Taça Carlos Cid Renaux
No dia 27 de março de 1988, o Marcílio Dias conquistou a Taça Carlos Cid Renaux, equivalente ao primeiro turno do Campeonato Catarinense, sob o comando do técnico Levir Culpi. Foi o primeiro troféu da memorável equipe que ficaria conhecida como Siri Mecânico.
Entre as figuras do time, destacavam-se a experiência do lateral-direito Rosemiro, a segurança do zagueiro Ademir Capacete, a liderança do volante Palmito, a técnica do meia Nélio, a raça de Wilsinho, a habilidade do ponteiro Sidnei, o oportunismo de Rogério Uberaba e o faro goleador do centroavante Joel, artilheiro do Estadual daquele ano com 18 gols. Naquela competição começaram a despontar também jovens promessas da base marcilista como Gelson e Jairo Lenzi.
Terceiro na fase de classificação, o Marcílio encarou o Criciúma na semifinal. O favoritismo atribuído ao Tigre ficou ainda mais latente com o resultado do jogo de ida em Itajaí: 2 a 1 para o Criciúma. Precisando vencer por pelo menos dois gols de diferença fora de casa, poucos acreditavam no Marinheiro. “Criciúma vai às finais? Claro que sim. O Criciúma se classificou no jogo de Itajaí”, cravou o colunista Maceió no jornal A Notícia.
Na tarde de 20 de março de 1988, o Estádio Heriberto Hülse foi palco de uma partida sensacional. Nélio, num belo chute de fora da área, abriu a contagem para o Marcílio aos 26 minutos, mas o Criciúma virou ainda no primeiro tempo. No início da segunda etapa, o ponta-direita Sidnei deixou tudo igual. O empate ainda servia ao Criciúma, mas a estrela de Joel brilhou. O artilheiro virou aos 24 e aos 41, numa cabeçada certeira, fechou o placar em 4 a 2 para o Marcílio.
Na final, o Marinheiro precisou desbancar outro favorito: o Joinville, campeão estadual do ano anterior. O primeiro jogo contra o JEC foi realizado em Itajaí, no dia 23 de março. Wilsinho acertou um belo chute e fez o gol da vitória marcilista pela contagem mínima, que deu ao Rubro Anil a vantagem e jogar pelo empate no jogo de volta.
No Ernestão, um jogo eletrizante: Joel colocou o Marcílio na frente aos 22 minutos e Nélio ampliou aos 42. O JEC voltou com tudo no segundo tempo e empatou a partida em apenas 13 minutos. Mas a euforia tricolor recebeu uma ducha de água fria seis minutos depois, quando o incansável Rosemiro levantou a bola na área e Joel, de cabeça, fez o terceiro gol itajaiense.
O time da casa voltou a empatar aos 23, com Leandro, que foi expulso pouco depois. Com um homem a mais, o Marcílio Dias administrou o jogo, segurou o empate e garantiu a taça. Após o apito final, a diretoria do Joinville cometeu uma indelicadeza ao desligar os refletores. Conforme registrou o jornal A Notícia, Carlos Cid Renaux, empresário brusquense e patrono da taça em disputa, “teve de entregar o troféu ao capitão do Marcílio, Rosemiro, quase às escuras”.
Antes, ainda com o jogo em andamento, o relógio do placar foi atrasado, mas o árbitro Dalmo Bozzano apitou o final do jogo na hora correta. Naquela tarde de 28 de março de 1988, o Marcílio Dias foi campeão com Alemão; Rosemiro, Ademir, Fernando e Clademir; Wilsinho, Palmito e Nélio; Sidnei (Mário Botuverá), Joel (Luisinho) e Rogério Uberaba.
A festa proporcionada pela torcida rubro anil jamais saiu da memória do técnico Levir Culpi. “Nunca vou esquecer aquela conquista. Lembro como hoje a carreata de Joinville até Itajaí. O Marcílio foi parte importante na minha carreira”, declarou o treinador em 2018, ao relembrar o título após 30 anos, quando visitou o Estádio Doutor Hercílio Luz e reviu a taça que ele levantou em 1988 como técnico do Siri Mecânico.
O bom trabalho no Marcílio Dias projetou o nome de Levir Culpi na imprensa nacional. Na edição de 15 de abril de 1988, a revista Placar publicou uma matéria sobre o time, com foto do treinador junto ao busto do marinheiro que empresta o nome ao clube. “Fiz um time forte, com jogadores experientes, mas lutadores, mesclados com a garotada”, dizia o treinador na reportagem. “Atacamos em massa e, mesmo com um esquema simples, ninguém consegue nos parar”, detalhava o artilheiro Joel.
Campanha
Primeira Fase
24/01/1988: Marcílio Dias 2 x 0 Internacional (Lages)
27/01/1988: Chapecoense 1 x 0 Marcílio Dias
31/01/1988: Marcílio Dias 3 x 1 Brusque
03/02/1988: Marcílio Dias 1 x 0 Blumenau
07/02/1988: Figueirense 3 x 2 Marcílio Dias
11/02/1988: Avaí 2 x 1 Marcílio Dias
21/02/1988: Internacional (Lages) 1 x 1 Marcílio Dias
24/02/1988: Marcílio Dias 4 x 0 Chapecoense
28/02/1988: Brusque 2 x 2 Marcílio Dias
02/03/1988: Blumenau 0 x 0 Marcílio Dias
06/03/1988: Marcílio Dias 3 x 1 Figueirense
13/03/1988: Marcílio Dias 3 x 1 Avaí
Semifinal
16/03/1988: Marcílio Dias 1 x 2 Criciúma
20/03/1988: Criciúma 2 x 4 Marcílio Dias
Final
23/03/1988: Marcílio Dias 1 x 0 Joinville
27/03/1988: Joinville 3 x 3 Marcílio Dias
Ficha técnica
Joinville 3 x 3 Marcílio Dias
Data: 27 de março de 1988
Local: Estádio Ernesto Schlemm Sobrinho (Joinville)
Árbitro: Dalmo Bozzano
Cartões amarelos: Clademir, Rogério Uberaba, Luizinho e Fernando (MD); Toninho Camarao (J)
Cartão vermelho: Leandro (J)
Gols: Joel, aos 22 e Nélio aos 42 do primeiro tempo; Ronaldo aos 8, Rocha aos 13, Joel aos 19 e Leandro aos 23 do segundo tempo.
Joinville: Rodolfo; Gilberto, Leandro, Luiz Carlos e Rocha; Toninho Camarão, Nardela (Ronaldo), Pingo e Geraldo Pereira; Moreno e Paulo Egídio (Roberto). Técnico: Geraldo Damasceno.
Marcílio Dias: Alemão; Rosemiro, Ademir, Fernando e Clademir; Palmito, Wilsinho, Nélio e Rogério Uberaba; Sidnei (Mário Botuverá) e Joel (Luizinho). Técnico: Levir Culpi.
Texto adaptado do livro “História do Clube Náutico Marcílio Dias — O Livro do Centenário (1919–2019)”, de Fernando Alécio.