Quem é você além do trabalho?

Más Feministas Podcast
masfeministas
Published in
3 min readMay 2, 2019

Centenas de pessoas morreram por doenças relacionadas ao estresse e fadiga por excesso de trabalho após as últimas eleições na Indonésia. No Brasil, 30 milhões dos empregados no país sofrem com estafa devido a grande carga de trabalho.

Para um artigo do BuzzFeed, a jornalista Anne Helen Petersen classifica os millennials (nascidos entre 1981 e 1996) como geração do burnout.

O que tudo isso significa?

Síndrome de Burnout pode ser conhecida também como a síndrome da exaustão ou síndrome do esgotamento profissional, comum em pessoas que tem sua rotina girando ao redor do trabalho: carga horária excessiva, grandes níveis de estresse e cobranças sobre metas e entregas, inseguranças sobre sua produtividade e desempenho.

Em resumo, a síndrome causa um nível de esgotamento físico e mental tão grande que, mesmo fora do ambiente corporativo, essas pessoas não conseguem se desligar do trabalho ou se envolver com qualquer outro tipo de atividade.

As altas expectativas e baixos salários, que beneficiam as duplas jornadas de trabalho, criam condições ainda mais propensas para o burnout. O caso da geração millennial mostra alguns agravantes, como a competição social ser constantemente reforçada online.

“O trabalho enobrece o homem” — a ideia de viver pelo trabalho ainda é muito comum, assim como a ideia de que para ser bem visto em uma empresa é preciso ficar além do horário, ter entregas muito maiores às solicitadas e ter seu emprego como prioridade. Muitas vezes, ausência para cuidados com a saúde, física ou psicológica, são mal vistas.

Ainda que existam pesquisas que comprovem o contrário, ou seja, que o trabalho em excesso é tão prejudicial para a carreira quanto para a saúde, essa cultura corporativa ainda é estimulada.

Quem nunca ouviu que para irmos além e atingirmos o sucesso, precisamos “trabalhar enquanto eles dormem”? Na China, por exemplo, discute-se a ideia de um sistema “9–9–6”: trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana. Os maiores entusiastas? Grandes empreendedores.

“Deixe-me perguntar a todos: se você não dedicar mais tempo e energia (ao trabalho) que os demais, como conseguirá o sucesso que deseja?” — Jack Ma, fundador da Alibaba.

O filme O Diabo Veste Prada é um retrato de como a situação soa normalizada. Quem não se lembra da personagem Emily repetindo para si mesma que amava seu trabalho, enquanto estava cansada e doente? Ou de como Miranda e Andy vão abrindo mão de suas vidas pessoais em decorrência de seus cargos e status?

Temos nos definido constantemente através do trabalho. Quem somos e quem queremos ser está muito mais relacionado ao que desenvolvemos no horário comercial que aos nossos sonhos e prazeres.

Um ambiente tóxico de trabalho pode desencadear ou se tornar gatilho para crises de depressão e ansiedade. A OMS (Organização Mundial da Saúde) já recomendou que empresas e gestores adotem iniciativas para promover o bem-estar físico e psicológico de seus colaboradores.

Mesmo assim, este tipo de preocupação dentro do ambiente corporativo e até mesmo o acesso ao atendimento psicológico de qualidade ainda é um privilégio.

Neste dia do trabalho é importante que tenhamos este espaço para questionar: o lugar onde você trabalha permite conversas sobre saúde mental? Seu trabalho tem sido sua prioridade, estando até mesmo acima de você?

***

Referências

Indicação

--

--