Entrevista com Israel Salmen — feedback, kart e Stanford

Mariângela Guerra
Mariângela Guerra Psicologia
7 min readJan 24, 2018

Israel Salmen é co-fundador do Méliuz, o maior sistema de cashback do país. Nos 6 anos de empresa, o Méliuz já devolveu mais de 40 milhões de reais aos mais de 2 milhões de usuários cadastrados e pretende expandir muito mais.

Por liderar uma empresa que cresce tão rápido, certamente você já passou (e ainda passa) por momentos de alta pressão e ansiedade. Você tem um processo para conseguir lidar com isso? E como fez para evoluir essa habilidade desde o nascimento da empresa?

Isso sem dúvidas é verdade. É muita pressão e ansiedade, não muda nunca. Eu não achava que iria melhorar, mas na verdade só piora.

Para compensar isso, sempre estamos em busca de pessoas qualificadas e que temos confiança para colocar do nosso lado. Dessa forma, podemos dividir as responsabilidades e conseguimos dividir o fardo, e isso acaba nos ajudando muito no dia a dia.

Você tem algum hobbie que você acha que te auxilia no dia a dia?

Israel estreando no Campeonato Mineiro de Kart

Eu ando de kart. Inclusive em Belo Horizonte irá ter o campeonato mineiro, e irei participar. No kart não tem como pensar em outra coisa enquanto se está correndo, é totalmente impossível.

São raros os momentos em que damos uma ‘’desligada’’, e o kart me permite esquecer do resto do mundo.

Durante o final de semana saio com os amigos, namorada, mas nesses casos ainda continuo pensando nos negócios.

Como o ecossistema de startups de BH te ajudou na sua trajetória empreendedora? Você acha que isso pode acabar prejudicando os empreendedores em questão de ansiedade, pressão?

Quando começamos, não havia um ecossistema forte ainda. Isso acabou dificultando as coisas, não havia a quem pudéssemos recorrer, pedir ajuda, dicas. Acabamos patinando muito no início, talvez por não ter esse tipo de auxílio de outros empreendedores.

Hoje em dia eu avalio a comunidade completamente com pontos positivos. Conseguimos dividir experiências, conversar com outros empreendedores que estão passando pelos mesmos desafios, e ajudar um ao outro.

Quando você e seu sócio venderam a Solo Investimentos passaram por um período de começar uma nova empresa e ver as pessoas que começaram com vocês indo para outras iniciativas, crescendo. Isso gera uma frustração. Como foi lidar com isso e quanto isso te prejudicou ou até ajudou?

Foi uma pressão a mais, uma responsabilidade a mais de que não poderíamos errar. Nós estávamos dando esse passo para trás para futuramente dar outros para frente.

E a vida já tinha começado, era esse mais ou menos o sentimento. Eu e o Ofli (meu sócio) aprendemos a vida inteira e, querendo ou não, convivemos com esse sentimento diariamente.

Foi mais um pensamento do que algo que nos tirou o sono durante vários dias. A galera já está indo para o mercado de trabalho, está crescendo e estamos começando de novo. Ok, vamos lá.

No fim talvez tenha dado até mais impulso no negócio.

Sem dúvidas. No fim isso acabou frustrando no início mas deu mais força. Mas nos final das contas, se colocar tudo no papel dá para ver que a gente "não bate bem", hehehe.

Você acha que existe alguma forma para treinar, aprender e desenvolver a resiliência ou simplesmente se nasce assim?

Eu acho que nascer com isso é difícil, mas acho que a criação influência bastante. Quanto mais novo você tiver contato com isso, mais fácil vai ser para ser resiliente.

Eu cresci em uma família de empreendedores, o Ofli também. Nós vimos as pessoas em nossa volta correndo riscos desde cedo, então parecia algo normal.

Meu pai sempre me deixou livre para fazer o que eu desejasse. A única coisa que ele sempre me perguntava, é se eu achava que estava no caminho certo.

É difícil de se ter isso em todas as famílias, então sem dúvida isso influencia o nosso jeito de pensar. Talvez em outros tipos de criações, vemos perfis diferentes, como pessoas que já tem um pé atrás, com medo de fazer determinadas coisas mais arriscadas.

A natureza do Méliuz acaba atraindo fraudes. Quanto isso já te preocupou e te afeta no dia a dia?

Na verdade não temos problemas com isso. O Méliuz não aceita nenhum tipo de pagamento e todas as transações são feitas com os parceiros. O usuário só consegue resgatar o cashback para conta bancária com CPF próprio. Esse mecanismo ajuda muito a minimizar essa situação.

Apesar de não termos muitos problemas com isso, não deixamos de olhar e investir bastante em segurança da informação principalmente. Hoje nós temos algumas consultorias que trabalham com a gente, procurando brechas, contudo até hoje nunca tivemos problemas.

Qual situação do dia a dia que você sente impactar em sua performance, estabilidade? (Como problemas de família, funcionários, ansiedade)

Tudo na verdade, hehe. Quando estou dentro da empresa, me sinto dentro do kart. Eu entendo que se eu errar uma curva, faz parte. Irá ter uma próxima volta que terei que compensar, fazer melhor. Nunca vai ser perfeito. Mas tenho sempre que fazer o melhor, mesmo com problemas aparecendo.

Felizmente nunca passei por nenhum tipo de problema muito grave, seja com funcionário, família, ansiedade ou estresse que tenha me afetado mais de algumas horas.

O que você faz para continuar se desenvolvendo como líder?

Eu costumo falar que as pessoas com quem eu mais aprendo, são as pessoas que eu lidero. Acho que o melhor jeito de você se desenvolver como líder é liderando. Tentar perceber onde você pode melhorar, analisar onde está falhando. Receber feedbacks de sua equipe, saber filtrar, para melhorar mas não para mudar a sua essência pessoal.

Você não pode perder sua identidade. Você sabe que não é perfeito, mas não pode deixar as pessoas te moldarem. Tem de haver um equilíbrio, e a partir disso ir se desenvolvendo.

Ao longo do processo se percebe que existem pessoas que não irá haver uma relação muito boa, um bom rendimento. Isso é algo normal, aconteceu poucas vezes, eu já tinha lido isso em vários livros e vi isso acontecer dentro do Méliuz.

Pessoas que se enquadravam em determinada área da empresa, e que depois não fazia mais sentido mantê-las lá.

E busco sempre conversar com outros empreendedores, que já me inspiram ou que ainda não me inspiram, mas da mesma forma gosto de ver a forma com que eles trabalham.

Então se torna uma aprendizagem constante, por meio de conversas, conhecendo pessoas. No final tudo se resume a isso mesmo.

Não sou do tipo de pessoa que lê livros de gestão. Quero estar perto do empreendedor, para ter uma experiência real, no sentido de melhorar o meu time, junto com eles.

Quais os erros mais comuns que você vê líderes inexperientes cometendo? (inclusive que você mesmo pode ter cometido)

Eu acho que no Brasil principalmente, nesse cenário novo de startups de empresa de crescimentos exponenciais, são os líderes tomarem decisões sem se embasarem em dados. E frequentemente eu também cometo o mesmo erro.

Que conselho você daria para quem está em uma posição de liderança pela primeira vez?

Escutar mais e falar menos.

Quais foram seus maiores aprendizados no curso em que fez em Stanford? O que foi mais diferente do que você está acostumado em ver aqui?

Nós fomos juntos com as empresas do San Pedro Valley. Quando chegamos lá percebemos que era focado em um momento de empresas que a gente já havia ‘’passado do ponto’’.

Mesmo assim conseguimos aprender algumas coisas. Eu costumo falar que o mais valioso que aprendi lá, que é uma bobeira, mas que muda o jeito de pensar.

Campus de Stanford

Foi uma aula específica, um negócio super específico por assim dizer. Nessa aula deveríamos preencher quem eram nosso clientes. No nosso caso são e-commerces, Submarino, Netshoes…

Só que não, nossos clientes são os analistas de marketing dessas empresas, que tem um chefe que é diretor de marketing, que eles precisam bater metas para serem promovidos.

E é um negócio tão pequeno, tão banal , mas que faz muita diferença. E quando você começa pensar que seu cliente é o analista de marketing lá da Netshoes, um analista de afiliados por exemplo, muda tudo.

O jeito de conversar com ele, a forma de construir o produto muda completamente. E é um negócio tão bobo, que as vezes tenho vergonha até de contar, mas isso foi algo super marcante que aprendi lá.

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Mariângela Guerra
Mariângela Guerra Psicologia

Psicóloga especializada em ansiedade com objetivo de ajudar profissionais ambiciosos a lidarem com alta pressão e aumentarem seu desempenho profissional.