bruna Elisa Mayer
Manifesto 55

Antes de tudo apaixonada por cada universo contido nas palavras, depois disso jornalista