E se eu não souber a resposta?

Diego Dornelles
Manifesto 55
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3 min readJan 9, 2019

Essa era uma das minhas maiores inquietudes quando comecei a dar aula: o que fazer quando um aluno lhe pergunta algo e você não sabe a resposta?

A ilusão de que o professor é um “ser superior”, que tem as respostas para tudo e que não erra, me assustava um pouco. Com o passar do tempo, fui percebendo que isso faz parte do nosso modelo de educação, que já foi bem mais direcionador e autoritário do que atualmente — alunos não podiam questionar os mestres, sem falar das punições (muitas vezes físicas) que aconteciam. Isso também se dava pelo fato de que a informação era menos acessível do que agora. Hoje em dia, o aluno tem a resposta na internet muitas vezes antes que o professor.

O professor-centralizador, aquele que se coloca como a única fonte do conhecimento e precisa ter o controle da situação, muitas vezes dificulta o processo de aprendizagem do aluno, pois acaba dando as respostas prontas ao invés de fazer o aluno pensar e descobrir por si a melhor solução para determinado problema. De fato, o professor planejou a aula, sabe o que vem no próximo slide e por aí vai. Um pouco de controle sempre vai existir. O problema está, justamente, quando vem a pergunta, ou seja: algo que ele não planejou.

Fui com essa ansiedade até o dia em que aconteceu: um aluno fez a tal pergunta. Sou muito grato a essa pessoa, pois ela me fez ir atrás não só da resposta para seu questionamento, mas do real papel de um educador.

Percebi que tinha o conhecimento técnico mas faltava repertório de metodologia e didática. Como não tinha disponibilidade para fazer uma graduação ou um curso mais longo, busquei alternativas em cursos livres e posso afirmar que eles mudaram a minha forma de enxergar a educação.

Foi aí que descobri o professor-facilitador, aquele que não sabe todas as respostas, que não é infalível, que estimula o aluno/participante a ser o protagonista do próprio processo de aprendizagem. Ele não traz o conhecimento pronto, mas ajuda a refletir ao fazer perguntas poderosas e ao oferecer experiências e dinâmicas com intenção. O foco dessa aprendizagem não é repetir o conhecimento, mas saber como usar e aplicar habilidades e atitudes.

“O papel do professor não é ser uma autoridade em um assunto, mas ser um facilitador de uma boa experiência de aprendizado. Um dos valores que o professor deve apresentar aos alunos é a humildade: ‘Se não sei tudo, eu posso encontrar [a informação] e posso ser corrigido.’ E o professor pode moldar isso.”

(M.S. Vijay Kumar, Diretor-adjunto de aprendizagem digital do MIT)

Afinal, que diferença faz se a informação está no HD do professor, da biblioteca ou do Google?! O que importa é que o processo de aprendizagem aconteça, e que todos os envolvidos saiam com a resposta ou, pelo menos, um caminho para chegar até ela.

Uma inquietação e uma pergunta me levaram a descobrir um novo caminho, que me motivou e não me fez desistir da carreira docente. Hoje, esse caminho me levou a co-criar uma Escola de Facilitadores, juntamente com outros facilitadores incríveis, com o objetivo de levar esse conteúdo para mais educadores de todo o Brasil.

Sei que a facilitação não é a única resposta para tantos desafios que temos na educação, e que ela não pretende substituir métodos eficazes que já são utilizados, mas sim somar-se a eles. O que posso afirmar, por experiência própria, é que ela torna o processo mais produtivo e engajador. Se você é um(a) educador(a) e tiver a oportunidade de conhecer mais sobre esse tema, recomendo fortemente!

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Diego Dornelles
Manifesto 55

Facilitador de Aprendizagem, Educador e Mercadólogo