O fascismo nos dias atuais

Por Marina Verenicz e Fernanda Patrian

Marina Verenicz
Marina Verenicz
5 min readFeb 5, 2019

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Nos últimos dias o termo fascismo foi usado exaustivamente. Para explicar o que foi o regime fascista e como isso se assemelha à situação atual do Brasil, o Labjor FAAP entrevistou o Professor Ravy De San Juan

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Nesta sexta-feira (26), dois dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, foram tomadas, em nove estados da federação, decisões judiciais visando coibir supostas propagandas eleitorais irregulares em instituições de ensino pelo país.

No meio da semana, na quarta feira (24), o TRE de Minas Gerais determinou que a Universidade Federal de São João Del Rei retirasse a nota do seu site oficial em que a instituição afirma “seu compromisso com os princípios democráticos”, ao mencionar cotas no vestibular e o uso do nome social para pessoas trans.

Ao longo do dia, foram 17 intervenções da Polícia Federal para retirada desse conteúdo das faixadas das universidades. Na maioria dos casos, essas manifestações continham a palavra “antifascismo”. Tais manifestações foram consideradas pela Justiça Eleitoral como contrárias ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

Cabe ressaltar que na maior parte dos casos o nome do candidato do PSL não é mencionado nas faixas atribuídas às manifestações. No entanto, ainda assim, foram consideradas pela Justiça Eleitoral como propaganda eleitoral irregular a favor do candidato do PT ao Palácio do Planalto, Fernando Haddad.

A fim de esclarecer as dúvidas que pairam sobre o termo “fascismo”, bem como entender o porquê do uso desse adjetivo durante a corrida presidencial de 2018, o LabJor FAAP entrevistou o professor de história, formado em ciências sociais pela UNESP e mestrando em Educação: História, Política e Sociedade pela PUC/SP, Prof. Ravy De San Juan.

“Uma das coisas que o nacional socialismo de Hitler fez foi lidar com três elementos fundamentais que a gente pode perceber que estão em alta, até mesmo no Brasil, presente nessas eleições: Propaganda enganosa, ódio e violência. (…) O que eu percebo hoje no Brasil é que esses três elementos estão presentes nos discursos da extrema direita como estavam presentes na Alemanha naquele momento [durante a Segunda Guerra Mundial]”

- Ravy De San Juan

Nos dias que se seguiram ao primeiro turno do pleito, houve um crescimento do número de relatos de episódios de violência e agressões verbais ou físicas em diversos estados do país.

Ainda na madrugada de segunda-feira (8), o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, foi esfaqueado em Salvador. Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública do estado, o suspeito do crime reagiu com violência após ouvir o mestre de capoeira afirmar que havia votado no candidato petista.

Em posts nas redes sociais, a servidora pública Paula Pinheiro Ramos Pessoa Guerra, declara ter sido agredida no domingo, dia 07 de outubro, em um bar por estar usando adesivos do Ciro Gomes e bottons com os dizeres “Ele Não”, em menção ao candidato Jair Bolsonaro.

Em depoimento policial, Paula disse ter sido espancada por uma mulher no bar localizado na zona norte do Recife, após uma discussão de cunho político entre ela e um amigo com a agressora e dois homens que a acompanhavam.

Outros episódios ainda estão em fase de investigação, mas de acordo com as vítimas, as agressões que envolvem socos, golpes, xingamentos têm motivações políticas ou eleitorais.

Sobre os diversos casos de violência relatados nas últimas semanas, o professor de história comenta: “percebo que os discursos utilizados, por exemplo, pelo Jair Bolsonaro, são discursos que incentivam a violência. Isso serve como um impulso para grupos que estão dentro da sociedade brasileira e são autoritários e violentos.”

No último dia 15, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Horbach determinou a retirada do ar de links e posts nas redes sociais com a expressão “kit gay”, usado pela campanha de Jair Bolsonaro para atacar o candidato do PT, Fernando Haddad.

O candidato do PSL afirmou durante todo o período eleitoral que o governo petista havia distribuído à rede pública de ensino, por meio do Ministério da Educação, sob o comando de Haddad, o livro “Aparelho Sexual e Cia”. O livro faria parte do projeto “Escola sem Homofobia”. No entanto, o referido livro nunca foi distribuído, bem como o projeto não chegou a ser executado pelo MEC.

Na decisão do TSE, o ministro relator assinalou que “a difusão da informação equivocada de que o livro em questão teria sido distribuído pelo MEC (…) gera desinformação no período eleitoral, com prejuízo ao debate político, o que recomenda a remoção dos conteúdos com tal teor”.

O resultado da decisão foi a derrubada de cerca de 100 links originais e mais de 146 mil compartilhamento com o alcance de aproximadamente 20 milhões de visualizações.

Para esclarecer a origem do termo, o professor de história Ravy De San Juan, define o fascismo como um movimento que “nasce no período pós primeira guerra mundial, período em que o capitalismo está enfrentando uma profunda crise por conta do pós guerra, e surge em países que saíram prejudicados sobretudo no final da guerra: Alemanha e Itália. (…) Durante a década de 20, a Alemanha vai enfrentar crises inflacionárias gigantescas, o que vai fazer com que haja um caos social muito grande. Dentro desse caos social, pode-se dizer que existiu um nascimento de ideias que vão procurar se aproximar das massas que estão desamparadas nesse momento para conseguir apoio popular e chegar o poder.”

No vídeo abaixo você pode conferir a explicação completa do professor.

Questionado sobre o como o fascismo e o nazismo podem se assemelhar com o momento atual em que o Brasil está vivendo, Ravy afirma:

“É muito difícil fazer um paralelo direto da Alemanha na década de 30 com o Brasil em 2018, eu acredito que as condições não são necessariamente as mesmas. Mas de fato, existe por grande parte da população brasileira uma descrença dentro das instituições democráticas e isso é uma coisa que acontecia na Alemanha na década de 30”.

— Ravy De San Juan

Sobre o crescimento dos grupos de extrema direita, o professor explica que “os discursos de extrema vem em momentos de fragilidade da democracia”.

Quando questionado se a democracia brasileira corre riscos, o professor foi enfático em afirmar:

“Eu acho que a democracia está sempre em risco porque você tem que estar sempre fazendo a manutenção dela”.

— Ravy De San Juan

Para assistir a entrevista completa, clique aqui, ou acesse a playlist abaixo.

Reportagem publicada originalmente na terceira edição da revista eletrônica do LabJor FAAP em 27/10/18.

Marina Verenicz é advogada, estudante do curso de jornalismo na FAAP e Editora Executiva do LabJor FAAP.

Fernanda Patrian, estudante do curso de relações públicas na FAAP e repórter do LabJor FAAP.

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Marina Verenicz
Marina Verenicz

Jornalista formada em Direito. Em um relacionamento sério com a política. Missão: desmistificação.