Mãe (não é) tudo igual

Marie Curie News
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9 min readMay 16, 2019

Filmes que mostram diferentes maternidades

Tanto cinema como séries, novelas e outros formatos de mídia costumam nos contar a história da “Mãe Ideal”. Aquele ser que já sai da sala de parto com uma cara ótima, não se vê em outro papel que não o de progenitora e enfrenta os desafios de formar um ser humano sempre com um sorriso no rosto e uma frase sábia, dita no momento certo.

Não que essa mulher não exista. Pode ser que você conheça alguém que se encaixa em boa parte dos pontos que mencionamos acima — ou até mesmo em todos. O problema é que, ao mostrar apenas essa filosofia de maternidade, a impressão transmitida é de que esse é o único caminho “certo” de comportamento, não levando em conta os desafios de se adaptar a uma nova rotina, o estresse que em geral ocorre com a amamentação e a privação de sono. E isso só no começo.

Nas últimas décadas, porém, foram lançados alguns títulos que também apresentam outras realidades vividas por mulheres que lidam com o fato de que terão uma criança — e como tentam conciliar esse novo papel na vida que já existia.

Aos 16 anos, Juno MacGuff engravida do melhor amigo e tem uma certeza: não quer ser mãe. Após avaliar as opções, ela decide encaminhar o bebê para adoção e acaba encontrando Vanessa e Mark Loring, que se oferecem para adotar a criança.

Apesar de o filme ter uma pegada leve, ele apresenta os problemas enfrentados pela protagonista por ter engravidado na adolescência, desde o julgamento de quem é mais velho até o bullying velado na escola, além de outros temas mais delicados que surgem por conta de sua relação com a família da criança que ela espera. Mas também existem bons momentos, em geral proporcionados pelo pai, que a apoia durante o processo.

O longa também mostra a evolução de Vanessa, que muda de vida mais do que a gente poderia imaginar ao se preparar para a chegada do seu bebê.

Lançamento: 2008 | Tem livro? Não

Eva Khatchadourian gostava da vida que tinha. Era dona de uma editora especializada em guias de viagem — criada e montada por ela mesma –, tinha uma boa renda e estava em um relacionamento que a fazia feliz. Até o momento em que seu parceiro desejou ter um filho. “Bem, por que não?”, foi a conclusão a que ela chegou. E, alguns meses depois, nascia Kevin.

Tanto o livro que originou a obra quanto o filme abordam uma situação extrema que não vale mencionar aqui. Mas escolhemos incluir essa história porque, do nascimento de Kevin aos seus primeiros anos de vida, a trajetória de Eva é bem parecida com a de muitas mães.

Eva não fazia ideia de como ser responsável por uma criança é um trabalho extremamente exaustivo e, na maioria dos casos, solitário. E, apesar de sua relação com o filho nunca ter sido um conto de fadas, poderia ter sido bem melhor se ela tivesse conhecido alguém que sugerisse que havia outros caminhos a se percorrer.

Lançamento: 2012 | Tem livro? Sim, olha o link

Beverly nasceu nos anos 50 e sonhava em se mudar para Nova York e estudar Literatura para se tornar escritora. Mas seu destino tomou outro rumo quando, aos 15 anos, engravidou do namorado e foi obrigada pelos pais a se casar e abandonar os estudos.

O filme acompanha desde o nascimento de seu filho, Jason, até sua chegada à adolescência. Não é difícil se reconhecer na história da jovem: por ser mãe muito nova e sem rede de apoio ou estrutura para recorrer a uma babá ou uma creche, Beverly enfrenta uma oposição bem forte para continuar os estudos enquanto cria seu filho.

Fica na cabeça uma cena em que ela precisa comparecer a uma entrevista com o diretor de uma escola e leva o filho junto — por conta disso, acaba reprovada.

Sem falar que a protagonista ainda precisa lidar com a irresponsabilidade do marido, que vai se tornando cada vez menos presente na vida dela e da criança. Apesar desse contexto não muito animador, a trama tenta abordar esses problemas de uma forma mais otimista e é muito focada em como Beverly supera esses e outros desafios que surgem pelo caminho.

Lançamento: 2001 | Tem livro? Sim, olha o link

Ambientada no início da década de 80, a obra conta a história de Mary Griffith, uma cristã da Igreja Presbiteriana que cria os quatro filhos dentro dessa comunidade. Sua vida muda ao descobrir que Bobby, seu segundo filho, se afirma como gay — um posicionamento totalmente contrário às crenças de sua religião. Ela passa, então, a querer mudar o filho, alegando que a sua condição é um pecado e que jamais irá aceitá-lo “como um gay”.

Baseado em uma história real, o filme aborda a importância de se adotar uma postura empática para entender a vida e as dores do outro — e como conhecer realidades diferentes da sua pode se transformar em uma experiência humanizadora. Em maior ou menor grau, essa é uma lição que faz parte do aprendizado de ser mãe.

Lançamento: 2009 | Tem livro? Sim, mas só em inglês. Se ajudar, olha o link

Anna Fitzgerald é a filha caçula de Sara e Brian e irmã de Kate. Ela nasceu por meio de fertilização in vitro e com um propósito bem definido: auxiliar no tratamento da irmã, que sofre de leucemia promielocítica aguda. Ao longo dos seus 11 anos, ela foi a doadora de sangue e tecidos que ajudaram a manter a qualidade de vida de Kate. Mas um problema de saúde mais sério vivido pela irmã mais velha fará com que Anna comece a pedir mais autonomia.

Apesar de a história focar no relacionamento entre as duas irmãs, é interessante ver o arco vivido pela mãe, Sara, ao buscar o tratamento e uma boa expectativa de vida para sua filha mais velha.

Ela quer que a primogênita consiga ter as mesmas experiências que uma garota adolescente e, por conta do seu desejo de buscar uma cura, acaba não prestando atenção no que Kate precisa no presente.

Sim, é preciso ter um lenço em mãos para assistir a esse longa. Mas ele apresenta pontos bem interessantes sobre encarar a individualidade dos filhos.

Lançamento: 2009 | Tem livro? Sim, olha o link

Em 1959, a especialista em chocolates Vianne Rocher e sua filha, Anouk, chegam à cidade fictícia de Lansquenet-sous-Tannes. Ao abrir sua loja de doces, Vianne acaba levando um estilo de vida mais leve e divertido para a conservadora vila, ajudando a unir famílias que estavam separadas e até proporcionando mais independência e empoderamento para algumas das mulheres que viviam relacionamentos abusivos.

Vianne possui uma relação bem próxima com sua filha e até mesmo com a sua mãe — que, apesar de já estar morta no começo do filme, é retratada por meio de uma urna com cinzas e constantemente lembrada pela dupla. A gente sabe que esse trecho pode soar um pouco estranho, mas faz bastante sentido e é bonito dentro da história. É uma história leve e muito boa para se assistir quando você precisar recuperar um pouco da fé na humanidade.

A forma como a mãe trata a filha, respeitando suas decisões e levando em consideração suas opiniões sobre as pessoas e a própria vila em si, é um bom exemplo de relacionamento que poderia ser replicado não apenas nessa dinâmica. Claro que a protagonista comete erros ao longo do caminho e está longe de ser perfeita. Mas, ao se mostrar humana e também incentivar esse sentimento em Anouk, consegue desenvolver um laço bem forte com ela.

Lançamento: 2001 | Tem livro? Sim, olha o link

Famosa principalmente por retratar a desigualdade social, a produção brasileira também tem seu valor por mostrar uma relação de mãe e filha que, apesar de afetada pela distância, mantém uma ligação muito forte que vai se reestruturando durante as quase 2 horas de duração.

O longa conta a história da pernambucana Val, que trabalha há mais de 10 anos na casa de Bárbara e José Carlos como babá do filho deles, Fabinho, e depois como empregada doméstica. Sua filha, Jéssica, fica aos cuidados do avô quando Val vai tentar a vida em São Paulo. Ela sempre sustentou a filha, mas sofre porque não consegue viajar para vê-la com a frequência desejada.

Acontece que, após concluir o Ensino Médio, Jéssica entra em contato com a mãe e pede para morar com ela, argumentando que gostaria de ter a chance de estudar em uma universidade pública de São Paulo. E é assim que as duas retomam a convivência, com a filha dividindo o quarto dos fundos com a mãe.

No início não é simples: o temperamento de Jéssica é completamente oposto ao de Val, que se acostumou com seu papel de coadjuvante na família. Mas a vontade da filha de mostrar que existem outras perspectivas de vida, junto com o amor que uma sente pela outra (além de uma reviravolta no roteiro que não vamos ser estraga-prazeres de contar), acaba transformando essa relação.

Lançamento: 2015 | Tem livro? Não

Bônus

Um oferecimento de

Madeline Mackenzie e Celeste Wright moram em Monterey, nos EUA, e viraram amigas pois seus filhos estão no mesmo ano ano escolar. As duas acabam fazendo amizade com Jane Chapman, que acabou de chegar à cidade, e a série gira em torno dos problemas enfrentados pelo trio e as descobertas que elas vão fazendo ao longo dos episódios.

Além da história principal ser bastante envolvente, a relação das protagonistas com seus filhos também chama bastante atenção. Madeline, por exemplo, está tentando lidar com o fato da filha desenvolver uma relação amistosa com o pai, que a abandonou quando pequena. Jane precisa lidar com as perguntas que seu filho faz sobre o pai, com quem ela ficou apenas numa noite e Celeste tenta fazer com que os filhos gêmeos não tenham contato com o lado violento do seu marido.

É uma história que fala sobre a importância das mulheres se darem apoio e como, quando isso acontece, elas unem forças para enfrentar situações que nem elas imaginavam ser capazes de encarar.

Lançamento: 2017 | Tem livro? Sim, olha o link

PS: só mais uma palavrinha.

Essa é a nossa segunda edição dedicada à maternidade. No total de quatro, que serão produzidas ao longo do mês. Na news da semana passada, contamos o trabalho que dá ser mãe e se manter no mercado corporativo.

Como sempre, contamos com a colaboração de vocês com comentários, críticas e sugestões. Ah, se você conhece alguém que também pode curtir nossos conteúdos, compartilhe!

Marie Curie é uma newsletter que traz conteúdo para mulheres. Toda semana, discutimos algum tema ou trazemos uma entrevista que tenha impacto na maneira como você trabalha, se posiciona e se relaciona com a sociedade.

A versão original dessa matéria foi publicada em 16 de maio de 2019. Para se inscrever e receber um e-mail nosso todas as quintas-feiras, clique aqui.

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