Marginais: quem escreve por aqui? #4
A Revista Marginália foi idealizada, a princípio, por uma mente pensante que, depois, se juntou a mais três. Com o apoio dos leitores e um — rápido — crescimento, já abrimos dois processos seletivos. Hoje, somos 5 editores-autores e 9 autores. E essa série tem como intuito prestigiar a cada um que construiu a Marginália nesse tempinho.
Tayara Causanillas, minha amiga, conterrânea e futura colega de profissão, é a quarta nessa série — que ela mesmo idealizou. Convidei Tayara no primeiro momento da Marginália, e com a sua ajuda no editorial, continuamos crescendo.
Sempre brinquei que o dia de Tayara tinha mais horas que um dia normal, porque não é possível de dar espaço para tantas atividades.
Ela admite que são realmente muitas coisas; fala que está cada uma ocupando uma parte de sua vida. Dentre elas, está se formando em em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde teve a oportunidade de entrar e participar de diversos grupos de pesquisa que lhe puseram em um contato maior com as matérias de direitos humanos e direito internacional, pelas quais nutre grande paixão. Mas Tayara também tem "outros amores": além de ser facilitadora holística, o que lhe propiciou um autoconhecimento e um encontro com a filosofia fenomenais — que em muito são aproveitados nos textos publicados, também "faz o que pode para cuidar de animais e gente, pelo mundo, seja com trabalhos voluntários ou só emanando boas energias" — tarefa jamais menos importante na sua trajetória.
Diz que a urgência a levou a escrever. Ela afirma que desde que pode se recordar, ela escreve:
Cartas para amigas de colégio, cartas para mim, cartas e mais cartas que passaram a ser poemas, depois, prosa e, então, infelizmente (ou não) voltaram-se à redação do ENEM e, por necessidade, hoje aos artigos científicos e acadêmicos. Por algum tempo escrever foi um refúgio. Quiçá ainda seja: ponho-me nas letras tão crua que consigo ser autônoma de mim. Por isso, escrevo: pela urgência de ser eu, em qualquer área da minha vida. É uma paixão, uma aventura e, sobretudo, uma introspecção inenarráveis — uma pulsação por dentro que, como diria Vinicius, os poetas dão o nome de esperança. Escrevo, sobretudo, porque eu sou eu e a escrita também o é.
Quando perguntada sobre o motivo de escrever na Marginália, Tayara responde:
Um convite e uma ideia. Um convite de um amigo querido, que costuma me lembrar João Cabral de Melo Neto. Uma ideia de acesso livre à informação de qualquer tipo.
Ela entende que, por escrever muito no ambiente acadêmico, começou a perceber que a informação fica demasiadamente presa ali. Mas a discordância pela seletividade dos públicos da informação é maior: não devem haver barreiras para informação, o intuito é levar todo seu estudo das paredes da Universidade a, literalmente, qualquer pessoa.
E ao buscar suas referências na literatura, Tayara não se limita. Cita Oscar Wild, Aldous Huxley, Millan Kundera, Albert Camus e Gabriel Garcia Marquez. Para ela, todos são essenciais, pois mostram um tanto da insensatez humana, e como ela é bonita, ironicamente crítica e irrazoavelmente instável.
A editora, que se define como transeunte, pensa que a sociedade hoje é passageira:
Para além de todas as polaridades e para além de todos os questionamentos sociais que são permanentes alvos de críticas da nossa revista, não posso me abdicar de mim nessa resposta. Acredito, sinceramente, que estamos em um trânsito perpétuo que vai reproduzindo as maneiras pelas quais já vivemos porque simplesmente não pensamos poder viver de outras maneiras — e isso é grave. A sociedade é sistêmica. A mudança, necessária.