Aos meus amigos esquerdistas

Tayara Causanilhas
Revista Marginália
3 min readJul 15, 2019

Essa é uma coluna de opinião.

Há pouco, recebi a notícia de que o avião presidencial carregava alguns — muitos — quilos de drogas ilícitas.

Dias antes, recebi a notícia que a minha faculdade, por acaso pública, era acusada de “balburdia” e que todos os estudantes, sem distinções, eram usuários de drogas.

Peço licença para o desabafo. Isto aqui não é poesia, mas poderia ser.

Charge — Abraham Weintraub

Quando entrei na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no semestre de 2016.1, fui abordada por algum veterano que tentava esclarecer sobre as eleições do DCE, que estavam por vir. Eu não tinha a menor ideia de como funcionava uma faculdade aquele tempo — e certamente não tenho muita ideia, hoje em dia.

Tratavam-se, entretanto, de pautas por mim conhecida das propagandas eleitorais frequentes dos anos de eleição. Por uma universidade justa, igualitária, integradora.

Logo no primeiro período, entendi do que se tratava: a Universidade, embora, à época, ainda bem estruturada, carecia. [e carecer é um verbo transitivo indireto, ao qual deveria ter complemento: a ausência é proposital, a carência é geral].

Tínhamos a estrutura, tínhamos os professores. Faltava aos alunos, base. Às vezes, faltavam professores. Não era incomum faltar a estrutura. Gente que vinha de todo o canto do Rio para ter aula na central e, por vezes, não chegava; gente que vinha de todo o canto do Brasil e tinha que se virar pra caber no Rio e, por vezes, não cabia.

Gente que dizia não medir esforços para estar ali. Mas dessa premissa, eu já duvidei bastante.

E, no meio desse caos, percebi que o DCE e o Centro Acadêmico tinham pautas justas, mas também tinham partidos. E aos que dali participavam, mais interessavam os partidos do que as pautas justas.

Vejam, quando somos bebês, aprendemos a gritar para ter o que nos é necessário. Mas, quando aprendemos a fazer manha, pouco tempo depois, começamos (ou deveríamos) a ser ignorados por nossos pais. Porque a manha não tem razão de ser.

E o que o movimento estudantil faz, é manha.

Não há organização. Não há coerência. E, pior: não há bom senso.

A Universidade Pública pode não ser uma perpétua balburdia, mas é a iniciação partidária de pessoas que não lutam por ela. E, ao defenderem mais a sua posição do que as pautas que deveriam ser postas, a Universidade ficou ao revés de críticas pouco instruídas, mas muito pertinentes.

Não, não é só balburdia. Mas ninguém consegue demonstrar isso, não é mesmo?

Aos meus amigos esquerdistas,

ainda universitários,

se organizem. parem de fazer da vida acadêmica um palanque. e, talvez, possamos defender o nosso maior bem: a educação.

A coluna de opinião é um espaço aberto para nossos escritores e editores se manifestarem com suas próprias ideologias.

Nesse espaço, essencialmente democrático, a opinião do autor nem sempre reflete a dos demais editores/escritores, e, consequentemente, da revista.

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Tayara Causanilhas
Revista Marginália

o caos acometeu e eu não deveria ficar acordada. aprende a viver agora, Tayara.