Marketing na política

Juliano Rigatti
Content Marketing
Published in
3 min readOct 21, 2014

Pergunto a vocês: até quando o marketing na política significará o inverso da verdade?

Importante a reflexão do texto abaixo, quando questiona a importância do papel do jornalista na mediação dos debates. Concordo que seja um papel fundamental. É o mesmo que possui este profissional ao mediar os fatos do nosso dia-a-dia. É ele que reflete o cotidiano, o empacota e nos entrega com o máximo de objetividade, com a imparcialidade que é possível.

Mas o jornalismo já está consagrado. E o marketing? Não há conteúdo nos planos de governo desses candidatos — ou não há público interessado nisso — que os seus marqueteiros precisam ser “reduzidos a adjetivos como manipuladores, autoritários e mentirosos”?

Dá um bom debate.

Candidatos à Presidência da República, Aécio Neves e Dilma Rousseff, participaram de debate promovido pelo SBT Crédito: Divulgação/Marcos Fernandes/Coligação Muda Brasil

Imagem e reputação

O jornal O Estado de S. Paulo trouxe na quinta-feira 16, um artigo do jornalista e professor da ECA-USP Eugênio Bucci, no qual ele fez considerações importantes sobre como o atual formato dos debates de candidatos à Presidência da República nas emissoras de televisão optou por ser totalmente guiado pelo marketing político, deixando de lado o bom e velho jornalismo.

“Há dois anos, quando tivemos as eleições municipais, o mesmo problema se manifestou. Progressivamente, alguns dos nomes mais respeitáveis da imprensa nacional foram reduzidos a mestres de cerimônias. Tiveram de renunciar ao direito (ou mesmo dever) de questionar os debatedores. Agora em 2014, a coisa piorou. O saldo geral dessa rendição irrefletida e generalizada foi ao ar, escancarado, na terça-feira à noite. Os dois candidatos manipulavam cifras à vontade. Quanta desfaçatez! Impossível saber qual dos dois distorceu mais. O eleitor que se virasse sozinho entre todas aquelas distorções. Não podia contar com ninguém para esclarecer números, sentenças, dados históricos. Num teatro mais absurdo que o mais absurdo do teatro do absurdo, o mesmo tribunal que Aécio invocava para se dizer consagrado, Dilma citava para declará-lo condenado. Valia tudo no duelo entre dois monólogos de duas alucinações egoicas”, escreveu Bucci referindo-se ao debate da Band, que foi ao ar dois dias antes.

Essa reflexão faz todo sentido em uma sociedade que avança no exercício da democracia reconquistada há apenas 29 anos. E coloca luz à força cada vez maior que o marketing político assumiu no processo eleitoral. Época de eleição é aquele período em que publicitários e profissionais de marketing de qualquer setor de atuação são reduzidos a adjetivos como manipuladores, autoritários e mentirosos. A imprensa, por outro lado, vive o desafio de continuar exercendo o seu papel histórico em uma sociedade democrática de questionar o poder, confrontar ideias e esclarecer a opinião pública. Para isso, tem de lidar com a blindagem crescente dos marqueteiros nos seus candidatos, em meio à histeria coletiva e perversa das redes sociais, e encontrar um ponto de equilíbrio que reforce sua relevância.

A dicotomia entre o marketing nas campanhas eleitorais e o papel da imprensa nesses processos está no cerne de duas dimensões da construção das marcas — sim, os candidatos, embora sejam pessoas, lançam mão de estratégias de comunicação que vêm da publicidade mercadológica. A propaganda lida com o nível da construção da imagem e, em um país onde o meio dominante é a televisão, essa dimensão tem um peso avassalador. Por sua vez, a atividade que interage com os jornalistas é a de relações públicas, cuja função básica é construir reputação. E um dos principais atributos dessa disciplina é estabelecer diálogo com os diversos públicos de interesse da marca ou do candidato em questão. No entanto, o modelo atual das campanhas não deixou nenhum espaço para o diálogo nem para a discussão de projetos e propostas. A despeito de hoje o público ter muito mais poder e canais para se expressar, o uso que as pessoas, em geral, estão fazendo das redes sociais nesta campanha eleitoral se reduziu a um debate preconceituoso, irracional e raso. Como consequência, o que temos visto nestas eleições é a imagem se sobrepondo à reputação e se valendo para isso de manipulações de parte a parte e de truques de retórica.

Este editorial faz parte da edição 1632 do Meio & Mensagem, com data de 20 de outubro de 2014.

Originally published at Blog da Regina — Meio e Mensagem on October 20, 2014.

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