Ego disfarçado de propósito

Bruna Elisa Mayer
Manifesto 55
Published in
3 min readSep 27, 2018

Todos nós passamos (ou vamos passar) por aquela fase da vida onde existem muitas possibilidades pela frente. E são tantos caminhos diferentes para escolher que você fica como? Parado. Simplesmente paralisado, sem saber para onde seguir. E você fica ali, na espera que um sinal luminoso apareça e aponte qual direção você deve seguir, ou cerra os olhos (olá, míopes) para tentar entender o que existe mais lá na frente.

Mas você não tem como saber o que vem pelo caminho. E nenhuma placa com luzes neon vai aparecer para te guiar para alguma direção. Só depende de você escolher o caminho.

Depois desse momento de inspiração, você provavelmente pensa que vou vir com um discurso inspirador de que você deve seguir seu coração, não é mesmo? Aí vem o problema: estou com dificuldades auditivas quando se trata de ouvir a voz do coração.

Não é fácil, mas é simples assim: aumente o volume. Porque no fundo, você sabe que já tomou uma decisão. Às vezes você apenas não quer ouvir, porque aquela voz te assusta. Engraçado isso, né? Ser decidido nos assusta. Parece que temos a necessidade de andar voltas e mais voltas sem sair do lugar, pedir ajuda e conselhos de trinta e duas pessoas diferentes, não dormir por quatro noites seguidas para no fim seguir o caminho que já queria inicialmente. Chega a ser cômico, se essa tal da autossabotagem não fosse trágica.

Nesse final de semana no curso da Manifesto, o Crie Engajamento, praticamos a escuta ativa. Gostei muito de escutar os outros falando e compartilhando experiências e sentimentos, sem interromper a linha de pensamento. Apenas apreciando e aprendendo com o que o outro tem para falar. Só que ali veio aquele insight: será que eu estou escutando a mim mesma?

A resposta logicamente é não. Tenho muito pra falar também, e quem vai me ouvir melhor do que eu mesma? Pois é. Simples de falar, mas bem difícil de praticar. Porque aqui está ela de novo: a autossabotagem.

A pergunta que você deve se fazer é: você está seguindo por esse caminho por propósito ou por ego?

Essa fala surgiu em uma palestra no ENEJ, maior encontro de empresários juniores do país. Foi um momento inspirador, em que olhei para mim mesma e disse “uau, agora tudo faz sentido! Lógico que faço isso por propósito! Com certeza é isso que meu coração quer!” — eu falando comigo mesma, tentando me convencer de que eu tinha entendido aquela frase.

Na realidade, eu não entendi nada. Meu ego conseguiu se mascarar de propósito em um crime quase perfeito.

Vou falar um fato muito óbvio, mas que tem que ser dito: a gente tenta acreditar que desejamos viver aquilo que os outros querem pra gente. A gente tenta, tenta, tenta… até que chega o momento em que realmente acreditamos. Aos pouquinhos, com um comentário ali e outro aqui, o nosso ego vai inflando. Saímos voando cada vez mais longe daquela voz tão importante. E o coração grita, mas nós flutuamos cada vez mais alto em uma ventania temporária (ele mesmo, o ego) que só te afasta de si mesmo.

E surge um momento, seja em uma fala inesperada em um almoço de domingo ou em uma carona com conversas descontraídas, que você se ouve. Eu me ouvi. Acho que, meio atrapalhada como sou, acabei esbarrando sem querer no botão do volume, e percebi que o cochicho que tanto me perturbava na realidade tinha algo muito importante para me dizer.

Desmascarei o ego (quase tão épico como a cena final de um episódio do Scooby-Doo).

Aumentei o volume. E me ouvi. E passei a viver o meu sonho, e não os sonhos que os outros querem para mim.

Aumentei o volume. E me ouvi. Lembra do início do texto? Pois é, percebi que dei muitas e muitas voltas para no fim voltar na decisão que eu já tinha tomado inicialmente. A decisão que meu coração queria. Porque, afinal, não é tão fácil assim você mudar de ideia se lá no fundo seu coração já está gritando sua decisão. É apenas o volume que está baixo demais.

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Bruna Elisa Mayer
Manifesto 55

Antes de tudo apaixonada por cada universo contido nas palavras, depois disso jornalista