Carne Viva

Ana Favorin
Maria do Ingá
Published in
Jun 6, 2021
Colagem da autora

Meio ralados pela aspereza do dia,
nos deitamos em lençóis brancos.
Tudo mancha e dói.
Gruda.
A gente sofre um pouquinho, mas logo dorme.
O silêncio afaga em sua sozinhez,
com seus dedos finos e compridos pelos meus cabelos.
dedos de Bicho Papão.
A gente adormece com medo do escuro.
Acorda com medo da claridade.
Vai se esbarrando nas paredes rudes dos outros,
nos berros,
nos choros,
nas explosões nervosas de quem não pode mais.
Voltamos pra casa.
Carne viva.
Nos enrolamos nos lençóis.
Novas manchas de pus e sangue.

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