(Crítica) Porém Bruxa

Maria Anna Leal Martins
Maria Anna Martins
Published in
3 min readNov 27, 2020
Capa do livro “Porém Bruxa” da autora Carol Chivatto

O melhor livro que li nesse ano até agora. Além de bem escrito, é óbvia a influencia da pesquisa da autora, Carol Chiovatto, que trabalha academicamente com o tema.

A personagem principal parece alguém real com que eu toparia tomar um café. Além disso, estou irremediavelmente apaixonada pelo Corregedor e quis matar a autora ao fim do livro. E vocês sabem, a gente só quer matar a escritora em dois casos: quando amamos ou odiamos um livro. No caso da Carol, foi definitivamente a primeira opção.

Quero muito outros livros nesse universo criado por ela, uma fantasia urbana, com direito a tudo: magia, divindades, intrigas, mistério e até temas sérios sendo discutidos, como o assédio e as condições precárias de vida dos moradores de rua. Inclusive, os espaços urbanos são muito bem aproveitados por Carol, que consegue levar o leitor direto para a SP dela, tão parecida com a real, mas bem mais misteriosa.

Os personagens secundários são todos necessários, com suas vidas próprias e vozes diferentes, eles somam de fato a história e cada um contribui a sua maneira para o desfecho. Ninguém foi desperdiçado na trama.

A escrita é leve, bem do jeito que mais gosto, em primeira pessoa. Só demorei a terminar porque estou em uma fase lenta de leituras em minha vida. Gostei do suspense bem elaborado pelos fatos e as pistas que a autora deixa ao longo da história e não necessariamente notamos à primeira vista.

A forma como a escritora escolheu representar as divindades do livro e montar a organização das bruxas e bruxos também foi boa e desperta nossa curiosidade por ler mais, por entender mais sobre o que há de real ali e o que ela se inspirou para criar a mitologia do livro.

Só teve um momento em que a personagem principal se dirige diretamente a nós, em uma quebra da quarta parede, que pessoalmente achei estranho, mas nada que afetasse demais o livro.

Não sei se a escritora editou sozinha a obra ou contou com um bom revisor e leitor crítico, mas o livro está muito bom, a editora Avec merece parabéns. Não senti pontas soltas, os diálogos são ótimos, bastante verossimilhantes, sem soarem forçados.

Basicamente, a bruxa Ísis me encantou (e o Victor também). Fiquei muito feliz em saber que existe previsão de uma continuação para o ano que vem, com certeza irei comprar.

Recomendo demais a leitura.

P.s: depois de lerem, falem com a Carol para pedir o capítulo extra que ela fez, sob o ponto de vista do Corregedor. É muito bom.

Sobre a capa e a diagramação

Simples e diretas, a fonte da capa é ótima para trazer o misticismo e misturar com a sombra da cidade deu o tom perfeito do livro. Realmente não mudaria nada. Parabéns a capista e diagramador.

Sinopse:

Ísis Rossetti é uma bruxa. Seu trabalho é monitorar crimes envolvendo forças sobrenaturais na cidade de São Paulo. Apenas esses. As regras são claras: se não houver magia envolvida, ela não pode intervir. Mas em meio ao caos sufocante da cidade, a vida dos comuns está constantemente em perigo. Não há como não ajudar. Tudo se complica quando, em meio a duas investigações extraoficiais, Ísis recebe uma missão de uma divindade. Ela precisa então reviver questões pessoais que preferiria manter enterradas no passado, guardadas a sete chaves por seus amigos, enquanto tenta lidar com os vigilantes olhos do Corregedor.

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