O caminho da autonomia e autorresponsabilidade
Não foi consciente. Se me perguntassem qual era o meu objetivo há três ou quatro anos, eu não saberia dizer. O que me movia na época era uma vontade de aprender novos conceitos, desenvolver novas habilidades e fazer coisas; colocar a mão na massa mesmo.
Pra quem me conhece desde os tempos do ensino médio sabe que eu sou boa em duas coisas: aprender e procrastinar. Minha sorte nos tempos da escola era que eu entendia o conceito por trás das matérias rápido. Na primeira explicação do professor eu já saia fazendo os exercícios. Meu problema, por consequência, é que na mesma velocidade que eu entendia o conceito por trás, fazer exercícios sem entender a razão para aquilo me desengajava no nível de eu fazer QUAL-QUER outra coisa que achava interessante, ou procrastinava. Se eu entendesse esse comportamento naquele momento, talvez conseguisse canalizar a energia para as coisas que realmente tivesse clareza. Mas sabe como é, né? Experiência a gente acumula vivendo mesmo.
Parkinson criou uma teoria pra isso: “O trabalho se expande de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização.”
O que ele queria dizer era exatamente o que você já conhece bem: se você tiver um trabalho pra entregar em uma semana, vai deixar pra fazer na última hora.
Foi assim com estudar para o vestibular, meu TCC, compromissos comigo mesma que até hoje eu tenho dificuldade de honrar. Você se identifica de alguma forma?
Foi apenas quando eu comecei a querer aprender que eu entendi o ciclo vicioso que eu mesma me coloquei: aprendia, entendia, dominava, desengajava, nunca mais olhava.
O ponto de partida para essa mudança de comportamento foi a cozinha: por ter parado de comer carne cedo, foi entre as panelas e temperos senti que tinha muito pra aprender e que nunca vai ser o bastante. A alquimia de combinações de sabores e experiências na manipulação dos alimentos é, pra mim, quase um laboratório. Vou chamar de poder pois é essa palavra que define: eu sinto poder em cozinhar e fazer experimentos que me nutrem.
Foi assim que dei o primeiro passo para a autonomia (não que eu tivesse consciência disso): passei a cozinhar em casa e comer menos na rua. Olhar para o momento de nutrir o corpo e entender o significado disso: é político, é libertador e é também tão simples e natural.
O passo depois desse foi costurar: cansada de buscar por roupas que representassem meu estilo e coubessem no meu orçamento, descobri com a minha irmã um curso de costura. De lá pra cá passei a fazer as minhas roupas, ajustar as que eu comprava em brechós e com isso aprendi que para ter uma peça que dure e que tenha o caimento que você quer é preciso, estudo, paciência e prática. Foi em um desses dias em que costurava que parei pra pensar em como esses aprendizados estavam me levando para uma vida de mais autonomia, mais resgate de atividades de consciência e coerência com o que eu acredito ser a mudança no mundo.
O curioso disso tudo, é perceber que são atitudes de resgate: ouvir e compartilhar histórias enquanto cozinha, costura, cria, constrói…
Se você está tentando entender até agora qual a relação disso tudo com a autorresponsabilidade, eu explico: esse processo de descoberta da autonomia só aconteceu porque eu comecei a creditar a mim meus fracassos e sucessos.
Pode parecer meio bobo ou até arrogante, mas eu percebi nesse tal ciclo vicioso que eu arrumava desculpas para justificar as ações que não conseguia concretizar. É claro que todos recebemos apoio, mas ponto com isso é: a partir do momento em que eu me responsabilizei pela falta de compromisso comigo é que comecei de fato a pensar: “bom, se é autonomia o que eu quero ter, éo assunto é meu comigo e pronto.”
Agora, mais consciente desse exercício diário, passei a testar novas habilidades: recentemente comecei a fazer um curso sobre gestão de finanças e outro de design gráfico. A intenção é poder me comunicar cada vez melhor com você e, claro, conseguir me preparar pessoal e profissionalmente para o futuro que é incerto. O que eu posso te dizer até aqui é que estar presente e consciente nos processos ajuda muito para conseguir quebrar o ciclo vicioso que eu tendo a entrar. Mas quando consigo trazer o mantra da autorresponsabilidade e autonomia em ação, é libertador. A preguiça e desengajamento vão embora, o flow é quem comanda e eu só aproveito o momento, assim como foi escrever esse texto!
E você, já parou para pensar o que te move? Quantas vezes você deixou de fazer o que acha importante por apenas deixar pra depois?