Mariana Catapano
Mari Extravasa
Published in
2 min readMay 23, 2019

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A menina dá espaço para você se tornar a mulher que deseja ser

Sair da meninice requer coragem para bancar a própria vida, o próprio ser.

Quando ainda uma adolescente eu tinha algo que me incomodava bastante, e era o fato de acreditar que imprescindivelmente um dia deveria me tornar mãe. Toda vez que alguém tocava no assunto, eu sentia uma pontada, um angústia no lugar do coração. Sem dar muita atenção a isto, fui crescendo e vivendo.

Namorei, casei e a cobrança social continuou, as vezes de forma velada, as vezes de forma escancarada. E a angústia continuava, e piorava, porque eu via que não era algo passageiro, e agora? Percebi que eu não tinha a mínima vontade de ser mãe, e mais do que isso, eu categoricamente não queria. Por um tempo achei que havia algo errado comigo, sei lá, defeito de fabricação. Por um tempo comecei a imaginar que algum trauma insconsciente, ou medo pudesse estar boicotando esta tão tão sonhada característica nata em toda mulher em um dia abraçar a maternidade.

Depois de uma montanha russa quase infinita de trabalhos internos e auto percepção, percebi como a coisa era simples e como mesmo assim me deixei abater pela ideia a mim vendida de que a maternidade seria uma fase obrigatória da minha existência.

Àquela menina que um dia achou que para ser querida, amada e validada precisaria atender aos padrões vem crescendo e dando espaço à mulher que veio pra ser. E com isso, as máscaras vão caindo e a vida vai ficando alegre e leve, e sim, muitas vezes difícil e quase insuportável, porque a gangorra da vida continua, mas a cada subida a sensação de próprio pertencimento vai ficando maior e não há espaço para atender expectativas alheias.

A maternidade compulsória é um assunto pouco falado e talvez seja importante dar espaço a novas reflexões e novos caminhos.

Espero de todo meu coração que as mulheres dos novos tempos sejam mães porque assim o desejaram.

Espero que à romantização em torno da maternidade dê espaço à mães reais e possíveis. Espero que não continuem achando que mulheres que não são mães, tem algum problema psicológico, trauma ou que não gostem de crianças, ou o que mais se possa achar. São mulheres como todas as outras com necessidades e vontades próprias.

Sair da meninice requer coragem para bancar a própria vida, o próprio ser.

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