Lamúria
Meu amor, eu estou ferida.
É difícil lidar com a realidade
Estou juntando meus cacos,
Guardando meus destroços.
Coleciono-os em uma caixinha de madeira azul
Destroços ensanguentados, bem cuidados, amados.
Ferida ainda aberta, incicatrizável.
Punhal de prata, punhal de prata.
Eu sei quem me mata
Todas as vezes que fiquei calada
Quando tive medo de morrer de amor
Nunca morri de amor, ele não mata.
Mas carrego todas as cicatrizes em meu corpo
Nas costas, nas mãos, nas pernas, no coração.
Irresponsável a mulher que ama
Sofre e ama mais uma vez
Responsável por toda ilusão sentida
Amei quando me senti possuída
Qual o preço da liberdade?
Amei quando me disse: Você é minha.
Chorei sabendo que não sou e jamais seria.
Sou livre, não posso não ser.
Sou livre, mas queria não ser.
Gostaria de me perder na imanência, mas transcendi.
Todos os homens que amei partiram em busca de segurança
Sou a experiência da liberdade presa em uma estrutura monogâmica
Sou certa que sou incerta.
Mas a culpa não é minha
O amor não é seguro, não é feito por certezas.
Me submeteram ao romance com posse
Me convenceram de que isso é o amor
Me invadiram com seu modelo pronto
E guardo em minha caixa tudo que restou.