Às vezes

Mariana Gil
Maria do Ingá
Published in
1 min readSep 12, 2020
Vladyslav Dukhin

às vezes eu me sinto
como aquela mosca
que se debate
no lustre da sala de estar
iludida pelo calor da lâmpada
que a chama para novas cores.
às vezes eu me debato contra o lustre
e não sei mais descer ao chão.
às vezes eu sinto todas as certezas do mundo
dominarem meu coração como vento
em dia de tempestade:
se me perco, encontro
se me encontro, perco
se chovo, amanheço
se escureço, clareio.
às vezes eu nem sei quem eu sou
e nem para onde vou
girando em volta da mesa
sem saber o que fazer
- ou esperar.
às vezes eu sou confusa, outra vezes não
e choro, grito, sorrio
dou risada.
às vezes eu sei a direção.
se apagam as luzes, eu acendo uma vela
se iluminam a rua, eu clamo por treva
e antes de dormir faço minha oração
pedindo para que alguém tenha piedade de meus pecados
e me faça entender que
às vezes sou muitas, tantas, infinitas
e outras vezes sou poucas, só uma
vazia
bem perto de acabar

--

--