A feia do banhado

Fabiana Carvalho
Maria do Ingá
Published in
Aug 25, 2021
Crédito da Imagem: Sem título (Frans Krajcberg)

Estou visível, mas você não me vê.

Sou o obstáculo formado pelo corpo graveto –

pequena, manchada, escura, sombria…

E aquela que brota, torta, líber,

sobrevivendo aos sul-fatos e ao peso dos dias.

Sou lei e lama — a vida (de)composta, floema,

e quem defende as sementes membradas

lançando caules e raízes ao ar.

Eu sou aquela que respira por todas (nós)!

A mãe em solo instável e a simbiose –

o riso afora, a pneumo aflora, o mangue-beat!

A favela botânica

e a margem afro-latina do Atlântico

encontrando o braço nigredo do rio.

Mas você não compreende a união dos nichos,

como flores apontam no apicum,

como se supera, canoa, a corrente salobra.

Eu sou o trato das manhas e minas.

Eu sei porque sou a folha sã e a casca-grossa,

e eu sou quem fez crescer as irmãs.

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Fabiana Carvalho
Maria do Ingá
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