NÓS

Marivaldo Lima
marivaldolima
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2 min readAug 3, 2020

“Não é bom que o homem esteja só […]” Gn 2:18

“Não é bom que o homem esteja só; […]” Gn 2:18
Photo by Jeremy Bishop on Unsplash

É comum passar um dia todo sem, ao menos, colocar os pés fora de casa. Faço isso com frequência. Assisto a vídeos, filmes, séries; compro algo para comer; jogo um pouco; ouço muita música. Entretenimento não falta, nos nossos dias.
Há um senso comum — errôneo, minha opinião — de que o espaço preenchido com as formas de interação online supre as relações interpessoais, a falsa ideia de que o contato direto com as pessoas não é uma obrigação. Claro, não há ninguém aí fora dizendo que as pessoas não precisam se encontrar, mas, se observarmos com atenção, os nossos dispositivos móveis e seus aplicativos têm, sutilmente, “substituído” o nosso próximo.

Um estudo mostrou que 40% dos jovens, entre 16 e 24 anos, admitiram sentirem-se sozinhos frequentemente. E mais, os que denotaram sentirem-se sozinhos foram os que tinham uma grande quantidade de amigos no Facebook. A grande força que há na tecnologia como uma entidade redentora - que conecta as pessoas, aproxima a distância -, vista por um prisma analítico, crítico só revela o antagonismo entre as relações interpessoais reais e virtuais.

Eu, certo dia, tive a sensação, após uma chamada de vídeo com um grande amigo, que aquele encontro não tivesse acontecido. É como se vivenciasse uma experiência numa escala de afeição tão rasa, que quase não existira. Quando parei para pensar, dei-me conta que estava completamente só. Nada substitui o contato real.

Tenho certeza que alguns podem pensar: “eu não sou afetado por esse modo de entender essa situação”. Você é livre para pensar deste modo.

No meu caso, encontrar alguém é desfrutar de uma boa conversa no melhor café da cidade, servidos de um delicioso croissant; é falar sobre Deus desfrutando a brisa da orla da praia próxima a casa do meu amigo, ao fim da tarde; é uma ida ao boliche, despertando o espirito competitivo, fazendo conhecer as habilidades do seu companheiro. O mundo ao redor nos inspira, nos faz soltar a voz e expressar nossos sentimentos ao próximo, coisa que um quarto fechado, certamente, não faria.

Não fomos criados para estarmos só. Há, em nossa essência, partículas do outro; há, no outro, nossas partículas. O nosso próximo saiu do nosso interior. Foi assim que Deus nos fez. (Gn 2:22). Por isso somos afetados pelas relações, a partir das quais, diante de uma mutua reação, nasce, por exemplo, a amizade.

E, sem ela, é difícil viver.

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