Percurso em Educação
(trans)formação de (auto)educadores para os tempos atuais.
Em 2016, entusiasmadxs com as iniciativas que acontecem por aqui, organizamos um grupo de estudos.
Os encontros foram inspirados pela leitura de trechos de livros e artigos. Buscamos enfrentar questões ligadas à educação, construindo caminhos de ação e transformação.
Para centralizar informações e conversas, criamos o grupo virtual “MARÉ — Movimentos Ações e Reflexões sobre Educação”.
E agora, terminado o percurso, resolvi organizar este índice dos temas e textos que nos guiaram ao longo dos encontros. Acredito que possa ser útil para outras pessoas interessadas no assunto.
O percurso foi pautado por uma ideologia essencialmente humanista. Portanto, esta série de temas e referências pode ser interessante especialmente para que tem fé no potencial da “natureza humana”.
1. Os Sistemas Escolares
Como ponto de partida, discutimos o papel dos sistemas escolares como produto e ferramenta do sistema econômico vigente e dos estados autoritários.
Michel Foucault fala das relações de poder, traçando um paralelo entre escolas, hospitais, presídios e corporações militares. A partir de suas ideias, vemos que boa parte do que chamamos de “educação” poderia ser chamado de “adestramento”:
Para conhecer um pouco mais as ideias de Foucault, vale a pena assistir o documentário “Foucault contra si mesmo”.
Vimos também como Leon Tolstoi, já em 1862, apontava as contradições dos sistemas escolares compulsórios e coercitivos:
Seguindo nessa linha, conhecemos então um pouco das ideias de Paulo Freire sobre o papel do professor e a relação entre opressores e oprimidos:
E para contextualizar melhor nossa conversa sobre as diferentes correntes pedagógicas, tivemos contato com alguns trechos em que Demerval Saviani resume a evolução histórica das práticas e teorias da educação:
2. O Pensamento Sistêmico como base teórica
Na segunda parte conhecemos algumas ideias e princípios da visão sistêmica, que ajudam a compreender as experiências de educação humanista e servem de base para a continuação do nosso trajeto.
Cientistas e autores, em variadas áreas, contribuíram ao longo do último século para o desenvolvimento de uma visão integradora do ser humano e do universo.
Os biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela, criadores da teoria da autopoiese, são referência para vários outros autores do “pensamento sistêmico”.
Conhecemos também algumas ideias do físico Fritjof Capra:
A fundamentação de uma visão sistêmica fornece uma boa base para abordarmos as práticas escolares alternativas.
3. Conhecendo Experiências
Após problematizar os sistemas escolares vigentes e estabelecer o pensamento sistêmico como base teórica, buscamos contato com algumas das principais experiências práticas de caminhos alternativos em educação.
Pudemos contar com a presença, em nossos encontros, de pessoas atuantes em cada uma dessas “abordagens”.
3.1. Pedagogia Waldorf
Nos encontros destinados ao contato com a Pedagogia Waldorf, tivemos a presença de mães, pais e professoras da Escola Waldorf Jardim Primavera de Ubatuba.
Conhecemos um pouco das atividades e rotinas da escola, tendo contato com alguns princípios da educação antroposófica e sua visão integral do ser humano.
Nossa conversa foi inspirada pela leitura da apresentação da Pedagogia Waldorf disponível na página da Biblioteca Antroposófica.
E para conhecermos um pouco das ideias e da linguagem de Rudolf Steiner, criador da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf, lemos trechos do seu livro “Andar, Falar, Pensar” que resume aspectos importantes de sua visão sobre o desenvolvimento infantil.
3.2. Escolas Livres e Escolas Democráticas
Seguimos agora para um contato com as “Escolas Livres” e “Escolas Democráticas”. Algumas pessoas consideram que estes termos seriam sinônimos, outras preferem diferenciá-los.
Há, de fato, muitas diferenças nas formas de organização das escolas dessas “categorias”. Mas todas elas são vivas e reflexivas, ou seja, estão em permanente processo de construção/desconstrução/reconstrução.
Como referências nesta categoria temos: Summer Hill, Escola da Ponte, Amorim Lima, Escola Inkiri, Escola Ayni, entre outras.
Em Ubatuba, algumas escolas municipais também já implementaram projetos pedagógicos alternativos, inclusive com a tutoria de José Pacheco.
Nossos encontros sobre essas experiências pedagógicas tiveram a presença de algumas das educadoras responsáveis pela sua implementação em Ubatuba e foram inspirados pelas seguintes leituras:
3.3. Desescolarização
Em Ubatuba há pelo menos uma dezena de famílias adeptas ou simpatizantes à desescolarização. Pudemos contar com ótimos relatos dessas pessoas em nossos encontros sobre o tema.
Falamos sobre as diferenças entre “ensino domiciliar” (home schooling) e desescolarização (unschooling). Também discutimos os limites entre as “pedagogias alternativas” e os ideais da desescolarização.
Neste tema, a primeira leitura de inspiração foi o clássico de Ivan Illich:
Outra leitura fundamental, que inspira boa parte dos argumentos da desescolarização e da livre-aprendizagem:
Nas conversas sobre desescolarização, sempre mencionamos muito as queridas Carla Ferro e Ana Thomaz.
Neste trechinho, a Carla fala sobre Presença e Confiança:
E neste dá para conhecer um pouco sobre a Ana Thomaz:
Por fim, outra pessoa bastante citada quando falamos em desescolarização é o André Stern:
3.4. Aprendizagem em Rede
Chegamos então à reflexão de como as atuais ferramentas tecnológicas de informação e comunicação impactam os processos de aprendizagem e desenvolvimento humano, dentro e fora da escola.
Uma das inspirações aqui foi este artigo do George Siemens:
Lemos também alguns textos do Augusto de Franco. Conversamos sobre suas ideias da “teoria interacionista” e da “aprendizagem tipicamente humana”.
4. Questões Econômicas — Novos Arranjos
A última parte pensada para este percurso visava tratar de questões econômicas ligadas à educação e, especialmente, de modelos de espaços educacionais independentes, que possam funcionar como comunidades abertas de aprendizagem.
No desenrolar do percurso, as conversas sobre desescolarização nos levaram a pensar na questão da “empregabilidade”. E pensando sobre relações de trabalho fomos chegando aos temas das “novas economias”, das “empresas livres” e dos “empreendimentos do futuro”.
As leituras que nos inspiraram aqui foram textos de: Lala Deheinzelin, Gustavo Tanaka, Alex Bretas, André Camargo e André Silva.
5. Experiências ‘MARÉ-Sendo’.
No final, sentindo a necessidade de outros tipos de interação além das “rodas de conversa”, decidimos experimentar um formato de vivência que resolvemos chamar de MARÉ-Sendo.
Começamos a organizar visitas às comunidades tradicionais de Ubatuba, fazendo isso de forma colaborativa e integrando crianças e pessoas de todas as idades.
Ubatuba tem comunidades tradicionais indígenas, quilombolas e caiçaras que ainda sobrevivem com certo grau de isolamento. Nossa intenção, além de conhecermos melhor sua riquezas e saberes, era colocar em prática alguns dos princípios de convivência e aprendizagem que pudemos discutir ao longo desse percurso.
Na 1ª vivência, em outubro de 2016, visitamos a Aldeia Boa Vista:
Depois, em novembro, visitamos a Comunidade Remanescente do Quilombo do Cambury, onde está localizada a Agrofloresta do Seu Alcides:
6. E agora…
O objetivo deste texto-índice, além de registrar e organizar os principais conteúdos do percurso trilhado pelo “MARÉ” em 2016, é inspirar novas ideias, novos encontros e novas ações.
Temos conversado sobre alguns caminhos a partir daqui, mas ainda não há nada definido. Para os próximos passos, conto com as interações e ideias de todas as pessoas interessadas.
Até breve!