Pare a poesia
peço que pare a poesia por um instante
quero descer e voltar para casa andando
peço para que tenha piedade
e que perdoe meus pecados
eu já não sei se quero escrever
sinto as rimas rasgando minha garganta
duras, cruas, insensíveis
como o temporal que cai nas tardes de verão
e destrói o bairro onde moro
se algum dia fui escritora
a lembrança se perdeu em minha mente
nem rascunhos jogados pela casa encontro mais
tudo sumiu
inclusive minha vontade
parece que já não quero mais a poesia
ela me testa, me cansa
e eu estou exausta
por isso peço que pare aqui mesmo
no meio da avenida
com o trânsito que grita
quero descer e terminar o percurso sozinha
talvez um dia eu decida voltar