Não é todo mundo que gosta de poetas
não é todo mundo que gosta de poetas
sonhadores, subjetivos, sensíveis demais
não pensam muito nas contas a pagar
[embora elas até tragam alguma preocupação]
na especulação imobiliária, na bolsa de valores, no preço do dólar
ocupam-se de tantas outras coisas
das ausências de sentimento e pão nas mesas
de curas para os males do mundo
das desavenças entre o real e a ficção
das dores que atacam o coração
dos confrontos entre razão e emoção, entre este e aquele território
do corpo dos povos em guerra e das mulheres fragilizadas
dos ferimentos do texto
das histórias ficcionais que zelam por nós
dos lares inóspitos e inexistentes
das mercadorias criadas ou carregadas pelas mãos machucadas
[dos trabalhadores comuns da Tarsila
das partilhas, das petições
da preguiça, das pandemias
da raiva, da rosa do povo, do riso da Monalisa
da saudade, do sentimento, do samba e até do sus
da vida, do que é importante pra viver
é disso que os poetas se ocupam.