Marielle Semente: Dani Balbi

Na semana que completa um ano do brutal assassinato de Marielle e Anderson a Mídia NINJA apresenta mulheres incríveis que carregam o legado de uma mulher negra, favelada, bissexual e ELEITA.

Mídia NINJA
Marielle Franco
4 min readMar 13, 2019

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Dani Balbi é carioca do Engenho da Rainha, subúrbio do Rio de Janeiro. Sua inspiração maior são as mulheres ao seu redor e a crença de estar do lado certo da história. Com o sonho de ser escritora, Dani estudou Letras mas viu na docência um caminho para mudar realidades e na militância no movimento negro, de mulheres, LGBTI a ferramenta para mudanças sociais profundas.

Candidata à deputada estadual pelo PCdoB em 2018, busca representatividade nos espaços de poder. Confira a entrevista completa com Dani:

O que queria ser quando criança?

Sempre quis ser ficcionista, escritora. Mais tarde, ao ingressar na universidade, me apaixonei pela docência e pela responsabilidade que ela pressupõe.

Como e quando se encontrou com o ativismo?

Ao ingressar no Ensino Médio, aos 15 anos, tomei parte na luta pela manutenção do passe livre estadual para estudantes secundaristas. Desde então atua na mesma entidade, passando pelo movimento negro, movimento de mulheres, LGBTI e sempre em defesa da educação pública.

O que te fez ir para o caminho institucional da política?

O que me levou a pensar na institucionalidade foi a compreensão dos espaços de poder como estratégicos para a luta das ruas, dos movimentos sociais. Na democracia burguesa, esses espaços de agenciamento de políticas públicas têm uma amplitude enorme e impactam diretamente na vida de um contingente enorme de trabalhadoras e trabalhadores, de pessoas que têm suas vidas atravessadas por condicionamentos históricos. Nesse sentido, além de ser ferramenta para a superação das assimetrias pontuais do patriarcado-capitalismo, é indispensável para arregimentar a luta de ideias, pois, a partir da atuação nesses espaços, ativistas comprometidos com a população trabalhadora e marginalizada conseguem demonstrar que as mudanças mais profundas são estruturais.

Quem e o que mais te incentivou e te desestimulou nessa trajetória?

Minhas camaradas de partido, sobretudo nossa dirigente Gabrielle Paulanti, uma das mulheres que mais admiro, pela trajetória, pelo discernimento político, pela coragem, força. Minha mãe, Vera Christovão, exemplo de força e lucidez, e minha orientadora, Eleonora Ziller, comunista histórica, defensora da educação pública, de qualidade, laica e socialmente referenciada. O maior desestímulo vem das condições objetivas da militância, que são a pobreza, a necessidade de dar conta das demandas da vida pessoal e a contradição — falsa contradição — entre a existência subjetiva e as condições históricas.

Quanto mais nós militamos, no entanto, vemos que não há antagonismo, e que a única superação das adversidades que atravessam a existência de uma mulher só pode ser superação real se as soluções forem coletivas.

Já pensou em desistir?

Honestamente, muitas vezes, mas não há como. Depois que nós compreendemos a arena da realidade, que é a luta de classes, a correlação de forças e os condicionamentos que determinam as esferas mais íntimas da vida, a responsabilidade da militância é imperativo cotidiano.

O que a Marielle significou e significa pra você?

Marielle Franco é o maior exemplo de que, “Quando uma mulher preta avança, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Marielle é resultado da nova forma de fazer política, cuja base ainda é o compromisso com a luta de classes, com a população trabalhadora, mas com refinamento de como essas lutas são atravessadas pelo patriarcado, pela situação das mulheres na periferia do capitalismo, do estrato negro em um país que insiste na permanência de dispositivos da escravidão, que expurga, marginaliza e mata pessoas LGBTI’s.

Marielle é o que de melhor nós temos na história recente do país pós ruptura democrática. Marielle é o único caminho possível para a superação da barbárie.

Quem são seus aliados e quem são seus inimigos?

Meus aliados são as trabalhadoras e os trabalhadores, as mulheres, o povo negro, a população LGBTI e todos que têm compromisso com o estado democrático de direitos, o alargamento do conceito de democracia com reparação histórica e justiça social. Meus inimigos são aqueles que tentam nos deslegitimar e deter justamente por que são inimigos das nossas demandas.

Do que você tem medo?

Medo de que um dia todos nó percamos as esperanças. Por isso acredito que a nossa luta precisa sempre incluir um horizonte de esperança.

Nós temos urgência em sermos plenos, felizes, inteiros. Por aí avança a classe trabalhadora.

Você já recuou por medo?

Não lembro de ter recuado. Mesmo quanto sinto muito medo, pego emprestada a coragem das camaradas que estão nas trincheiras comigo. Nós nos retroalimentamos e nosso tamanho se multiplica. Então avançamos em segurança.

O que te motiva a seguir em frente?

A certeza de que estamos do lado certo da história. A crença que o capitalismo e as injustiças e violências que ele engendra não podem durar para sempre. A esperança na força da classe trabalhadora. A convicção de que, nos momentos limítrofes, nós acharemos o caminho da unidade e, então, triunfaremos sobre os algozes da democracia.

Se você pudesse mandar um recado pra Marielle hoje, o que você falaria?

Obrigada por ser tão grandiosa, obrigada pela coragem, pela retidão que nos guia. Obrigada por continuar dentro de todas nós e nos fazer seguir em frente.

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