Ainda assim, eu me levanto

Mônica Wanderley
Marie Curie News
Published in
6 min readApr 30, 2019

A história de Maya Angelou

Quem é?

Poeta, cantora, escritora e ativista dos direitos civis;

Publicou sete autobiografias, três livros de ensaios e vários livros de poesia;

Atuou como atriz, roteirista, diretora e produtora de peças teatrais, filmes e programas de televisão, que já duram mais de 50 anos;

Recebeu mais de 50 títulos honorários.

Nascida na cidade de St. Louis, no Missouri (EUA), a pequena Marguerite Annie Johnson descobriu logo o cedo o amor pela literatura, que a salvou diversas vezes.

Hoje, dia em que completaria 91 anos, Maya Angelou é lembrada como um símbolo de resistência pelos direitos civis, em especial para as mulheres negras. Em um mundo tão hostil com a “minoria das minorias”, suas palavras se perpetuam como uma forma de resistência em um mundo, por vezes, machista e racista.

A escritora publicou livros, participou de várias peças de teatro, filmes e programas de televisão durante mais de cinco décadas de atividade, além de receber dezenas de prêmios e mais de 50 títulos honorários.

Suas sete autobiografias concentram relatos de sua infância e as primeiras experiências da vida adulta. O primeiro, Pássaro na Gaiola (1969), (I Know Why the Caged Bird Sings, no original) fala de sua vida até os 17 anos e proporcionou reconhecimento internacional e aclamação do público, e pelo qual foi nomeada para o prêmio Pulitzer em poesia.

Angelou morou com a avó paterna, Annie Henderson, durante a maior parte de sua infância. Quando tinha oito anos, foi estuprada pelo namorado da mãe. Após o incidente, o agressor seria encontrado morto após sair da cadeia. Acreditando que sua voz era a causa da morte do estuprador, a menina ficou cinco anos sem falar. A mudez só foi superada com a ajuda de uma vizinha e pelo amor à literatura.

“Mas um pássaro engaiolado fica no túmulo dos sonhos

Sua sombra grita em um grito de pesadelo

Suas asas estão cortadas e sua alimentação está amarrada

Então ele abre a garganta para cantar”

(Trecho retirado de Caged Bird)

Com apenas 15 anos, a garota se tornou a primeira motorista negra de ônibus em São Francisco. Foi mãe solo ao dar à luz seu filho Guy Johnson, aos 17, em uma época em que a discriminação contra mulheres que tinham filhos sem casar era ainda pior que nos dias de hoje, o que impacta diretamente na condição social dessas famílias.

A realidade pobre e com poucos recursos vivida pela poeta não é muito diferente da vida de milhões de mulheres, em geral negras, moradoras das periferias das grandes cidades brasileiras.

A SIS (Síntese de Indicadores Sociais) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) mostra que 56,9% das famílias chefiadas por mulheres com filhos vivem abaixo da linha da pobreza. Para as negras, a proporção sobe para 64,4%. O órgão utiliza o parâmetro adotado pelo Banco Mundial para definir a pobreza: famílias que vivem com até 5,5 dólares por dia, por pessoa no domicílio.

Até se tornar poeta e ativista, Angelou passou por diversos empregos, como cozinheira, dançarina, cantora, integrante do elenco de uma ópera, jornalista e professora no Egito e Gana, ajudando vários movimentos de independência africanos.

Angelou também trabalhou por alguns anos como prostituta e não tentava esconder essa parte de sua vida do público. Inclusive, escreveu o livro Gather Together in My Name (1974) (Reunir-se em Meu Nome, em tradução livre), relatando sua experiência durante esse período.

Na década de 1950, quando surgiu com o pseudônimo “Maya Angelou”, ela foi atriz, roteirista, diretora e produtora de peças teatrais, filmes e programas de televisão. Atuou na peça de Jean Genet, The Blacks, e no aclamado seriado, Roots, ganhador de um Emmy. Angelou foi a primeira mulher negra a ser roteirista e diretora em Hollywood.

Em 1982, a escritora foi nomeada a primeira professora de história americana na Universidade Wake Forest, na Carolina do Norte, onde descobriu sua paixão por ensinar. Ao final de sua carreira, a professora também fazia excursões e dava palestras.

Outra parte significativa na vida de Angelou é sua carreira como ativista. Ela era ativa no Movimento dos Direitos Civis e trabalhou com Martin Luther King Jr. e Malcolm X.

Um dos pontos altos da carreira da poeta foi quando ela recebeu o Grammy de melhor texto recitado pela sua leitura, após ler seu poema On the Pulse of Morning, na tomada de posse de Bill Clinton como presidente, em 1993. Em 2011, Barack Obama, então presidente dos EUA, a condecorou com uma medalha presidencial da liberdade — a mais alta honraria concedida pelo governo americano a civis.

Apesar de ter tido apenas um filho biológico, Angelou teve muitas “filhas”, como considerava as milhares de mulheres de todo o mundo que a viam (e ainda a vêem) como referência e fonte de inspiração. Uma dessas “filhas” é a apresentadora e empresária Oprah Winfrey. E, pensando nos recados e mensagens que lhe enviou por décadas, decidiu escrever o livro Carta à minha filha: um legado inspirador para todas as mulheres que amam, sofrem e lutam pela vida (Letter to My Daughter, no original) (2008).

Na manhã de 28 de maio de 2014, Angelou foi achada morta por sua enfermeira aos 86 anos. Apesar da saúde frágil, ela estava trabalhando em outro livro autobiográfico sobre suas experiências com líderes nacionais e mundiais.

Durante seu memorial na Universidade Wake Forest, seu filho afirmou que, mesmo com constantes dores devido à insuficiência respiratória, Angelou havia escrito quatro livros durante o último ano de vida.

O último livro publicado pela escritora foi Mamãe & Eu & Mamãe (2013) (Mom & Me & Mom, no original). Assista ao documentário Maya Angelou, e ainda resisto (2016), na Netflix, que conta mais sobre a vida da escritora, narrada por ela mesma.

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A versão original dessa matéria foi publicada em 4 de abril de 2019. Para se inscrever e receber um e-mail nosso todas as quintas-feiras, clique aqui.

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