O futuro do Bolsa Família 2 …

PARTE DOIS

Marcus Brancaglione
ReCivitas Basic Income Democracy
19 min readMay 26, 2016

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…do Bolsa Família e do Brasil: Do cavalo de Tróia ao ESTADO CENTAURO

Não pensem que nos livramos ainda disso…

Crimes de responsabilidade social são violações ainda mais flagrantes de direitos fundamentais do que os crimes de responsabilidade fiscal.

O equilíbrio fiscal sem o cumprimento das obrigações governamentais mais básicas não é só a ruptura do contrato social. É a transformação do estado criminoso num estado mafioso que se contenta apenas em cobrar o pedágio da sua proteção.

É a recuperação da falência fraudulenta de um Estado não apenas trocando uma quadrilha pela sua cúmplice, mas a legalização da criminosa omissão de garantia dos mínimos vitais como dever governamental! O cúmulo da inversão de direitos e deveres entre cidadão e estado que leva ao totalitarismo. Processo iniciado na falsa esquerda, em consolidação no eterno centrão, e que será entregue a extrema direita.

Estados falidos devem ser refundados e não as sociedades sacrificadas para salvar sua podridão e aqueles que literalmente a“bancam”. O Estado que serve apenas para endividar descapitalizar é tão vendido e traidor da nação quanto seus governantes. Ou mais precisamente é o próprio instrumento da traição de um povo.

O único Estado minimamente legítimo não é o estado mínimo liberal, mas o estado social. Ou mais precisamente o estado de garantia de direitos naturais por deveres sociais. Estado libertário e Ecológico onde a prioridade da reserva do possível é a provisão e proteção dos mínimos vitais e ambientais.

http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016_05_01_archive.html

Dos crimes de responsabilidade fiscal e social como violação dos direitos humanos

Sei que insensibilidade popular não falta a esse governo tão corrupto e até mais vendido que o anterior, mas contar com tanta desinteligência no adversário é pedir para que um mesmo crime caia duas vezes no mesmo Planalto, um a esquerda e outro a direita. Um na economia, o outro no social.

O crime de responsabilidade fiscal do petismo já é mais do que sabido e não vale a pena ser mais batido. A falsificação de dados e manobras contábeis que serviram para financiar tanto uma máquina politico partidária corrupta e patrimonialista, quanto o próprio aparelhamento criminoso do estado visando a perpetuação do seu projeto de poder, foi mais do que dissecada.

Porém, o que vale salientar do crime de responsabilidade fiscal — já para efeito de comparação com o de responsabilidade social que se desenha — é que eles mesmo sabendo que tais manobras eram insustentáveis; mesmo sabendo o quanto seus esquemas comprometeriam os recursos dos programas sociais; e pior, mesmo sabendo como a desvalorização do dinheiro e o repasse do custo do financiamento do Estado para a moeda representaria a redução do poder de compra de toda a população- sobretudo os mais carentes e vulneráveis; mesmo sabendo disso tudo ainda sim optaram por sacrificar as conquistas sociais e toda a população para se manter no poder.

Assim quando o governo repassou fraudulentamente a manutenção do custo da máquina estatal criminosa a sociedade, eles não estavam apenas cometendo um crime de estelionato eleitoral ou roubando recursos de projetos e programas essenciais para sustentar a corrupção, de seu projeto de poder perpétuo. Eles estavam descumprindo obrigações governamentais e não qualquer uma mas a de proteção social da população sobretudo a mais vulnerável.

O crime de descumprimento da responsabilidade fiscal pode ter tido como objetivo o estelionato eleitoral e governamental, mas se consumou como um crime muito pior do que este, se consumou como crime contra a vida de muita gente que tiveram as suas condições de subsistência roubadas para pagar mais essas dívidas. Evidente que a violação dos direitos básicos e danos contra a vida dessas pessoas tem como causa primeira a expropriação estatal original, mas quando o governo arrebenta os meios de troca centralizados, os meios pelos quais as pessoas são obrigadas pelo próprio monopólio estatal a satisfazem suas necessidades (o dinheiro), eles não estão só contrabandeando o custo do pagamento dos seus roubos a sociedade e agravando o crime de extermínio velado estatal dos marginalizados, ao colocar ainda mais em risco de morte os carentes, dependentes e tutelados.

E mesmo sendo uma falsa-esquerda, até por conta da ideologia que usam e abusam, não tem sequer condições de dizer que não sabiam das consequências destes atos. Por isso quando eles, ignorando toda a reserva do possível inverteram as prioridade da garantia do mínimo vital e descumpriram suas obrigações governamentais, pervertendo a razão social do Estado, eles violaram por omissão dolosa os direitos humanos daqueles que não poderiam prescindir da provisão deles. O crime econômico petista contra toda a população, foi uma violação dos direitos fundamentais justamente dos mais pobres.

Assim ao violar a reserva do possível comprometerem o cumprimento das obrigações governamentais mais básicas, inclusive a garantia do mínima vital (já tão porcamente provida). Garantia está que é a fonte de legitimidade de todo governo e contrato social, e deve ser a finalidade primeira de todo Estado que se pretenda minimamente de direito — e isto até do ponto de vista mais autoritário do estadismo clássico.

Pois agora vejam como sob a mesma luz dos direitos naturais e jurisprudência universal, a observância obtusa da reserva do possível, isto é da busca do equilíbrio fiscal destituído de toda razão social, pode se decair num crime ainda maior de responsabilidade social, e violação das garantias dos direitos humanos.

A contingência de recursos para outras finalidades enquanto o cumprimento das obrigações que se tornam assim parciais ou precárias é crime de responsabilidade. O próprio desvio de recursos dentro do próprio programa da sua finalidade para as burocráticas condicionalidades contraprodutivas e obstrutivas da sua consecução é de uma estupidez suspeitosíssima. Porém a extinção ou redução sem mais nem menos do programas sociais de garantia de mínimos vitais para se manter uma burocracia meramente condizente com a arrecadação é o crime flagrante não da omissão da garantia desses direitos, mas da sua violação proposital. Crime de responsabilidade social que não está escondido em nenhuma manobra contábil, econômica ou fiscal. Não é um tiro nas costas, é brutal e explicito como um tiro na cara.

Retórica a parte, essa é a única diferença entre a direita e a esquerda autoritárias é que a direita não tem vergonha, tem orgulho de passar com o cavalaria por cima do povo. E como se isso não bastasse é também por isso mesmo o cúmulo dessa perversão estatal, porque faz da manutenção do seu corpo uma obrigação da sociedade e um fim em si mesmo ainda que isso esteja frontalmente contra a garantia dos direitos mais básicos! E as consequências da completa inversão totalitária agora não mais só paternicida, mas austericida será a morte da sociedade, agora definitivamente reduzida mera hospedeira do estado parasita.

E assim o Estado paternalista tira sua mascara, e assume explicitamente seu caráter titânico-patriarcal invertendo-se de meio para fim, e passando a devorar a sociedade infantilizada, seus filhos, para manter seu corpo podre, burocrático e artificial. O crime portanto que está para se cometer neste governo, é ainda pior e de viés mais totalitária que o do anterior. Pois pressupõe ainda mais descaradamente que é função da sociedade sustentar e servir até a morte um Estado corrupto e falido. E que não temos o direito soberano e revolucionário que toda nova geração deveria ter de se livrar dos velhos regimes canibais.

No fundo, a irresponsabilidade fiscal ou social tem uma mesma finalidade estatal, a preservação do Estado como projeto de poder de uma classe que se apodera dele. Assim como tem uma mesma consequência criminosa aos direitos naturais de todos os demais excluídos. O que muda é abordagem e a ideologia.

A primeira, a petista, diz que o poder governamental pode tudo desde que saiba justificar popularmente seus mandos e desmandos. A segunda a fisiologista, diz que o governo pode se omitir de tudo, desde que não cobre mais do que gaste, ainda que tudo o que eles gastem seja apenas com a sua própria barriga. Ambas, uma pela esquerda outro pela direita dão no mesmo lugar, estados de exceção autoritários com forte viés totalitário.

O Estado assim destituído de razão social simplesmente não tem mais razão para existir, nem sequer do ponto de vista clássico. Se não for para dar cumprimento constitucional as garantias dos direitos fundamentais não há porque manter um Estado. Não importa se o que se impõe é a sobrevida do aparelho estatal ou a de um projeto de poder partidário. Não importa nem se o Estado não é mais inchado e corrupto — como ainda o é. Mesmo mínimo, mesmo que composto de um único canalha este Estado é simplesmente um máfia por definição, porque vende nada mais do que a proteção contra sua própria violência territorialista. Não passa portanto de uma ditadura, não por retórica jurídico-positivista mas por definição jus-natural, seja aqui ou em Marte.

Em outras palavras, a ausência de recursos da máquina estatal para bancar sua razão social já é sua falência. E a cobrança de impostos para simplesmente mantê-la a reiteração da expropriação primitiva, apenas parcelada. E como se não bastasse a legalização desse crime, não mais como direito de omissão mas como dever dos governos de se eximir das obrigações basilares do contrato social é a própria institucionalização do regime de austeridade como a mais nova forma de ditadura tecnocrática financeira. Uma ordem criminosa onde a omissão da garantia do minimo vital é mais do que um golpe, é a “legalização” do genocídio estatal dos mais pobres e carentes como dever fiscal.

Não. Não é porque Al Capone aprendeu a fazer contabilidade que crime deixará de ser crime. Não gastar mais do que se pilha não faz o estado mais legitimo, faz ele menos insustentável, e mais eficiente, mas tão criminoso quanto antes. Ou o crime deixa de ser crime só porque é organizado?

A responsabilidade fiscal não é isso. Ela jamais pode estar desconectada da responsabilidade social como finalidade maior. É obvio que o Estado não pode nem deveria gastar mais do tem só porque “pode”. E é claro que a a sociedade não deveria ser obrigada a bancar o que não pode nada. O crime do desenvolvimentismo-populista petista. Mas o Estado também não pode deixar de cumprir suas obrigações primeiras que não são bancarias nem financeiras, mas humanitárias e sociais! Não pode deixar de pagar o necessário para a provisão do minimo vital para todos, sobretudo os emergencialmente mais carentes nem para pagar propina nem para pagar as dividas feitas pelos propineiros: o crime desta nova austeridade neoliberal.

O Estado que não consegue cumprir suas obrigações não tem direito de aumentar impostos, nem pode mais monopolizar a garantir direitos humanos e bem comum. Ele só tem um direito: o de falir! E se morrer? Então enterra. Que uma nova república seja fundada. O que não se pode é matar o povo e a esmagar sociedade para salvar o Estado.

É por isso que devemos refundar nossa república nos pilares a democracia direta e renda básica. Precisamos definitivamente nessa nova constituição deixar tanto o controle da reserva possível quanto do cumprimento do mínimo vital bem longe da vontade política e sempre ao alcance dos nossos interesses comuns.

Em suma, a reserva do possível deve ser usada para pagar sempre prioritariamente o minimo vital como renda básica. Primeiro porque ela é composta dos dividendos sociais que não podem ser usados para outro fim pois pertencem ao cidadão e não ao Estado. Depois porque se tributos forem necessários para complementar o cumprimento destas obrigações, eles precisam ser aprovados diretamente pela sociedade. É somente sobre o excedente dessas reservas (que não é pouco) que pode incidir outros gastos. E ainda sim devidamente apontados e aprovados não pelo congresso mas pela vontade popular. O resto meu amigo, é isso aí, ditadura para corno disfarçada de democracia.

Talvez você esteja se perguntando por que ninguém avisou o PT disso? Por que ninguém disse a eles que esse cabresto e o curral iria acabaria caindo nas mãos de fascistóides? Porque eles não trabalharam para transforar programas governamentais em direitos constitucionais invioláveis?

Faz-me rir. Eles não foram só avisados, foram denunciados- ainda que quase ninguém tenha dado ouvidos. Aliás, como se eles não soubessem, ou como não quisessem a mesma coisa que caiu nas mãos do outro nas suas, só que pintada de vermelho.

Esquece.

O Estado Minimo Social ou Panarquista

O Estado minimamente legitimo não pode ser um estado minimo liberal, porque ele não tem direito de liberar nada, porque nem sequer tinha o direito proprietário de proibir seu acesso. O Estado minimo precisa ser social. Precisa garantir a cada cidadão e a sociedade as suas posses particulares e comuns, e logo tudo que é produto delas.

A posse, o controle e as propriedades públicas e nacionais pertencem política e economicamente aos cidadãos como garantia de fato do minimo vital e da participação das decisões públicas via democracia direta. Onde todos tem a renda básica incondicional para comprar e bancar a produção de tudo o que precisam, e a democracia direta como liberdade absoluta de associação de paz: eles podem produzir e comprar não só produtos e bens de consumo, mas serviços sociais.

E mais: podem bancar eles mesmos seus governos e até a produção das leis e cultura e até mesmo os sistemas econômicos e comerciais onde farão o intercambio livre dos seus valores e criações. Ou seja, poderão criar ou aderir aos sistemas de valores enquanto relação consensual de todas as espécies das financeiras e politica, às religiosa e culturais, desde que não tentem impor violentamente esses valores a ninguém mais.

Em outras palavras um estado onde todas as leis derivam de um único direito natural garantido como dever social, de uma unica lei: a lei da garantia absoluta de associação de paz contra todas as formas de violência, sobretudo as supremacistas. A lei contra todos os monopólios sobretudo o primordial: O Estado.

O Estado minimo social é um território de proteção libertária, o anti-Estado de contra-cultura do monopólio fundamentalista da violência. É portanto um território como qualquer outro que se sustenta pela força dos seus habitantes, mas não a força alienada a um poder supremo ou superpotência. O estado libertário se mantem pela distribuição igual e equilibrada dos poderes e autoridades pela garantia de liberdades fundamentais entre todos. Sua defesa é baseada na cooperação contra toda privação ou agressão que tente refundar os Estados de poder, e na finalidade unica de restabelecer as próprias relações de equilíbrio de forças que são a base de sua paz e prevenção contra todo supremacismo sobretudo aquele que emerge da própria sociedade pelo medo e terror.

Uma revolução social e panarquista com certeza. Mas contra-violenta consensual e sobretudo libertária como ordem não só naturalmente livre, mas ecológica e socialmente pacífica.

Se o Estado for a confederação de povos e pessoas livres vivendo num mesmo espaço mutuamente protegido contra os monopolizadores violentos do mundo. E se o capital for o direito de cada pessoa a propriedade do que é seu por necessidade e reconhecimento, lhe é necessário a vida própria em comunhão de paz comum. Então meu libertarismo anárquico é estadista e capitalista. Ou se preferirem meu capitalismo de estado é panarco-libertário ou simplesmente ecológico mesmo.

Não tenho nada contra governos nem contra capitalismo desde que todos sejamos os rentistas de nossas terras e propriedades comuns, e todos tenhamos o direto e inalienável de poder decidir juntos o que fazer delas. Estado e Capital não são um pecado. Ter terra e um território para usufruir dos meios necessários a vida e ao trabalho em liberdade não são nenhum crime, mas sim um direito universal.

Crime é privar os povos e pessoas desse direito fundamental de autodeterminação e soberania absolutamente imprescindível a coexistência pacifica da diversidade de formas de vida, valores e concepções sobre uma mesma nação ou Planeta.

Erros Históricos

A velha esquerda sempre se fez de desentendida, mas a nova esquerda está demorando demais para entender os erros históricos que, se repetidos nos enterrarão vivos enquanto dormimos.

Não se consegue manter um país do tamanho do Brasil tão apequenado, escravizado e dominado por tanto tempo, nem mesmo com as técnicas de dominação extremamente avançadas aqui desenvolvidas desde a época da colonização, sem no mínimo muito conivência de quem se prega como a vanguarda da defesa popular e ignorância da nossa própria identidade e psique comuns.

Os portugueses não são burros, burros (e de carga) sempre fomos nós que não implodimos os arcabouços socioculturais e institucionais panópticos que eles deixaram para serem ocupados por seus fidalgos vendidinhos a todo e qualquer império mercantilista que amarrasse suas naves em nossos portos.

Portugal não foi só um império, foi a primeiro Estado-Nação do Mundo, e liberal muito antes dos britânicos descobrirem o liberalismo ou as Américas. É por isso que a pergunta que Tomas Paine fez no panfleto mais revolucionário dos últimos tempos: “como pode uma ilha governar um continente?” era uma resposta que a aristocracia e oligarquias portuguesas tinham na ponta da língua e da penadas e canetada das suas burocracias muito antes dos ingleses.

Mas não quero menosprezar a inteligência da aristocracia britânica- afinal sua monarquia sobreviver até hoje não é fácil-, mas como demostram as cartas vazadas da diplomacia inglesa-portuguesa da época convertido a “meros capataz das feitorias ingleses” e consumidor de quinquilharias, estamos desde revolução industrial. Pode-se dizer que a submissão do primeiro estado burguês é o preconizador da queda desse mesmo poder reduzido a mera condição de classe média e mediadora do poder das elites aristocráticas e oligárquicas contra os povos, tanto na divisão nacional do trabalho quanto na internacional.

Os ocupantes desse império tem muito a agradecer a seus ancestrais colonizadores, deles não herdaram apenas territórios imensos mas técnicas de dominação escravagista bastante avançadas para época — claro que limite que toda brutalidade pode ter de “avançado”.

Toda cultura popular, servil e idolatra, católica-messianista, todo aparelho tecno-burocrático desenvolvido desde as capitanias até os cartórios hereditários, continuaria servindo perfeitamente de arcabouço institucional aos novos senhores do Brasil, e embora a falta de atualização desses ferros esteja matando os aprisionados, conseguiram até agora ser o grilhão do grande elefante branco, dócil e amestrado, da America Latina.

E para que não confundam minha crítica com xenofobia nacionalista disfarçada de anti-colonialismo, quero repetir para deixar claro: a primeira vítima de todo um império é seu povo, e minha solidariedade aos outros povos dos lusitanos aos americanos, passando por todos britânicos e espanhóis é absolutamente a mesma que tenho por todos os povos nativos ou escravizados de qualquer lugar do Planeta, inclusive os mais desenvolvidos. Na origem não apenas transcendental, mas ancestral as histórias de todos os povos são todas iguais e remontam a Babel.

Logo a pergunta que cabia aos americanos revolucionários, ainda cabe a todos os povos do mundo em desenvolvimento ou não : como pode 99% se deixar dominar por 1%? Ora, pergunte ao “cara”, Lula sabe a resposta: Eles não deixam, meu querido, mas também não tem ninguém aqui arrastando eles pelos cabelos de clava em punho até as cavernas.

Precisamos entender um pouco do conhecimento milenar dos adversários da humanidade e humanismo cosmopolita para compreender o quão gostosa é a nossa submissão em tempos de vacas gordas. De Babel, a Washinton D.C.- passando sempre por Roma- não foram só os meios de transporte e comunicação que evoluíram, mas as técnicas de adestramento, segregação e dominação humanas. Faz muito tempo que um proto-estado não se ergue mais medieval como um Estado Islâmico. E faz tempo ainda que as hordas a cavalo do ocidente se cobriram de ouro e aprenderam as boas maneiras e a ética a mesa.

Como um povo se mantém um povo dominado? Pão e Circo? Que novidade há nisso?

Nenhuma, e por isso mesmo os estadistas do populismo deveriam saber que essas coisas se dão juntas e não separadas, ou o que é a mesma coisa, liberdades materiais e espirituais se não forem subtraídas pelo mesmo dominador, precisam estar devidamente combinados entre eles, a divisão da pilhagem dos servos e dos feudos.

Lula deu o pão, mas esqueceu ou confundiu a propaganda estatal com o próprio circo. E não é a toa como o próprio trabalhismo petista reconheceu que foi sobretudo pelo flanco da mídia que os velhos feitores retomaram seu cavalo.

Não adianta ameaçar tacar fogo no circo, meu querido, é preciso tomá-lo. E não era preciso nem ler La Boete, para saber isso.

Era só não se deixar se levar tanto pelo materialismo- não o marxista, mas o mercantilista mesmo- e ter lembrado o que ensinavam eclesiásticos de base que catequizam as esquerdas nas sacristias, achando que pregavam a libertação: nem só de pão vive o homem.

Era preciso não esquecer as lições dos submarinos missionários da nova teologia socialista cristã. Mesmo que fosse só para usá-la pragmaticamente, bem do jeito que o diabo gosta. Não era para acreditar, mas guardar: nem só de pão vive o homem, mesmo os mais carentes faminto. Porque dignidade não é privilégio só de ociosos e rentistas.

E feliz do povo ingrato que cospe prato batizado que comem, porque sabe se fingir de morto para comer o cú dos seus coveiros. Trair suas origens é essencial ao populismo de base, mas esquecê-la o seu fim até como farsa.

Sei que eles pensam que para nós qualquer caudilhos e golpistas a lá Lula, Dilma, Temer, Maduro, Serra, serve. Sei que para eles qualquer ditadura populista de merda, a direita ou esquerda serve, desde que a massa engula (à força) e depois eles colem a palavra democracia na porta do seu puteiro e possam comprar tudo e todos como quiserem.

Sei que para eles qualquer demagogo, qualquer falsificação ideológica capaz de pacificar a população e canalizar as aspirações revoltadas para uma nova cultura de massas populares serve. Qualquer líder carismático com escrúpulos precários e vocacionado ao estelionato profissional serve para vender seu eterno progressismo contra-reformista e anti-revolucionário, positivista ou católico, não faz diferença desde que o paraíso esteja sempre na promessa das escrituras, leis, púlpitos e palanques.

Sei que para eles qualquer Brasil serve desde que continue sendo uma eterna utopia para o futuro entorpecido enquanto eles pilham tudo. Mas mesmo as farsas escatológicas populistas não poderiam ter esquecido que as massas, os exércitos ou as igrejas são tão uniformes quantos eles querem, nem foram tão diversamente complexas como hoje.

E nós mesmo não objetivamento o mesmo que eles, não podemos cair em seus erros. Não é porque os libertários não visam o poder que eles não precisam entender dos seus vícios. Pelo contrário temos que olhar para eles com a coragem que os hipócritas que os cometeram nunca terão em reconhecê-los.

Eu não sei quanto a vocês, mas eu não estou muito disposto a esperar essa velha esquerda reaprender a aprender com os próprios erros. A vida é muito curta. Que os mortos enterrem os mortos.

Não podemos decair no erro do socialismo cristão trabalhista e pelego. Porque eles entregaram muito mais do que pretendiam as cobras que eles criaram. Não podemos criar cobras, nem alimentar criadores de cobras.

Bolsa-família e progressismo trabalhista? Escravidão assalariada e austeridade neoliberal? Não obrigado, eu faço meu menu: mais direitos sociais mais democracia não menos:

Renda Básica Incondicional e Democracia Direta já.

Conclusão

Não senhores. Talvez o impopulismo de Temer, sirva para isso mesmo, para simplesmente praticar um higienismo eugenista característico das oligarquias que não passaram de fato pelo trauma dos holocaustos explícitos. Mas pressuposições de intenção e ideologias fora, o fato é que o Brasil caminha para consolidar o modelo do Estado Centauro que já começa a enferrujar nos países desenvolvidos e agora como tudo que é lixo toxico será “exportado” para as periferias do mundo.

E a história se repete, ou melhor é propositadamente replicada. Pois assim como os EUA quando flertou com a renda básica nos anos 60, terminou com Nixon e foodstamps até descambar nos 80 em Regan. O Brasil que esteve até pouco tempo atrás na vanguarda desta revolução social, vai novamente voltado a sua condição tanto de exportador da natureza predada e conhecimento e importador de tecnologia, claro defasada.

E quando falo em vanguarda não estou falando em bolsa-família, mas da renda básica de cidadania que como lei era para ter sido marco, se não tivesse sido sabotada pelo próprio partido e não fosse ou tivesse se tornado a mera demagogia de palanque que é hoje.

Os programas efetivamente aplicados, as transferência de renda condicionada, neoliberais social-democratas, estão para o desenvolvimento humano, como o programa nuclear brasileiro para a geração de energia. São a Usina de Angra dos programas sociais. Um refugo ultrapassado e obsoleto que importamos quase que a força dos centro de poder enquanto os corsários pilham mais do que recursos naturais, mas nossa tecnologia, exatamente como o fizeram com o nosso programa do álcool.

Só uma verdadeira revolução democrática pode impedir a pilhagem e empobrecimento dos lugares do mundo condenados a eterna periferia da ordem global.

Somente uma democracia direta e popular poderia impedir que continuemos a importar velhas matriz tecnológicas e seu lixo tóxico tanto ecológico quanto social. Não precisamos disto. Especialmente quando aqui temos projetos-pilotos e soluções em políticas públicas inovadoras desenvolvidas pela própria livre iniciativa da nossa sociedade civil e que já estão sendo usados lá fora - com ou sem os devidos créditos. O que não é problema nenhum, mas solução!

Os golpes estão sempre onde estiveram nos governos que caem e sobem. Mas as revoluções também estão lá na sociedade civil e realizações independentes e populares do mundo.

Que a renda básica como prática continue a se espalhar mesmo pelo mundo! mas sem fronteiras e sem perder seu ativismo social e volte para cá sem cair nas mão dos nossos governos corruptos! Que voltem para as periferias do mundo porque não redescobrirmos e colocaram em prática essa velha utopia trancada nas academias e discursos politico eleitoreiros, até então esquecida e ridicularizada pelo senso comum, por mero acaso, fomos nós que a colocamos em prática por força da necessidade, por ânsia por liberdade e justiça social. E por força da necessidade continuamos a precisar dela.

Estou falando só de Otjiviero e Quatinga? Não, estou milhares de outros projetos, milhares de iniciativas livres que nascem e morrem pelo mundo como crianças enterradas sem nome. Pessoas e idéias que uma renda básica poderia salvar se estivessem literalmente nas mãos dos povos não apenas como direito de receber mas como condição de assumir voluntariamente a responsabilidade social de pagar.

Que a renda básica se multiplique, replique e espalhe sem patronos, donos, nem muros pelo mundo inteiro. E que não ocorra com ela o que ocorreu com a revolução da economia social e das microfinanças que foram, mais uma vez, apropriadas e corrompidas pelos poderes estatais e privados.

Que a renda básica incondicional seja realizada como a prática cotidiana de ética do ativismo social.

E que sejamos livres para destinar nossas reservas do possível não apenas comuns, mas também as pessoais quando bem o entendermos à garantia dos nossos meios vitais e ambientais. Que a basic income enfim se liberte da demagogia política e subserviência acadêmica para ganhar vida popular e se concretize de como práxis e metodologia coerente com seu espirito e princípios libertários: liberdade de fato para todos e não sonho que gente livre vende a escravos do paraíso que nunca terão.

Referência Bibliográfica: (leia-se “leitura obrigatória” para a nova esquerda)

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Marcus Brancaglione
ReCivitas Basic Income Democracy

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.