Storytelling para apresentação de novos projetos em Design de Produto

As histórias sempre foram importantes. Cabe a nós trazê-las para o universo da tecnologia.

Mariana Cestari
Mariana Cestari
9 min readOct 16, 2023

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Você já achou difícil vender uma ideia para o time de tecnologia?

Seja pela falta de familiaridade da audiência com a sua disciplina ou pela grandiosidade do momento, às vezes a hora de vender o seu peixe pode parecer um bicho de 7 cabeças (e não há “imagine que tá todo mundo de cueca e calcinha” que salve!).

GIF do personagem Charlie Brown engolindo em seco enquanto se prepara para falar em público.

Esse GIF ilustra bem o sentimento do fatídico encontro entre minha audiência eu. Ainda é (e provavelmente continuará sendo!) difícil falar em público, mas encontrei técnicas me ajudam a evitar a ansiedade. Porque, acredite se quiser, eu costumava perder o sono antes de apresentações importantes e hoje posso dizer com bastante confiança que tenho truques na manga para superar o nervosismo e fazer apresentações incríveis.

Tá, mas e aí? Qual o segredo das boas apresentações? Vem comigo!

Segundo a psicologia, confiança é tudo

Parece óbvio, né? Afinal, a ideia que temos de uma pessoa confiante é claramente a de uma que consegue falar em público e engajar sua audiência de forma calma e controlada.

Contudo, é normal sentir nervosismo ou insegurança ao ser avaliado por outras pessoas: estamos todos no mesmo bote. Um bom primeiro passo é fazer pesquisas com antecedência e demonstrar total conhecimento da ideia (mesmo que na base do improviso).

Segundo estudos da psicologia comportamental, o que ajuda mesmo é refletir sobre os possíveis resultados e entender que você sai dessa apresentação com mais ferramentas para o futuro, independente dos resultados. Para a ciência, confiança é sobre entender que o que não nos mata enriquece.

GIF da Ariana Grande arrumando o cabelo, pronta para o que der e vier.

Faça apresentações como os grandes contadores de histórias

Temos muito a aprender com as técnicas de Storytelling, pois contar histórias é a forma mais simples (e antiga!) de vender ideias. Essas são as minhas recomendações de livros para começar a aprender:

  • O Guia Completo de Storytelling — Fernando Palacios e Martha Terenzzo
  • Storytelling: Histórias que deixam marcas — Adilson Xavier
  • Storytelling no Design de Produto: Definindo, Projetando e Vendendo Produtos Multidispositivos — Anna Dohlström

As histórias sempre desempenharam um papel importante na vida do ser humano. Na Idade Média, por exemplo, ser contador de histórias (como um bardo ou um trovador) era uma profissão tão importante quanto a dos físicos (médicos da época) ou padres. Era basicamente um símbolo de status.

Pintura de um trovador medieval se apresentando para mulheres nobres.

Se a gente voltar ainda mais no tempo, vai perceber que as histórias são uma forma pré-histórica de se conectar com a sua comunidade. Só olhar paras artes rupestres, ou lembrar que muitas sociedades se basearam por muito tempo na cultura oral. Pinturas, histórias que circulavam no boca a boca e outras variações serviam para transmitir conhecimento, ideias…

Um dos registros escritos mais antigos de uma coletânea de histórias na forma escrita do Ocidente data da Grécia Antiga e você já deve ter ouvido seu nome por aí. São as chamadas "Fábulas de Esopo". Trata-se de uma coletânea creditada ao escravo Esopo que viveu na Grécia entre 620 e 564 a.C.. Elas nos ensinam lições de vida (entre a lebre e a tartaruga…) e são um recurso importante para professores e pais até hoje. Entretanto, as fábulas eram usadas para outros fins nas ágoras gregas.

Elas provavelmente foram originadas de exercícios chamados Progymnasmata, que aconteciam nas ágoras das cidades gregas. Basicamente: era im exercício com foco na composição de prosa e no discurso público. Os alunos eram convidados a ler fábulas e debater seu conteúdo para, então, reformular ou redigir novas histórias e usá-las em argumentos persuasivos diante de toda a turma. Muitas dessas histórias se perderam no decorrer do tempo, mas aquelas atribuídas a Esopo perduraram.

Pintura de uma progymnasmata grega.

E, no fim do dia, esse não é o PPT da Antiguidade?

Na prática, talvez não. Mas do ponto de vista teórico tem uma estreita conexão com o papel do storytelling no design de produto e no local de trabalho, seja para fazer apresentações, dar uma palestra ou apresentar um novo projeto para investidores e pares.

Saber contar boas histórias, então, nos ajuda a ter domínio sobre nossas apresentações do dia-a-dia em times de tecnologia.

A anatomia das boas histórias

Ainda na Grécia Antiga, Aristóteles escreveu o ensaio intitulado Poética, no qual fala muito sobre dramatúrgia e a forma de se contar histórias no teatro grego. Ele acredita que existem 7 elementos vitais para se contar uma história que engaja e persevera.

→ Personagens

Os indivíduos morais ou éticos da peça. Usuários ou personas.

→ Enredo

Um enredo ou A organização dos incidentes. A que leva a B e assim por diante.

→ Tema

O raciocínio por trás da história. Um fio condutor que a justifica.

→ Dicção

As conversas entre personagens (incluindo o narrador).

→ Coro

O som e toda deixa oral. A trilha sonora da sua história.

→ Espetáculo

O que causa impacto real. Aquele efeito surpresa que é lembrado.

A estrutura: toda história tem que ter começo, meio e fim.

Aristóteles definia começo, meio e fim como prólogo, epílogo e êxodo — ou apresentação, confrontação e resolução. Para ele, boas histórias não começam nem ao acaso. Elas caminham de acordo com as circunstâncias.

A pirâmide de Freytag

Estrutura crítica à Aristóteles. Traz o clímax em posição central, dando mais tempo para a resolução do problema.

EXPOSIÇÃO

Dá o contexto para a narrativa que será contada. Apresenta o cenário, personagens e informações passadas relevantes.

Vou usar um dos meus filmes favoritos pra explicar: Mamma Mia

A exposição nesse filme é quando a Sophie encontra o diário da mãe e começa a contar pras amigas que existem TRES HOMENS que podem ser seu pai. Aqui a gente também fica sabendo que a Sophie tá pra casar e chamou os três pra festa (sem avisar a mãe).

AÇÃO ASCENDENTE

Ocorre uma série de eventos que se aproximam do clímax. Esses eventos começam imediatamente após a exposição e geralmente são a parte mais importante da história, pois todo o enredo depende deles.

Quer mais ação ascendente que a Sophie tentando esconder os três ex-amantes da mãe? É eita atrá de eita.

CLÍMAX

O clímax é o ponto de virada na história que muda
a vida do protagonista. Aqui o enredo começa a se desenvolver, e muitas vezes é necessário que o protagonista use forças ocultas.

E o clímax é quando no meio da despedida de solteira da Sophie, todo o esquema cai por terra. Ela ainda não descobriu quem é o seu pai e a mãe já descobriu que eles tão lá. Ferrou?

AÇÃO DESCENDENTE

O conflito entre o protagonista e o antagonista desenrola, e o protagonista ganha ou perde.

Ferrou nada! Esse filme é pra quem tem coração de manteiga, porque Sophie e mãe se entendem e tem uma série de momentos juntas que fazem a filha entender que ela teve uma super-mãe, que nunca deixou a falta de um pai afetá-la. Aqui é win-win.

DESENLACE

Ocorrem os eventos finais da ação descendente até a cena final. O conflito é resolvido e um sentido de normalidade é criado para os personagens à medida que as complexidades do enredo são desatadas.

E o desenlace é quando a Sophie percebe que não quer casar, só quer viver um pouco mais da sua juventude. (E quem acaba casando? Isso mesmo Donna e o Pierce Brosnan que eu nunca lembro o nome no filme)

Vocês percebem que isso dá tempo pra audiência sentir junto da Sophie? Da audiência viver os altos e baixos do filme?

NAS PALAVRAS DE PIXAR:

A Pixar descreve isso de outra forma, mas a ideia é a mesma:

Era uma vez,
Todo dia,
Um dia,
Por causa disso,
Até que finalmente,

Era uma vez, UMA PESSOA USUÁRIA COM UM OBJETIVO.
Todo dia, A PESSOA USUÁRIA FAZIA A MESMA COISA.
Um dia, ELA PERCEBEU QUE PRECISAVA DE ALGO.
Por causa disso, ELA PENSOU EM UMA COISA.
Até que finalmente, ELA REALIZOU UMA AÇÃO
(E SENTIU ALGO NOVO.)

“Em geral, deve haver uma ideia básica da direção que a história está seguindo, mas não para todos os personagens. Você não sabe quem vai morrer e quem vai começar a ganhar importância. Em termos gerais, há uma ideia básica, mas você também precisa de algumas surpresas. É como dirigir de NY a LA: você sabe que vai chegar a LA, mas existem 10 caminhos diferentes que você pode pegar”.
— PETER GUBER

Falar em público também é sobre encantar pessoas (ser apaixonante é sucesso!)

No nosso dia-a-dia como desenvolvedores e projetistas de produtos digitais, precisamos capturar a imaginação e a atenção das pessoas com as quais e para as quais estamos trabalhando, e os usuários que temos em mente. Se eles se identificarem com a história que estamos contando, então nossos produtos, serviços e apresentações serão mais bem-sucedidos.

Atração das possibilidades

Quando você pensa em uma ótima palestra, provavelmente pensa em uma que abriu seus olhos para novas possibilidades. Ansiamos por direção e inspiração, queremos que as coisas que são importantes para nós melhorem — nossos corpos, trabalho, casas e relacionamento. Queremos sentir a atração das possibilidades; de ir além da nossa realidade existente.

Seja um ótimo storyteller…

Como designers de UX, proprietários de produtos e muito mais, umas das nossas principais habilidades é sermos grandes contadores de histórias. Precisamos mover e incentivar ação: e tem forma melhor do que aprender com os maiores da humanidade?

PORQUE NADA SE VENDE SOZINHO

É um erro comum acreditar que nossas ideias são tão boas que se vendem sozinhas. Mas, não importa o que você cria ou o quão bom é o seu trabalho se ninguém o vê ou ouve.

É aquela velha história: se você bate palmas para ninguém ouvir, você bateu palmas mesmo?

E SUA IDEIA PRECISA DE APOIADORES!

Um dos principais resultados desejados para o que quer que apresentemos é o desejo de que os membros da equipe, as partes interessadas internas e os clientes apoiem o que estamos apresentando.

“Se você não pode contar uma história, não pode vendê-la.”
— PETER GUBER

É PRA CAUSAR IMPACTO!!

A capacidade de causar impacto com sua apresentação, realizar um workshop bem-sucedido com clientes ou stakeholders está intimamente relacionada a ser um bom contador de histórias. Essa habilidade se torna cada vez mais importante à medida que você avança na carreira.

O storytelling não é a única forma de fazer boas apresentações, mas é uma forma super eficiente de causar impacto e impressionar no ambiente de trabalho.

Como escrever

Na prática, pode ser que fique algo como isso aqui:

Dicas importantes

🚪 Esteja aberto

Todo resultado é bem-vindo e nos ajuda a conquistar mais habilidades.

🧠 Seja o sabe-tudo

Conheça seu produto de cabo a rabo (ou esteja pronto para improvisar).

💬 Conte histórias

Inspire-se nos grandes escritores e storytellers que você admira.

💙 Crie vínculos

Fale com a sua audiência de forma dialógica (use referências, memes…)

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