Lamúria

Adriana Souza
Maria do Ingá
Published in
2 min readApr 8, 2021

Meu amor, eu estou ferida.

É difícil lidar com a realidade

Estou juntando meus cacos,

Guardando meus destroços.

Coleciono-os em uma caixinha de madeira azul

Destroços ensanguentados, bem cuidados, amados.

Ferida ainda aberta, incicatrizável.

Punhal de prata, punhal de prata.

Eu sei quem me mata

Todas as vezes que fiquei calada

Quando tive medo de morrer de amor

Nunca morri de amor, ele não mata.

Mas carrego todas as cicatrizes em meu corpo

Nas costas, nas mãos, nas pernas, no coração.

Irresponsável a mulher que ama

Sofre e ama mais uma vez

Responsável por toda ilusão sentida

Amei quando me senti possuída

Qual o preço da liberdade?

Amei quando me disse: Você é minha.

Chorei sabendo que não sou e jamais seria.

Sou livre, não posso não ser.

Sou livre, mas queria não ser.

Gostaria de me perder na imanência, mas transcendi.

Todos os homens que amei partiram em busca de segurança

Sou a experiência da liberdade presa em uma estrutura monogâmica

Sou certa que sou incerta.

Mas a culpa não é minha

O amor não é seguro, não é feito por certezas.

Me submeteram ao romance com posse

Me convenceram de que isso é o amor

Me invadiram com seu modelo pronto

E guardo em minha caixa tudo que restou.

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