A solidão da mulher negra: da infância a terceira idade

Iasmin Soares
Iasmin Soares
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2 min readJan 24, 2019

Esse é meu primeiro texto aqui. Me sinto muito orgulhosa de finalmente começar a expor meus textos, esse inicial é um artigo sobre um assunto muito sério a ser debatido. Fiquem com o texto.

Nas últimas décadas vem sendo observado um fenômeno social chamado: a solidão da mulher negra. Para compreender essa questão é de extrema importância que nos atentássemos à história do Brasil. Desde que as primeiras mulheres negras vieram do continente africano para o nosso país, por volta de 1530, elas tiveram e têm até hoje seus corpos abusados, hipersexualizados, preteridos e odiados. No período da escravidão elas eram separadas dos seus filhos, eram abusadas sexualmente pelos senhores de engenho e seus companheiros negros eram muitas vezes mortos, eram alforriadas antes de seus maridos e viviam uma vida praticamente sem ninguém.

Podemos fazer um paralelo entre a escravidão e a atualidade. Hoje as mulheres negras são separadas dos seus filhos devido ao genocídio da população negra, elas ainda são abusadas pelos patrões, os homens negros preferem mulheres brancas para manter um relacionamento, as negras segundo dados de 2010 divulgados pelo IGBE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que 52,89% das mães solos são negras.

As mulheres negras começam a sofrer essa solidão inicialmente na primeira infância. Tem início na escola, com as crianças excluindo essa menina negra das brincadeiras ou não querendo manter um vínculo de amizade. Ao decorrer de sua vida, essa criança não vai estar na lista das “garotas mais bonitas da sala”, o racismo vai fazer com que ela se sinta a pessoa mais feia do colégio. Devido a tantos episódios de racismo ela vai criar um auto ódio imenso.

Na fase adulta nós, mulheres negras, sofremos por ser preteridas quando o assunto é relacionamento, dados divulgados em 2010 pelo IBGE revelam que 52,52% das mulheres negras não viviam em união (independente de estado civil). Nós nunca somos escolhidas para receber afeto e nem para construir e manter um relacionamento amoroso, ficamos reduzidas a corpos para o prazer sexual.

Segundo o balanço do Ligue 180-Central de atendimento á mulher/2015, 58,86% das mulheres que sofreram violência doméstica eram negras. Com medo da solidão muitas dessas mulheres se submetem a relacionamentos abusivos e sofrem desde violência simbólica a violência física. As mulheres negras são as mulheres que mais são assassinadas no Brasil, podemos notar esse fato nos dados oferecidos pelo Dossiê Mulher de 2015, no qual 62,2% dos homicídios de mulheres vitimaram pretas.

Essa solidão é bem cruel na terceira idade. Existe uma crença que a mulher negra envelhece mais tardiamente e isso traz a tona o problema de a todo o momento querer parecer jovem, aliado a isso elas não se sentem representadas em lugar nenhum. Em questão da afetividade, segundo o IBGE entre as mulheres com mais de 50 anos, as negras são a maioria dentre as que nunca tiveram um cônjugue.

Termino com uma frase para reflexão de Sueli Carneiro, historiadora e fundadora do Géledes- Instituto da mulher negra, “Ser mulher negra é ocupar um lugar na sociedade brasileira marcado por múltiplas injunções que se potencializam para sua difícil inserção social.”

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