(Crítica) Albertine

Maria Anna Leal Martins
Maria Anna Martins
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4 min readMay 9, 2019

“Por onde seguir quando o amor e a morte cruzam o mesmo caminho?”

O livro de Décio Gomes, autor pernambucano, pode ser descrito como uma obra perturbadora.

O romance é permeado de mistérios, como quase toda boa história de terror, os personagens são bem introduzidos e não demora muito para que o leitor comece a torcer pelo amor de Jeremy e Albertine, além de se apegar aos secundários, como a fiel criada Rosa. Porém, apesar dos infortúnios, quando as coisas parecem que vão melhorar para o jovem casal, novos acontecimentos de cunho sobrenatural dão uma guinada no livro e várias dúvidas surgem, segurando a atenção de quem está lendo.

A narrativa é em terceira pessoa e o livro possui 326 páginas, com capítulos medianos, entre 6 até 13 páginas. É bem descritivo em alguns pontos, tornando fácil imaginar os locais que o autor apresenta e também visualizar seus personagens. O fator “perturbador” aparece no próprio enredo a medida que a trama é desvendada e as perguntas são respondidas. Apesar de ter pontos clichês ao gênero como uma casa antiga, um livro misterioso e um jovem casal apaixonado, “Albertine” possui uma trama envolvente e instigante, mantida pelos mistérios que envolvem a mansão e o próprio Jeremy.

Os detalhes históricos e a clara pesquisa que o autor fez para realizar a construção do romance, deixam os pontos principais bem amarrados e, ainda que existam outros livros com a continuação, como “Minueto da Madrugada”, “Albertine” é independente, completo em si mesmo, oferecendo ao leitor a opção de escolher ou não continuar a série.

O elemento “terror” é bem distribuído no desespero e medo da personagem principal, apesar de faltar uma espécie empatia que provoca os mesmos sentimentos no leitor: sentimos o drama dos personagens, mas não fechamos o livro com medo de andar em um corredor escuro. Mesmo assim, o romance vale a pena pelo seu bom enredo.

Os cenários montados por Décio ostentam uma aura sinistra: a casa antiga, a floresta, os segredos da família e etc.. Mescla-se a isso a tensão criada pelos momentos de transição do “paraíso” ao “ inferno” dos personagens. Mesmo sendo elementos explorados com certa frequência pelo gênero, a história contada consegue fazê-los funcionar como um todo, jogando qualquer possível enfado ou bocejo de lado.

Os personagens também são bem construídos: Albertine inicialmente é apresentada como uma mulher doce e Jeremy, em geral, como um bom garoto, apesar de frágil fisicamente. A medida que seguem e eles crescem suas personalidades também evoluem para se adequar as suas realidades e, no caso de um deles, ser o foco da trama. A mudança de cenário, da cidade para a antiga casa, também funciona como uma espécie de gatilho para que mudem sua aparência inicial, a doçura e a bondade dão lugar a maldade e a força para resistir mesmo estando bem perto da morte. Essa transição é feita lentamente, mas fica clara a medida que os capítulos vão passando.

A relação dos personagens é trabalhada com cuidado, o carinho que o casal tem um pelo outro e a forma como os laços foram gerados entre todos é bem balanceada, descritas desde a infância, tanto entre o próprio casal, quanto dos criados. Outras amizades, como a com o padre, nascem da necessidade. Ou seja: nenhuma delas surgem do nada e tentam forçar o leitor a engoli-las, elas são construídas aos poucos, apresentando um argumento forte que as tornam convincentes.

O enredo é bem escrito, não é um livro cansativo, apesar dos detalhes serem muitas vezes expostos de forma minuciosa, e a leitura é agradável. É, em verdade, um bom livro. Não um extraordinário, “bom” é suficiente. Vale a pena ler, recomendado se você gosta de um pouco de mistério, um pouco de terror e uma pitada de sobrenatural, todos esses elementos misturados em um único exemplar.

Assista o book trailer!

Sinopse do livro:

Após infortúnios marcados por tragédias e separações, um jovem casal finalmente realiza o sonho do casamento. Seu novo lar seria uma antiga e majestosa mansão escondida no meio da floresta, recebida por Jeremy como única herança vinda de seu pai. Uma construção velha, repleta de histórias e segredos. Já na nova moradia, o jovem casal, assim como Rosa, a fiel governanta, passa a descobrir que a herança de Jeremy vai muito além daquela grande casa. Há algo muito maior: algo que coloca em risco todos os novos moradores da mansão. Albertine terá, então, que descobrir como escapar deste terrível destino, enquanto luta por seu grande amor, mas também por sua própria vida.

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