Como AI está aprendendo a “ser”

Duda Davidovic
Marketeria
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4 min readDec 14, 2016

Há um final de semana atrás eu estava em uma sala de aula no centro de Londres rodeada de um grupo brilhante de profissionais de várias áreas e indústrias. O desafio era tentar descobrir se os textos reproduzidos no no quiz publicado pelo NYTimes tinham sido criados por máquinas ou humanos. Se você acha que essa foi uma tarefa fácil, está enganado. A turma acertou 70% das vezes, o que me fez refletir sobre um futuro/presente onde inteligência artificial é capaz não só de aprender a nos ajudar, mas também aprender a ser.

Inteligência artificial, ou AI (Artificial Inteligence), parece um assunto digno de ficção científica, muito falado em blogs de tecnologia, mas muito distante em virar algo acessível para nós mortais. Acontece que AI é algo que já está acontecendo embaixo do nosso nariz, e você e eu estamos ajudando a construir e melhorar essa tecnologia.

Pensar em si é um processo de emparelhar informações, e é essa é a mesma arquitetura de um software de AI. Por exemplo, para entender uma palavra falada o sistema precisa saber ouvir todos os fonemas e conectá-los, para entender uma imagem é preciso “ver” cada pixel e o contexto ao redor dele. Acontece que somente uma década atrás um típico processador de computador começou a ser capaz de fazer isso. A criação de um tipo de chip chamado GPU (graphics processing unit) tornou possível uma demanda dos video games: milhares de pixels de uma imagem serem recalculados muitas vezes por segundo. Em 2009, Andrew Ng descobriu que chips GPU poderiam ser usados para rodar network neural de emparelhamento, possibilitando hoje empresas como Facebook identificarem seus amigos em fotos e Netflix fazer recomendações confiáveis sobre o que você deveria assistir baseado no seu gosto.

Kevin Kelly, o homem que previu a internet, conta em seu livro The Inevitable uma conversa que teve em 2002 com Larry Page, fundador do Google. “Larry, eu ainda não compreendo isso. Existem tantas companhias de busca hoje. Pesquisa na internet de graça? Onde isso vai levar vocês?”. Larry Page teria respondido, “Ah, na verdade nós estamos realmente trabalhando com AI”. Isso não te deixa surpreso e ao mesmo tempo pensando “tão óbvio!”?. Mais de uma década depois o Google começa a comprar empresas focadas no desenvolvimento de AI como a DeepMind.

Todo dia milhões de buscas são feitas no Google alimentando seu AI e ensinando como as pessoas buscam e se comportam. Na verdade todo dia usamos aplicativos que ajudam AI a aprender e se aperfeiçoar. Com big data e algoritmos cada vez melhores para compreender e aprender, AI está se tornando cada dia mais possível. Por exemplo, Google Photos é capaz de reconhecer seu rosto, lugares e apresentar um resultado quase como um feitiço para uma busca como “foto férias Roma”. Todo o dia brincamos com gadgets do Snapchat enquanto na verdade estamos ajudando um super mecanismo de AI a reconhecer nossos rostos. Você pode desenhar qualquer coisa no programa do Google chamado Quick, Draw! e um neural net é capaz de adivinhar o que você está desenhando. Nós alimentamos todos os dias máquinas com toneladas de informações e ensinando elas tudo sobre nós humanos.

Em um artigo da revista Wired, Arati Prabhakar, diretora da DARPA conta como seu projeto de AI é capaz de ler artigos científicos sobre um determinado tipo de câncer e todos os dias apresentar tudo o que foi aprendido, gerando hipóteses de como atacar a doença com base em métodos já inventados. AI é capaz de ver e aprender possibilidade que nós não seríamos capazes, acelerando o passo de inovações e descobertas em várias áreas como na saúde.

Prabhakar fala sobre como as máquinas evoluíram passando de máquinas que “nos ajudam a fazer”, para máquinas que “nos ajudam a pensar” e agora máquinas que “nos ajudam a ser”. Não acho que as máquinas nos substituirão, mas sim criarão tipos de inteligência e velocidades de pensamento que hoje não somos capazes. AI será capaz de promover “artificial smartness”, segundo Kelly. Elas aprenderão conosco e serão capazes de produzir versões de inteligência que hoje não somos capazes de produzir pois as mesmas não fazem parte da “essência humana”.

Daqui há um tempo AI estará tão presente no nosso dia a dia que nós não seremos capazes de dizer qual sua forma ou o que é o que não é!

Olhamos nós, seres digitais, conectados e tecnológicos vivendo 2017 como um ano que parece que tudo já foi inventado e testado. Imagine daqui há 30 anos quais serão as possibilidades. Em 2050, a geração que tiver a sorte de viver esse tempo tempo, olhará para a nossa versão 2017 e falará: “Que sorte que eles tinham, quase nada tinha sido inventado ainda”. É verdade! Nós vivemos hoje um tempo onde tudo começa a ser possível, mas quase nada ainda foi explorado.

Sorte?

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Duda Davidovic
Marketeria

‘Lead the Change’ is my mantra. I am a researcher, keynote speaker, and facilitator of digital transformation and innovation.