A (re)criação de mim

Vanessa Valles Leal
Maria do Ingá
Published in
2 min readAug 27, 2020
“Mãos desenhando”— M. C. Escher (1948)

Mente olho corpo:
confusão cegueira conflito.
E porque dói é que daí percebo,
me vejo estranha.
A mente é uma malandra melancólica;
não sossega, sabota
desfaz derrete escorre.
Crê cresce cria crua.
Latente,
lá dentro e distante,
igual e diferente,
mil mentes de mim.
Tem muita gente que não eu na minha mente.
Invisível indecisa metafísica.
Vai volta revolta.
A mente me toma, me tira do tempo, me esqueço.
E é aqui que paro e…
olho.
Sensível paciente.
Um olho, os olhos.
O olho é um recluso empírico.
Não transmuta, não pergunta.
Reflete pro interior a materialidade, a concreta verdade do que é.
Se abre e se fecha provisoriamente ou pra nunca mais.
Encolho recolho
escolho acolho
colho
olho!
Olho logo existo.
A imagem alimenta a mente.
Olho fraco, foco anuviado
incapaz para alhures.
A mente me povoa
pensamentos e expectativas.
Meu corpo implora para ser
descoberto-liberto.
Eu quase que fico sem mim,
fico sem fim.
Me escondo me iludo enfim
meus olhos acordam.
O corpo é negligenciado calado
magoado cansado ressentido.
Sozinho.
Ele que sabe.
Dois extremos intermediados, como raiz tronco galhos.
A mente joga
O olho julga
O corpo culpa.
A mente analisa
conversa, convence: está tudo bem!
O olho observa
e não consente.
Mente olho corpo:
equilíbrio atenção empoderamento.
E porque sou é que daí transcendo,
me vejo eu.

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