Renda Básica: Duas formas de dar uma mesma noticia

Elon Musk defendeu a renda básica: Uma boa nova ou uma previsão sinistra? E para quem?

Marcus Brancaglione
ReCivitas Basic Income Democracy
7 min readNov 7, 2016

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Todos hão de descobrir o nosso futuro… mais hora, menos hora.

Está é o notícia do portal do Uol:

A menos que os motores de busca de Google muito me engane, fora esse tal de “Glamurama”, nenhum outro portal grande ainda reproduziu a notícia. Não que a a opinião do cara seja tão importante assim, mas em geral eles reproduzem qualquer coisa que sai na grande imprensa internacional, em especial a americana. Porém não é isso que quero salientar, e sim comparar a matéria brasileira com as gringas, e melhor ainda com o que o tal do figura o Musk realmente falou.

Eis as matérias (duas, todas estão mais ou menos na mesma linha):

E aqui a entrevista no canal da NBC no YouTube:

Ou seja…

Basicamente a previsão sinistra do veiculo de desinformação brasileira é a seguinte: os robôs vão fazer o trabalho de merda, e as pessoas além de tempo livre para fazer o que quiserem receberão ainda uma renda básica para se sustentar- já que ninguém faz fotossíntese e precisa viver. E por mais tesão que os escravagistas tenham em ver outros forçados a trabalhar até se matar por um pedaço de pão, simplesmente o problema (para eles é claro; e não para os coitados obrigados a trabalhar para eles) é que não vai ter nada para mandarem os outros fazerem.

Mas então o que há de tão sinistro nesta previsão? Eles não vão ter o que querem das máquinas?

Primeiro: as pessoas não só não vão mais ter que trabalhar para poder sobreviver, elas não vão ter que trabalhar pros escravagistas para poder sobreviver. E eles não vão choramingar porque perderam sua mão-de-obra, mas porque perderam o grilhão que mantinha toda essa gente obediente sobre seu controle e domínio.

Segundo: essas pessoas não vão ter tempo livre para não fazer nada, ou ser livres para fazer o que bem entenderem, terão tempo livres para trabalhar e investir nelas mesmas. Poderão até mesmo estudar e virar autodidatas e sair “inventando” carros elétricos, ou fundando novas empresas inovadoras como a Tesla que vão acabar levando de vez suas velhas fábricas de lixo e servidão a falência.

É por isso que a noticia é tão sinistra para eles. Ela esta falando sobre o fim do trabalho forçado e alienado, o fim da escravidão salarial. Não é o fim da sua riqueza, mas é o fim do seu poder. Porque se a produção de riqueza, pode ser feita com máquinas, ou melhor ainda, por pessoas criativas e livres que as inventem, poder não se fabrica senão com privação de tempos,espaços e movimentos, não se produz sem servos e servidão e a destituição de liberdades.

Eu sei como soa o que Musk disse aos oligarcas arcaicos brasileiros porque já tive o “prazer” de conversar com muitos deles sobre uma renda básica. O que ele disse soa como um apocalipse tão grande como deve ter sido para seus antepassados escravagistas e monarquistas as notícias da revolução industrial e abolição da escravidão racial.

Ver a Fortune, noticiando que o presidente dos EUA e um dos maiores bilionários da inovação pregam a renda básica é tão apavorante para nossos donos do Brasil cartorial-feitorial quanto deve ter sido para os fazendeiros e traficantes de escravos do seculo XIX saber que o maior império da época, a Inglaterra, estava declarando guerra contra a escravidão e até afundando navios negreiros com toda a “mercadoria” dentro: os negros. Lembre-se que estamos falando de revoluções industriais e não culturais nem muito menos humanas.

Mas eles não deveriam ter tanto cagaço assim da renda básica. Porque para nós a periferia do mundo, a agenda continua sendo a mesma. As inovações e revolução industriais vão até chegar por aqui, novamente porcas, tardias e sucateadas, mas vão chegar… o que nunca vai chega por aqui nem como sucata é o estado de bem-estar social — nem mesmo o velho… quanto mais o novo. Até porque se chegar qualquer coisa minimamente parecida com garantia de direitos eles derrubam.

Logo para nossos senhores existe outra duas opções para dar fim a nossa pobreza e escravidão, ou mais precisamente aos pobres seus escravos:

Uma: não fazer nada, ou melhor fazer como seus antepassados, apenas trocar os nomes, as leis, mas na prática deixar tudo na mesma, deixar que os excluídos continuem carregando no lombo o que se poderia ser feito por máquinas como bem observou Darwin sobre nossas terras: aqui não se conhece a roda. E eu complemento: não se conhece porque a vida de um ser humano “subdesenvolvido” vale menos que um parafuso e continuará valendo enquanto não trocarem os donos do mercado e sobretudo dos valores das coisas.

Ou outra: deixar que os robôs tomem o lugar das pessoas também por aqui… sem medo. Porque não? Deixa eles levarem os empregos de todo mundo. Tudo que o racista e escravagista precisa fazer neste caso é não pagar porra de renda básica nenhuma para se livrar de vez dessa gente que ele tanto odeia e despreza. É só privar as pessoas de tudo que é natural e depois deixar os povos e populações morrerem e desaparecem!

Isto pode não ser mais uma opção viável nos países desenvolvidos — até porque: (i) as raças que eles não não querem na terra deles eles já deram fim; (ii) as estrangeiras eles deportam; (iii) as que sobreviveram eles segregam. Mas, por aqui? Qual é o problema? O que afinal nossos supremacistas locais teriam de fazer de tão diferentes que já não fazem, ou não possam continuar fazendo impunemente? O que quem tudo pode no Brasil não pode fazer contra quem não pode nada? E o que não puder, não tem erro: é só continuar fazendo do mesmo jeito, porque depois o Congresso, o STF ou a presidência vai anistiar ou legalizar seus crimes, até mesmo a escravidão.

Pra que tanto medo da renda básica então? Deixa de ser cagão. Aqui as revoluções dos sistemas de produção até chegam, mas quando chegam nunca vêm para trazer independência, a igualdade e a liberdade, mas os ventos contrários.

Porque então tanto medo até de dizer direito o nome da coisa: chama-se renda básica, não é renda mínima, nem salário, nem bolsa… é renda básica universal ou seja incondicional.

E não esquenta que o fogo e a roda só é uma ideias subversivas para os homens que descobriram como usá-lo. Mas para isso é preciso antes perder o medo do desconhecido e principalmente dos mitos dos todo poderosos. Enquanto vocês mantiverem o povo brasileiro como um cidadão de segunda classe perante vocês e seus governos porque temer a renda básica? Enquanto eles acharem que o que vocês roubam não pertencem a eles, nas tudo que os governo lhe dá é benesse ou favor, porque temer então?

Enquanto as pessoas não se considerarem verdadeiramente iguais em diretos, a renda básica não representará perigo nenhum, será sempre uma coisa para malucos, gênios ou então para povos “desenvolvidos”. E o brasileiro sempre admitirá que sua renda venha como bolsa e com cabresto. Não precisa temer. Enquanto o brasileiro achar que não pode, a renda básica será uma realidade tão longe da nossa quanto colonizar marte ou ter uma democracia de verdade…

Afinal como é que um brasileiro, poderia descobrir que tudo o que vocês propagam é um monte de lixo e bobagens e que ele enfim pode? Como? Um brasileiro? Um latino-americano? Renda básica por aqui? Só mesmo no dia em que nascer um Elon Musk na África.

Mas não se enganem donos do meu Brasil, alguma hora vocês também precisaram evoluir e se humanizar também, em algum momento da sua história vocês também vão ter que “descobrir” essa nova ferramenta da humanidade: a renda básica universal. É uma questão de seleção natural, até porque já inventaram coisa mais inteligente que o porrete.

Finalmente estamos chegando ao século XXI

Porém para não ser injusto (e não fechar a matéria falando de colonização) seguem:

Uma matéria brasileira de um site de tecnologia sobre a declaração de Musk sobre a renda básica…

E outra matéria, esta da grande imprensa sobre a precária abolição da escravidão nas Américas:

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Marcus Brancaglione
ReCivitas Basic Income Democracy

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.