“Quem anda com porco, farelo come!” — O derretimento do bolsonarismo nas eleições municipais/2020

Alberto Luiz
Revista Marginália
4 min readDec 3, 2020

Nunca na história dessa empresa vital essas coisas aconteceram com tamanho alarde. Nesse imenso canteiro de obras chamado Brasil, nunca um presidente foi tão corrosivo para seus próprios apoiadores quanto se mostrou “Poketinaro”. É justamente nessa hora que encontramos na sabedoria popular um valor indispensável para compreender os movimentos políticos no Brasil.

Charge Duke

Quando as eleições de 2018 confirmaram o inexplicável, a vitória de um bufão reacionário com tesões autoritários, os progressistas sofreram um grande baque. Quem poderia contabilizar o estrago que a organicidade da democracia Brasileira iria sofrer com a turba de reacionários que foi alçada ao poder pela onda do antipetismo, STF e tudo?

Dois anos após esse pleito, o brasileiro se deparou com um governo que lutava contra todos e inclusive consigo mesmo. A barbárie moral, o desrespeito com a vida dos seus cidadãos e a completa desconsideração pelos ritos da democracia demonstraram em menos de dois meses um país dividido em duas possibilidades de futuro um golpe definitivo na democracia ou um governo desmoralizado sem poder de executar nada… Bem não foi por falta de vontade que o golpe não aconteceu.

Entretanto, quando dizemos: “o Brasil não é para amadores”. Isso também vale para quem está no poder. Depois de muitas intrigas, ministros nazistas, golpistas e marrecos, atritos com a câmara, com o STF, com sua própria base e a própria pandemia que ainda assola o mundo, o bolsonarismo chegou as eleições municipais crendo que surfariam na mesma onda que surfaram em 2018. Entretanto, o mar secou, a onda não veio e as urnas demonstraram que o nome do presidente da república era um péssimo slogan de campanha.

https://g1.globo.com/pe/pernambuco/eleicoes/2020/resultado-das-apuracoes/recife.ghtml

Em números os desgaste do capital político do bolsonarismo se expressou de forma gritante. Aqui em Recife, Delegada Patrícia ficou em quarto lugar, com apenas 14,06%; em Belo Horizonte, Bruno Engler (PRTB) ficou 9,95%; Manaus: Coronel Menezes, do Patriotas, chegou na quinta colocação, com 11,32%; e em São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos), que iniciou a campanha como favorito, terminou o pleito com 10,5%.

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2020/resultado-das-apuracoes/sao-paulo.ghtml

Vale destacar também que Val do Açai, candidata e ex-funcionaria fantasma do presidente não foi eleita, e terminou o pleito com 266 votos. A mãe Bolsonaro também amargou uma derrota no pleito, recebendo um pouco mais de 2.000 votos, não conseguindo ser eleita. Já Carlos Bolsonaro foi reeleito, mas encolheu cerca de 35 mil votos em relação a 2016, ficando em segundo com cerca de 71 mil votos, perdendo o posto para Tarcisio Motta (PSOL), que teve cerca de 86 mil votos.

https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2020/11/eleicoes-marcam-volta-da-politica-tradicional-e-danca-das-cadeiras-na-esquerda/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=eleicoes-marcam-volta-da-politica-tradicional-e-danca-das-cadeiras-na-esquerda

É inegável que a conta chegou para o bolsonarismo. Esse negócio de antipolítica, de chibata moral da sociedade não cola mais para ganhar eleições. Entretanto, vale ressaltar que enquanto as forças bolsonaristas de extrema-direita amargaram resultados pífios, isso não quer dizer que as forças da esquerda ou centro-esquerda tenham recuperado toda potência nos pleitos. Ou seja, se o bolsonarismo perdeu força, a direita e centro-direita se fortaleceu. Partidos como PSD, PP, MDB e o DEM saíram como grandes campeões das eleições municipais.

Resta a nós, esperar o que a grande dança de cadeiras que acontecerá até 2022, saímos dessa eleição com duas lições a) O pendulo popular moveu-se da extrema-direita e caminha para uma centro-direita, b) Quem anda no chiqueiro sai chafundado de lama.

Referências:

https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2020/11/eleicoes-marcam-volta-da-politica-tradicional-e-danca-das-cadeiras-na-esquerda/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=eleicoes-marcam-volta-da-politica-tradicional-e-danca-das-cadeiras-na-esquerda

https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2020/11/16/bolsonaro-levou-uma-sova-nas-urnas-isso-nao-quer-dizer-ja-perdeu-em-2022.htm

Colabore com as mídias independentes.
Siga a Marginália no Twitter, Facebook e Instagram.

--

--

Alberto Luiz
Revista Marginália

Doutorando em filosofia, ouvinte de música indie. Um colecionador de histórias cotidianas. Escrevendo sobre filosofia, arte, e outros devaneios.