Um texto sobre facilitação e engajamento
Entrar em uma sala com professores e gestores educacionais — alguns com mais anos de prática do que eu tenho de vida, para falar sobre liderança, facilitação e engajamento é um tanto desafiador. E é sobre essa experiência recente que tive facilitando um workshop no Fórum de Gestores da Rede Pitágoras que escrevo este artigo.
Quando o desafio é grande, a diferença entre ansiedade e fluxo está justamente no nível de confiança e/ou de habilidade que você possui sobre ele.
É o que defende Mihaly Csikszentmihalyi, em seu estudo sobre a Teoria do Fluxo, que utiliza a seguinte figura para ilustrar:
A ansiedade vai se transformando em um estado de fluxo, justamente quando a conexão com o grupo começa a emergir e as coisas começam a fazer sentido para todos os envolvidos — inclusive o facilitador. Mas quando e por que isso acontece?
No início do workshop, o grupo tem várias dúvidas e desconfianças. Quem é o facilitador? Quem são os outros participantes? O que eu estou fazendo aqui? Como posso contribuir? Posso contribuir?
Por isso, acho importante iniciar com um momento de check in justamente para sanar essas possíveis inquietações e deixar claro o objetivo do encontro, bem como estabelecer acordos, regras e papéis de cada um(uma boa dica de ferramenta: I.DO.ART).
Para o Fórum, utilizei o check in com duas perguntas: “o que trago?” e “o que busco?”, além das apresentações de nome e cargo/empresa. Além de alinhar expectativas, esse momento serve para os participantes começarem a fazer conexões e desperta a curiosidade em conhecer outras experiências, pois ali estão profissionais com desafios e contextos semelhantes.
Após todos serem apresentados e os objetivos estarem claros, os participantes foram convidados a conversar, em duplas, sobre alguns tópicos que fazem parte do contexto da oficina. Ao final dessa conversa, perguntei a eles qual foi o meu papel nesse processo de geração de conhecimento que aconteceu naquele espaço. E a resposta foi: facilitar para que o processo de aprendizagem acontecesse. Não fui eu que gerei o conhecimento; foram eles, através da cocriação. Eu apenas propus os temas e controlei o tempo.
Na primeira atividade coletiva, em que é necessária a participação de todos para a consecução do objetivo, é provável que o grupo tenha dificuldades em realizar. No Fórum, utilizei a dinâmica da vara, na qual os participantes formas duas filas de frente uns para os outros e, utilizando apenas os dedos indicadores, precisam colocar a vara no chão. Por parecer tão simples, o desafio transforma-se em ansiedade na medida em que as coisas não acontecem conforme o esperado — ou seja, fogem do nosso controle e precisamos da colaboração e engajamento das outras pessoas envolvidas.
Um dos feedbacks mais interessantes que ouvi em relação a essa dinâmica foi: “fiquei tão brava que pensei em pegar as minhas coisas e ir embora do workshop, tamanha foi minha frustração por não conseguir realizar uma tarefa simples. Mas após a explicação do que faltou para resolver o desafio, tudo fez sentido e agora vou comprar uma vara de pesca para fazer com meus alunos”.
Quanto mais a oficina avançava, maior era o nível de confiança e empatia entre os participantes — e de fato ela foi desenhada para isso acontecer.
No desafio seguinte — a dinâmica da teia, os participantes utilizaram os aprendizados obtidos na dinâmica das varas e concluíram muito rápido.
Na atividade de diálogo e escuta empática, na qual o objetivo é exercitar a escuta focada, a confiança e o engajamento estão tão altos que os participantes conversam sobre desafios e inquietações que estão enfrentando no contexto atual de forma aberta e reflexiva, sendo possível perceber o próprio ambiente mais tranquilo, harmônico e engajado.
Um dos últimos momentos do encontro é o check out, um feedback coletivo para avaliar, comentar e contribuir para com o workshop. Costumo utilizar a pergunta “como saio desse encontro?” e é nessa hora, quando você percebe que tudo aquilo faz sentido para os envolvidos, que o próprio workshop é o exemplo de toda a teoria abordada e que eles estão motivados para aplicar em seus ambientes de trabalho na segunda-feira, que você enquanto facilitador respira e sente aquela realização de ter proporcionado uma experiência transformadora.